Os chefes da unidade de Cirurgia do Hospital de Faro informaram, esta quinta-feira, que a partir do próximo não vão estar disponíveis para fazer urgências. Segundo uma carta enviada à administração do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), estes profissionais justificam a medida com “a persistência das atuais, inaceitáveis e degradadas condições de trabalho no serviço de Urgência”.
O diretor do serviço de Cirurgia, Martins dos Santos, garantiu, em declarações aos jornalistas, que esta era uma “posição última”, depois de terem existido várias promessas de melhoria das condições de trabalho.
A presidente do Conselho de Administração do CHUA, Ana Paula Gonçalves, garantiu, no entanto, que o serviço será garantido por um conjunto de 12 médicos tarefeiros, que já “há muito tempo” colmatam as falhas apontadas pelos profissionais.
Segunda a agência Lusa, uma das reivindicações dos chefes de equipa está relacionado com as renumerações, exigindo assim estes profissionais que o pagamento feito aos médicos tarefeiros e aos médicos residentes seja idêntico, visto que, a renumeração “está sujeita a regimes muito dispares”.
Ana Paula Gonçalves disse compreender que os médicos não veja essas diferenças “com bons olhos”, porém, garante que esse problema não está sob a alçada da administração do CHUA, uma vez que “existem regras” diferentes para quem tem vínculo com o hospital e quem não tem.
Para além da questão remuneratória, Martins dos Santos aponta a limitação do espaço e condições para observar doentes, falta de camas para internamento de doetes urgentes e dificuldades no acesso ao bloco operatório como outros problemas que levam os profissionais a não garantir o serviço de urgência a partir de dia 1 do próximo mês.
"Os cirurgiões (…) têm uma única sala onde têm de observar 30 a 40 doentes e têm sistematicamente dificuldade em aceder ao bloco operatório", explicou, acrescentando que, em 32 anos de serviço no Hospital de Faro, a situação “nunca esteve tão má”. Ana Paula Gonçalves admitiu a falta de espaço no hospital, e adiantou que está previsto, no próximo ano, o alargamento do serviço de Urgência.
"O nosso hospital é mesmo um hospital inadequado à tipologia de cuidados que os doentes hoje merecem. Nós isso não escondemos, de maneira nenhuma. Agora, que não está nas nossas mãos, de um dia para o outro, fazer isso, não está", afirmou.
"O que estes médicos estão a fazer é dar um grito de alerta", disse o Bastonário da Ordem dos Médicos, responsabilizando o Ministério da Saúde, que tem "que olhar com outros olhos para esta situação" e tomar medidas para que os médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) sejam pagos de forma idêntica aos chamados tarefeiros.
Segundo Miguel Guimarães, os tarefeiros são contratados à hora por um valor que varia entre os 40 e os 50 euros, enquanto os médicos que estão no quadro dos hospitais ganham entre 12 a 17 euros à hora pelo mesmo serviço.