Não é regionalização. É arregimentação


Eu sei lá quantas vezes não tentaram já reorganizar o nosso país de acordo com uma qualquer disposição administrativa que só eles percebem, ou se calhar nem eles.


É já longo o historial em torno do debate da regionalização no nosso país e, curiosamente, é sempre recolocado em cima da mesa quando no exercício da governação estão os socialistas, esses mãos-largas inveterados que em média nos mergulham na bancarrota uma vez a cada dez anos. Eu sei lá quantas vezes não tentaram já reorganizar o nosso país de acordo com uma qualquer disposição administrativa que só eles percebem, ou se calhar nem eles, e que mais que não responder às necessidades do país, parece, isso sim, querer responder a quaisquer outras que só a alguns darão necessária e hipoteticamente jeito. Se recuarmos a 1997, já António Guterres, o homem do pântano, apontava para um mapa que deveria passar a ser composto por não sei quantas regiões, proposta que em larga medida, com algumas exceções pontuais, foi reforçada por outras provenientes das bancadas do PC e do PEV, o seu eterno e malfadado apêndice. Chegou mesmo a atingir-se uma confluência de posições que, sendo firmada entre PS, PCP e PEV, pretendia atingir a maioria de deputados necessários para que se aprovasse o diploma, proposta essa que acabou oficializada pela Lei da Criação das Regiões Administrativas (lei 19/98, de 28 de agosto), dividindo o nosso país em oito regiões. Chegávamos por esta altura a 1998 e, com ele, ao referendo sobre a matéria, perante uma abstenção na casa dos 51,71% dos eleitores, o que o tornou, para desgosto dos proponentes de então e ressabiamento dos atuais, um referendo não vinculativo, dado que para sê-lo seria necessário que pelo menos 50% dos eleitores tivessem expressado o seu voto num determinado sentido. Mas para que não digam que só malho numa direção, até Santana Lopes pareceu a dada altura perder a cabeça quando, no seu breve e conturbado pontificado ao leme do país, promoveu uma destrambelhada descentralização ministerial, tendo passado algumas secretarias de Estado para fora da capital. Pois passados vários anos, nos quais, lá pelo meio, passou por Portugal um qualquer espírito faraónico, novamente socialista, que voltou a mergulhar-nos numa secura completa de divisas, veio depois António Costa i, o mago, em janeiro de 2015, defender novamente a regionalização do país, afirmando na altura que caso regressasse ao Governo promoveria a tão desejada descentralização. Esqueceu-se, pensaram muitos. Mas não, enganaram-se. Chegávamos a setembro de 2019, e não fosse a palavra dada palavra honrada, avivou-se a memória do tema. Ergueram-se novamente os estandartes do desnecessário. O que até é curioso, uma vez que o primeiro-ministro, este como todos os socialistas que tivemos, não é dado a reformas estruturais. Apregoa-as, de facto, mas não as promove. Socialismo, portanto. Mas mais: desta vez, nem Marcelo Rebelo de Sousa parece ter escapado ao jogo de cintura de Costa que, sabendo que dificilmente a opinião pública aceitará uma verdadeira regionalização, já contribuiu para que no ar se sentisse uma certa e prévia culpabilização presidencial caso a mesma não aconteça. É a minha sensação perante algumas coisas que li e ouvi, desculpem se não for a correta, mas até mais ver é a que tenho. Lembra-me a velha tática da vitimização. Nunca falha. Com Costa, principalmente, e com o socialismo, então, muito menos. Meus amigos, não tenhamos quaisquer dúvidas: das muitas e prementes questões que Portugal terá de resolver a breve trecho, a regionalização não consta da lista. Quer dizer, num certo sentido. Noutro tem de se encontrar espaço para a máquina, sobretudo esta, que é a maior em quarenta e poucos anos de democracia. Mas então não lhe chamem regionalização. Chamem antes arregimentação.

