24 de Dezembro de 1961. O triste  fim do Afonso de Albuquerque

24 de Dezembro de 1961. O triste fim do Afonso de Albuquerque


Chegavam notícias de Goa, a mais bela jóia do Império Português, arrancada à força dos dedos de Salazar.


Era Inverno, véspera de Natal, mas Portugal estava em brasa. A União Indiana lançara a Operação Vijay (Vitória) e as suas forças armadas tinham entrado em Goa para proceder à anexação do território. A jóia mais bela do Império Português, que se estendia do Minho a Timor, tinha sido arrancada à força do dedo de António Salazar. A palavra de ordem era: “Resistir, resistir sempre, resistir até ao fim!”.

Resistência entregue a alguns valentes soldadinhos lusitanos perdidos na selva a combater uma guerra digna do Shveik de Jaroslav Hasek. Com direito a heróis.

Nessa manhã chegara a Lisboa o último avião procedente do território. TAIP – Transportes Aéreos da Índia Portuguesa. Tudo tinha um peso de História. A tudo era atribuído o peso de um Portugal dono do mundo condenado a desaparecer. O tenente-coronel Solano de Almeida fora o piloto da última aventura. Lançara o aparelho no céu debaixo das maiores dificuldades, assistira ao vivo à batalha derradeira do navio Afonso de Albuquerque, no porto de Mormugão, os seus marinheiros corajosamente ao encontro do poderoso cruzador indiano, o Nehuri, apoiado por três vasos de guerra.

Era um combate perdido. O navio português foi atingido por um obus na ponte de comando, as chamas espalharam-se por toda a parte, foi preciso retroceder, aos ziguezagues, até ficar definitivamente encalhado. Triste destino para um barco que levava o nome do grande Afonso. O tenente-coronel lançava-se no seu relato. De como tudo durou apenas uma hora; as peças de artilharia calando-se desoladoramente; o cruzador disparando sempre numa avidez de destruição; as baixas até aí não calculadas.

Solano de Almeida assistira a tudo lado a lado com o director-geral do Estado da Índia, general Vassalo e Silva, caído em desgraça perante o presidente do conselho. Quantos eram os soldados portugueses em Goa? 2800 metropolitanos; 400 goeses. Trataram de destruir a ponte sobre o Zuari, dificultando o avanço inimigo na estrada entre Margão e Panjim. “Rendição?! Impossível! Nunca Vassalo e Silva tomará essa decisão! Impossível!”.

Vassalo e Silva rendeu-se. Outra opção seria tão estúpida como absolutamente suicida. Salazar não entendeu. Nunca entendeu. Solano de Almeida trazia notícias frescas nessa véspera de Natal tristonha para o Império. Mas alegrava-se por ter procedido à evacuação dos dois últimos aviões, ambos à beira de cair nas mãos do exército de Nehru. Fora vítima de um ataque em voo picado por parte de caças indianos. Saiu ileso.

No momento de deslocar para a rota da sua última viagem, viu como as belas praias de areia branca era bombardeadas a réplicas de canhão, de Palolem a Calangute, e mais a norte, Arambol e Querim. Abriam caminho para o desembarque. Era o princípio do fim…