Depois de, na passada semana, ter ficado afastado definitivamente da Liga dos Campeões (e com a Liga Europa por um fio muito fininho), o Benfica tratou de desperdiçar esta semana a possibilidade de seguir para as meias-finais da Taça da Liga com um trambolhão na serra, vendo-se e desejando-se para não sair derrotado do velhinho Santos Pinto por um Sporting da Covilhã de pelo na venta que deixou às escâncaras as evidentes diferenças entre o onze titular de Bruno Laje e aqueles que fazem o que podem para lá chegar. Mais uma vez, no desespero, foi preciso recorrer aos melhores (neste caso Pizzi, Vinicius e Taraabt) para evitar males maiores. Mesmo que, depois da vitória do Guimarães em Setúbal, a presença no play-off esteja praticamente transformada numa simples quimera. Há que convir que são desperdícios a mais para um conjunto que fez uma aposta forte no mercado. A falta de João Félix e de Jonas (ainda que às pinguinhas) deixou o treinador às aranhas e até agora incapaz de resolver o grave problema que tem entre mãos. Escrevi aqui, na passada sexta-feira, que esta águia de remendos e pouca consistência prometia um tombo para breve. Não era previsível que esse tombo sucedesse na receção ao Marítimo, tão frágil é a equipa do Funchal, mas bastou um adversário agressivo para deixar a pão e laranjas um grupo de jogadores que não foi capaz de mostrar uma ideia de conjunto.
Dezembro vai a meio. O Benfica está praticamente confinado à luz de um título de campeão ao fundo do túnel para que o ano não se torne de frustração absoluta, até porque a Taça de Portugal é, por si só, fraco consolo para quem surgiu no Verão tão cheio de ambições. Hoje, pelas 20h30, vão os encarnados ao Bessa onde mora um Boavista de canela até ao pescoço, algo de terrível para uma equipa que apresenta um meio-campo tão ligeiro. Não seria eu a apostar singelo contra dobrado, como nos livros de Texas Jack, no triunfo categórico de uma águia tão tristonha como a que temos visto até agora. Não restam dúvidas que se exige a Bruno Laje um golpe de asa que ponha o campeão nacional de novo nos trilhos do domínio categórico que apresentou durante toda a segunda volta da última época. Como o próprio fez questão de sublinhar, não é nenhum menino de coro e soma 20 anos de profissão. É bagagem suficiente para entender o que se está a passar com o sub-rendimento de alguns jogadores que tem considerado indispensáveis e tirar proveito, se calhar, de outras opções até agora não tidas em conta. A verdade é que o mês 12 deste 2019 que agora finda fica como o pior da sua carreira como técnico principal do Benfica. A palavra é dele. E terá de erguer a voz hoje à noite.
Mais questões. Do outro lado da Segunda Circular, o outro grande de Lisboa vive igualmente tempos difíceis. A vitória em Barcelos, que se seguiu à derrota em Barcelos, veio dar a sensação que a primeira podia ter sido evitada. Com toda o arcaboiço que muitos anos de futebol lhe dão, Vítor Oliveira caiu na esparrela mais banal. Tratar de depreciar a qualidade dos jogadores leoninos, entusiasmado com o fogacho de um triunfo indiscutível, foi erro crasso na véspera de os ter outra vez pela frente. Com mais ou menos qualidade, qualquer onze do Sporting é melhor do que o melhor onze do Gil Vicente. Bastou puxar-lhes pelo brio para que tal ficasse demonstrado de forma inequívoca. Claro que isto não faz com que os verde-e-brancos dependam de si próprios para chegar à fase decisiva da Taça da Liga, mas limpou-lhe de algum modo a face perante a péssima exibição do passado domingo. Ao receber o Moreirense em Alvalade (domingo pelas 17h30), o grupo de Jorge Silas lutará para não ficar cada vez mais afastado dos primeiros dois lugares e nada mais do que isso, tão grande e tão cavado é o fosso para Benfica e FC Porto. Mas também luta pela construção de uma equipa coesa que não se deixe abater ao primeiro golpe adverso, como tantas vezes tem sucedido.
Lá vai Lisboa… Benfica e Sporting, cada um mergulhado nos seus problemas, cada um entregue ao descontentamento dos seus adeptos. Mesmo que sorriam os benfiquistas por continuarem no comando da Liga, os assobios ouviram-se nitidamente na montanha. E fizeram eco por toda a parte.
Mais forte. Não exibindo o fulgor de há dois anos, o FC Porto de Sérgio Conceição continua a mostrar-se mais forte do que os seus adversários. A forma categórica como ganhou na Luz fez, até certo ponto, esquecer a desgraça do “play-off” da Liga dos Campeões. A vitória em Berna, deixou os dragões na rota da fase a eliminar da Liga Europa. Ou seja, basicamente passará o ano com quatro competições em aberto, se não escorregar numa qualquer inesperada casca de banana, e a atenção estará hoje concentrada no que irá acontecer logo ali ao lado, na Boavista, para que se possam fazer contas para o embate de domingo, no Estádio Nacional, frente a um Belenenses que não se sabe se é Belenenses ou não.
Não restam dúvidas que, e a despeito da farronca do seu presidente, os portistas têm razões para sorrir perante as quedas aparatosas de Benfica e Sporting. Como diz o povo, de Alpendurada e Matos a Macieira de Sarnes, quem ri por último ri melhor e, portanto, não vale a pena arreganhar a tacha, expressão vincadamente nortenha, aliás como o garante Alfredo Mendes no seu livro Porto – Naçom de Falares. Mas é bem melhor andar por aí com um sorriso de orelha a orelha do que de monco caído. Vendo bem, das asneiras alheias não têm os rapazes das Antas culpas.
Por isso, entram, para já, na jornada n.º 13 deste campeonatozinho muito pobre, benza-o o Deus, com o peito feito, talvez saboreando antecipadamente mais qualquer ajudazinha que caia por aí do céu aos trambolhões. Cá estarão para a agradecer.