 

Escreve à sexta-feira

Não é regionalização. É arregimentação


Eu sei lá quantas vezes não tentaram já reorganizar o nosso país de acordo com uma qualquer disposição administrativa que só eles percebem, ou se calhar nem eles.


É já longo o historial em torno do debate da regionalização no nosso país e, curiosamente, é sempre recolocado em cima da mesa quando no exercício da governação estão os socialistas, esses mãos-largas inveterados que em média nos mergulham na bancarrota uma vez a cada dez anos. Eu sei lá quantas vezes não tentaram já reorganizar o nosso país de acordo com uma qualquer disposição administrativa que só eles percebem, ou se calhar nem eles, e que mais que não responder às necessidades do país, parece, isso sim, querer responder a quaisquer outras que só a alguns darão necessária e hipoteticamente jeito. Se recuarmos a 1997, já António Guterres, o homem do pântano, apontava para um mapa que deveria passar a ser composto por não sei quantas regiões, proposta que em larga medida, com algumas exceções pontuais, foi reforçada por outras provenientes das bancadas do PC e do PEV, o seu eterno e malfadado apêndice. Chegou mesmo a atingir-se uma confluência de posições que, sendo firmada entre PS, PCP e PEV, pretendia atingir a maioria de deputados necessários para que se aprovasse o diploma, proposta essa que acabou oficializada pela Lei da Criação das Regiões Administrativas (lei 19/98, de 28 de agosto), dividindo o nosso país em oito regiões. Chegávamos por esta altura a 1998 e, com ele, ao referendo sobre a matéria, perante uma abstenção na casa dos 51,71% dos eleitores, o que o tornou, para desgosto dos proponentes de então e ressabiamento dos atuais, um referendo não vinculativo, dado que para sê-lo seria necessário que pelo menos 50% dos eleitores tivessem expressado o seu voto num determinado sentido. Mas para que não digam que só malho numa direção, até Santana Lopes pareceu a dada altura perder a cabeça quando, no seu breve e conturbado pontificado ao leme do país, promoveu uma destrambelhada descentralização ministerial, tendo passado algumas secretarias de Estado para fora da capital. Pois passados vários anos, nos quais, lá pelo meio, passou por Portugal um qualquer espírito faraónico, novamente socialista, que voltou a mergulhar-nos numa secura completa de divisas, veio depois António Costa i, o mago, em janeiro de 2015, defender novamente a regionalização do país, afirmando na altura que caso regressasse ao Governo promoveria a tão desejada descentralização. Esqueceu-se, pensaram muitos. Mas não, enganaram-se. Chegávamos a setembro de 2019, e não fosse a palavra dada palavra honrada, avivou-se a memória do tema. Ergueram-se novamente os estandartes do desnecessário. O que até é curioso, uma vez que o primeiro-ministro, este como todos os socialistas que tivemos, não é dado a reformas estruturais. Apregoa-as, de facto, mas não as promove. Socialismo, portanto. Mas mais: desta vez, nem Marcelo Rebelo de Sousa parece ter escapado ao jogo de cintura de Costa que, sabendo que dificilmente a opinião pública aceitará uma verdadeira regionalização, já contribuiu para que no ar se sentisse uma certa e prévia culpabilização presidencial caso a mesma não aconteça. É a minha sensação perante algumas coisas que li e ouvi, desculpem se não for a correta, mas até mais ver é a que tenho. Lembra-me a velha tática da vitimização. Nunca falha. Com Costa, principalmente, e com o socialismo, então, muito menos. Meus amigos, não tenhamos quaisquer dúvidas: das muitas e prementes questões que Portugal terá de resolver a breve trecho, a regionalização não consta da lista. Quer dizer, num certo sentido. Noutro tem de se encontrar espaço para a máquina, sobretudo esta, que é a maior em quarenta e poucos anos de democracia. Mas então não lhe chamem regionalização. Chamem antes arregimentação.

 

Escreve à sexta-feira