O todo e as partes


Ano primeiro, ei-lo acabado, trinta e três pontos sacados à terra, que é como quem diz ao asfalto, numa labuta destemida e feita a esquadro e compasso em papel branco, sem dados nem achados do ano anterior, aprendizagem arrecadada por entre corridas no quase perfeito e alguns dissabores trazidos pela incongruência de um desporto que…


Ano primeiro, ei-lo acabado, trinta e três pontos sacados à terra, que é como quem diz ao asfalto, numa labuta destemida e feita a esquadro e compasso em papel branco, sem dados nem achados do ano anterior, aprendizagem arrecadada por entre corridas no quase perfeito e alguns dissabores trazidos pela incongruência de um desporto que nem sempre premeia quem tão certeiro e corajoso batalha.

Na fria e calculista tabela  classificativa, olhando aos números, quatro pilotos mais experimentados, alguns muito mesmo, ficaram atrás de Oliveira, dois deles ostentando no currículo títulos de campeão do mundo, o que prova como por vezes se pode tornar cruel este mundo que ano a ano redesenha suas variáveis para se estar no topo.

Mais, se olharmos ao campo das vicissitudes, por duas vezes  Miguel redimiu sua graça de nascença no que a traições diz respeito, vide o de Vasconcellos, desta feita sendo seu o nome  alvo da ignomínia de semelhante desfecho, Miguel traído não uma mas duas vezes, numa delas lembrando Viriato em sua desdita de fracos companheiros quando por terras de Inglaterra viu o desvario da precipitação partir de dentro de suas próprias cores, a KTM, lançando um desequilibrado Zarco em busca do buraco da agulha perdida quando havia ainda mais de meia fita para correr naquele filme.

Tanto que eu, em minha ignorância nestas coisas, defendi quão absurdo nos saiu o momento de desatino francês, como se quem tendo todo um mês para a pescaria se lançasse ávido numa manhã de nevoeiro na temível Boca do Inferno. Perdoe-se-me toda esta verborreia mas . . atente-se que a partir daquele dia a lesão no ombro foi condicionando todas a prestações do nosso 88, culminando com uma rajada de vento que com tanto sítio e hora para se desembestar logo haveria de escolher o pedacinho de recta por onde Oliveira desfiava em sua amada a trezentos quilómetros por hora.

Tudo dito, o destino mandava descer o pano, inventariar a época e.. preparar 2020, o ano que todos esperamos da consagração.

Já lá vão os dias da chegada aos Mundiais de velocidade, o primeiro pódio, a primeira vitória, as portas que abrem lugar aos vinte melhores do mundo abriram-se e convidam-no agora a ficar.

E se este ano foi de alguma aprendizagem para Miguel, já para mim constituiu a chegada à escola e o encantamento com o ensino. Variadíssimas foram as salas de aula, emocionantes as visitas de estudo que me trouxeram pilotos reais, mecânicos a sério e equipas homéricas em sua batalha numa modalidade tão extraordinariamente bela como incompreensivelmente desdenhada pelos portugueses.

Culpados?

Todos e nenhum.

Por mim falando, nunca será demais agradecer ao meu grupo de marretas cascaenses toda a sua paciência para com este hooligan oriundo do mundo da bola, todas as suas dicas que ensinam a adorar o Dottore, a perseguir o Valentino, a adorar o cerveri Marc, a desdenhar o 93, em manhãs, tardes e noites nas quais um impagável grupo de amigos brinda ao maravilhoso mundo das motas.

Por mim falando, fui neste surpreendente cantinho em que me aventurei escrevendo sobre coisa tão sensível, tão apaixonante e aparentemente tão restrita no nosso País, e digo aparentemente porque abertas as portas à multidão ela haverá de galgá-las e, creiam-me, haverá de perceber o filão de inesgotáveis sensações que estes programas de tanto treino livre, cronometrado e de corridas trazem aos fins-de-semana que começam logo nas sextas-feiras pela fresquinha.

O que fui tentando semear, regar e fazer crescer foi um exército de gentes novas no bairro, como eu afinal,  que se multiplicasse em sua soldadesca, acordada dias e noites, agendando fins-de-semana para a sagrada via das qualificações, grelhas e corridas.

Oliveira, o Congregador.
E nós? 

Sua gente!

Assim acaba, não acabando, o ano, assim começa, ainda que não terminado, o seguinte.

