Três semanas depois da suposta agressão ao treinador do Belenenses, Pedro Ribeiro, no túnel do Jamor, Sérgio Conceição veio finalmente falar do assunto. Para dizer que não agrediu ninguém. Fê-lo com ar descontraído e sorridente, como se fosse uma brincadeira. E o jornalista, subserviente, não lhe perguntou o óbvio: por que esteve tanto tempo calado?
Convenhamos que o desmentido de Conceição é muito estranho. Ninguém, acusado injustamente de agredir outra pessoa, está 20 dias calado. Desmente-a de imediato. E não com ar descontraído mas com ar indignado.
E os factos estranhos não ficam por aqui: por que razão um funcionário do FC Porto impediu Conceição de falar do caso a seguir ao jogo? Não devia deixá-lo esclarecer tudo? O que quis esconder?
Portanto, a questão está longe de estar encerrada.
Acreditando que Conceição não agrediu Pedro Ribeiro, das duas uma: alguém o fez ou o treinador do Belenenses representou um número de teatro.
Toda a gente o ouviu gritar alto e bom som que tinha levado “um soco” – palavra que não deixa lugar a dúvidas. E depois, na conferência de imprensa, toda a gente o ouviu dizer, referindo-se a uma alegada agressão do treinador do Porto, “não confirmo nem desminto” – o que, na gíria, significa ‘confirmo’.
Mas se Conceição está a falar verdade quando agora nega a agressão, e o treinador de Belém foi sincero quando a confirmou, só há uma conclusão a tirar: foi outra pessoa que agrediu Pedro Ribeiro. E essa pessoa só pode ser um responsável do Porto.
Imaginemos que houve uma troca acesa de palavras entre os dois treinadores – e que, no meio da confusão, alguém atinge o treinador do Belenenses. Este convence-se de que foi Conceição – mas o agressor foi outro. E o treinador nortenho não quis esclarecer o assunto para não incriminar uma pessoa do clube.
Só esta hipótese explica os factos que estão à vista: a reação do treinador de Belém, o silêncio do treinador do Porto, o gesto do funcionário que não o deixou falar, o desmentido frouxo de Conceição três semanas depois.
Resta saber, agora, quem foi o agressor. Certamente uma pessoa importante da estrutura do FC Porto – eventualmente um dirigente – para merecer tantos cuidados e tão complicadas manobras de encobrimento…
Já agora, refiro mais dois mistérios, ambos ainda nortenhos: os despedimentos de Sá Pinto e Lito Vidigal.
O primeiro estava a realizar um bom trabalho no Braga. Apesar da má classificação no campeonato, a equipa estava a jogar bem e a fazer um brilharete na Europa.
E o segundo estava a fazer uma magnífica temporada no Boavista, com a equipa num plano que nunca atingiu nos últimos anos.
O que ditou os despedimentos? Só podem ter sido conflitos com os presidentes. E, valha a verdade, Sá Pinto e Vidigal são homens com mau feitio.