Na defesa do mundo rural


De há uns anos a esta parte, queiram ser as ideologias urbano-depressivas as que querem vir ensinar à sociedade o que foi, é e deve ser um mundo totalmente distinto do seu. Um mundo que não conhecem. 


Para o dia em que sai este artigo está marcada em Lisboa uma manifestação pela defesa do mundo rural, demonstração evidente de que todos os seus representantes, independentemente do ramo que representem, estão fartos da negligência e do abandono a que a tutela das esquerdas a todos os tem submetido.

Perdoar-me-ão a imodéstia, mas independentemente da dimensão e resultado da mesma, pela proximidade que tenho ao mundo rural, há algum tempo que tenho vindo a alertar que perto estaria o dia em que os alarmes do descontentamento soariam nos céus da capital.

Uns apressaram-se a chamar-me catastrofista, outros preferiram sempre dizer que duvidavam que o setor se unisse. Se, por um lado, não tenho idade para recorrer ao eterno cliché “viam como tinha razão?”, por outro parece-me legítimo utilizá-lo porque é por demais evidente a sufocante perseguição que o setor tem constantemente sofrido. A desvalorização, por vezes até a soberba com que se vem tratando o campo, as gentes do campo, os agricultores, os criadores de gado, os pescadores, os caçadores, os amantes da festa brava e todos os representantes das demais áreas da ruralidade só podem ser encaradas como uma total falta de noção daquilo que representa este universo.

Tenho para mim que quem melhor pode testemunhar da realidade de determinada matéria é quem está perto dela, quem a sente como sua e sobretudo quem dela e para ela vive. É nessa medida incompreensível que, de há uns anos a esta parte, queiram ser as ideologias urbano-depressivas as que querem vir ensinar à sociedade o que foi, é e deve ser um mundo totalmente distinto do seu. Um mundo que não conhecem.

De um lado temos os PAN, os Verdes ou os Blocos desta vida a dizer bacoradas. Do outro temos um PS que deles está refém na sua luta pela manutenção do poder, a tudo dizendo que sim. O que eu gostava era vê-los no terreno a falar com quem os pode ensinar. Não a escutá-los a vender a banha da cobra num exercício barato de nova pseudomoralidade. Não esquecerei nunca um episódio vivido na primeira pessoa em que, numa deslocação ao Alentejo acompanhado de um conhecido político da nossa praça, dei com ele a querer explicar-me as valências do setor corticeiro sem, no entanto, ter notado que não estava perante um sobreiro, mas sim uma azinheira.

Os trongos do costume dirão: epá, que exemplo tão ridículo! Estão enganados, meus amigos. Ridículo é tudo quanto hoje se diz acerca do mundo rural. Ridículo é sermos governados por um conjunto de incompetentes e incapazes que, além de não solucionarem os problemas existentes, são proativos na criação de outros. Mas dou outro exemplo; vejo com tristeza a negra campanha que há anos se faz contra o agricultor, querendo transformá-lo aos olhos da opinião pública num subsidiodependente, um bon vivant que goza da suposta fartura que brota das suas herdades.

Se não fossem incompetentes e demagogos, o que deveriam dizer é que os subsídios agrícolas são muitas vezes o único auxílio que permite rentabilizar as explorações, carregadas de brutais e indecorosos impostos. Falem do preço do gasóleo agrícola; falem do que se paga de luz para ter um pivô a regar. Numa expressão de corriqueiro português, o pequeno e médio agricultor safa-se à pele. E o grande não tem como objetivo enriquecer, mas apenas aguentar o esticão. Falem disso, meus senhores.

O mundo rural é, em todas as suas variantes, uma das maiores alavancas económicas do país. Deve, por isso, ser defendido, preservado, ajudado e respeitado, bem como todos quantos continuam diariamente a torná-lo viável, mesmo contra todas as parvoíces e adversidades que são ditas e legisladas.