O debate era sobre o amianto nos edifícios públicos, mas acabou por ficar marcado por um conflito entre o presidente da Assembleia da República e o deputado do Chega. Ferro Rodrigues não quer que André Ventura utilize tantas vezes a palavra “vergonha” nas suas intervenções, mas o deputado considera que “é uma vergonha o que se está a passar no Parlamento”.
Na sua intervenção, o deputado considerou que o projeto apresentado pelos socialistas é “vergonhoso” e que a palavra “vergonha” é a que melhor caracteriza “este Governo e este Partido Socialista”. O presidente da Assembleia da República reagiu à intervenção do deputado do Chega e repreendeu-o por “utilizar a palavra vergonha e vergonhoso com demasiada facilidade”. Para Ferro Rodrigues, a postura de André Ventura “ofende todo o Parlamento”.
Os deputados socialistas aplaudiram o presidente da Assembleia da República. André Ventura levantou-se e pediu de imediato a palavra para defesa da honra. Ainda conseguiu dizer que “um deputado utiliza as expressões que entender legítimas no contexto da liberdade de expressão que lhe é atribuída pela Constituição”, mas foi interrompido por Ferro Rodrigues. “Não há liberdade de expressão quando se ultrapassa a liberdade dos outros que é aquilo que o senhor faz a maior parte das vezes”, disse o presidente do Parlamento.
“É gravíssimo"
O conflito acabou com Ferro e Ventura a falarem ao mesmo tempo. Enquanto se ouvia o presidente da Assembleia da República a dizer que “o debate vai continuar”, André Ventura gritava que “é uma vergonha o que se está a passar” na Assembleia da República.
O deputado do Chega considera que “o que se passou é gravíssimo” e vai pedir uma audiência ao Presidente da República. “Vamos pedir imediatamente ao Presidente da República uma audiência com caráter de urgência sobre a forma como está a ser silenciada a oposição. Está em causa o regular funcionamento das instituições”, escreve, na sua página do Facebook, André Ventura.
“Novamente repreendido”
Ferro Rodrigues recusa alimentar esta polémica e justificou a posição que tomou com o facto de Ventura se referir à atividade da Assembleia da República como “vergonhosa”. O presidente do Parlamento disse ao Observador que “se voltar a fazê-lo será novamente repreendido”.
Já André Ventura, que deu uma conferência de imprensa sobre o assunto, garantiu que não vai “deixar de dizer a palavra vergonha as vezes que entender”, porque o “povo português” é a única entidade que o pode “calar”.
A polémica foi muito comentada nas redes sociais. O ex-deputado do CDS José Ribeiro e Castro escreveu, na sua página do Facebook, que “vergonha é querer proibir que se diga ‘vergonha’”. Para o ex-líder do CDS, a palavra “vergonha não é sequer calão, nem de perto, nem de longe. É apenas algo que falta demasiado”.