Venha de lá 2020…

 

 

O todo e as partes


Ano primeiro, ei-lo acabado, trinta e três pontos sacados à terra, que é como quem diz ao asfalto, numa labuta destemida e feita a esquadro e compasso em papel branco, sem dados nem achados do ano anterior, aprendizagem arrecadada por entre corridas no quase perfeito e alguns dissabores trazidos pela incongruência de um desporto que…


Ano primeiro, ei-lo acabado, trinta e três pontos sacados à terra, que é como quem diz ao asfalto, numa labuta destemida e feita a esquadro e compasso em papel branco, sem dados nem achados do ano anterior, aprendizagem arrecadada por entre corridas no quase perfeito e alguns dissabores trazidos pela incongruência de um desporto que nem sempre premeia quem tão certeiro e corajoso batalha.

Na fria e calculista tabela  classificativa, olhando aos números, quatro pilotos mais experimentados, alguns muito mesmo, ficaram atrás de Oliveira, dois deles ostentando no currículo títulos de campeão do mundo, o que prova como por vezes se pode tornar cruel este mundo que ano a ano redesenha suas variáveis para se estar no topo.

Mais, se olharmos ao campo das vicissitudes, por duas vezes  Miguel redimiu sua graça de nascença no que a traições diz respeito, vide o de Vasconcellos, desta feita sendo seu o nome  alvo da ignomínia de semelhante desfecho, Miguel traído não uma mas duas vezes, numa delas lembrando Viriato em sua desdita de fracos companheiros quando por terras de Inglaterra viu o desvario da precipitação partir de dentro de suas próprias cores, a KTM, lançando um desequilibrado Zarco em busca do buraco da agulha perdida quando havia ainda mais de meia fita para correr naquele filme.

Tanto que eu, em minha ignorância nestas coisas, defendi quão absurdo nos saiu o momento de desatino francês, como se quem tendo todo um mês para a pescaria se lançasse ávido numa manhã de nevoeiro na temível Boca do Inferno. Perdoe-se-me toda esta verborreia mas . . atente-se que a partir daquele dia a lesão no ombro foi condicionando todas a prestações do nosso 88, culminando com uma rajada de vento que com tanto sítio e hora para se desembestar logo haveria de escolher o pedacinho de recta por onde Oliveira desfiava em sua amada a trezentos quilómetros por hora.

Tudo dito, o destino mandava descer o pano, inventariar a época e.. preparar 2020, o ano que todos esperamos da consagração.

Já lá vão os dias da chegada aos Mundiais de velocidade, o primeiro pódio, a primeira vitória, as portas que abrem lugar aos vinte melhores do mundo abriram-se e convidam-no agora a ficar.

E se este ano foi de alguma aprendizagem para Miguel, já para mim constituiu a chegada à escola e o encantamento com o ensino. Variadíssimas foram as salas de aula, emocionantes as visitas de estudo que me trouxeram pilotos reais, mecânicos a sério e equipas homéricas em sua batalha numa modalidade tão extraordinariamente bela como incompreensivelmente desdenhada pelos portugueses.

Culpados?

Todos e nenhum.

Por mim falando, nunca será demais agradecer ao meu grupo de marretas cascaenses toda a sua paciência para com este hooligan oriundo do mundo da bola, todas as suas dicas que ensinam a adorar o Dottore, a perseguir o Valentino, a adorar o cerveri Marc, a desdenhar o 93, em manhãs, tardes e noites nas quais um impagável grupo de amigos brinda ao maravilhoso mundo das motas.

Por mim falando, fui neste surpreendente cantinho em que me aventurei escrevendo sobre coisa tão sensível, tão apaixonante e aparentemente tão restrita no nosso País, e digo aparentemente porque abertas as portas à multidão ela haverá de galgá-las e, creiam-me, haverá de perceber o filão de inesgotáveis sensações que estes programas de tanto treino livre, cronometrado e de corridas trazem aos fins-de-semana que começam logo nas sextas-feiras pela fresquinha.

O que fui tentando semear, regar e fazer crescer foi um exército de gentes novas no bairro, como eu afinal,  que se multiplicasse em sua soldadesca, acordada dias e noites, agendando fins-de-semana para a sagrada via das qualificações, grelhas e corridas.

Oliveira, o Congregador.
E nós? 

Sua gente!

Assim acaba, não acabando, o ano, assim começa, ainda que não terminado, o seguinte.

Venha de lá 2020…