A transição escolar não deve ser uma certeza previamente estabelecida


Há efetivamente momentos em que não percebo a mentalidade dos nossos governantes, bem como de muitos quantos se sentam nas bancadas parlamentares. Olhando aos disparates que querem instituir como normalidade no nosso país, mais valia que lá não estivessem.


Não estou com isto a dizer que não têm legitimidade para lá estar. Obviamente que têm. O que me entristece é que, no fim de lá chegarem, perdem a completa noção do ridículo, esquecendo assim também a importância da nobre missão que lhes foi confiada; a de diariamente pugnarem por um Portugal melhor.

Ora, não sendo esta discussão uma absoluta novidade, voltou a agigantar-se o debate em torno das avaliações escolares, voltando uma vez mais a terreiro várias vozes que defendem que até determinado ciclo de estudos, as transições de ano devem estar sempre asseguradas. Devem sempre ser vistas pelo aluno como uma certeza previamente estabelecida. Ora, esta ideia é das coisas mais ridículas que um qualquer político pode ousar defender. E digo-o não por embirração pessoal ou ideológica. Digo-o porque é absolutamente ridículo querer passar aos nossos jovens que na vida, independentemente do trabalho que tenhamos e do empenho que em qualquer atividade que façamos venhamos a empreender, o sucesso é sempre uma certeza. Em segundo lugar, é verdadeiramente inadmissível, além de curioso, que muitos dos partidos com assento parlamentar que hoje vêm uma vez mais defender esta parvoíce sejam os mesmos que apregoam aos sete ventos querer instituir uma sociedade assente na meritocracia. Meus senhores, com medidas destas estamos a trabalhar em sentido verdadeiramente contrário. Em terceiro lugar, é igualmente pateta o discurso que ouço muita gente fazer, entendendo que os chumbos representam um fator de pressão sobre os alunos e que a possibilidade da sua existência lhes retira desde logo a simples vontade de estudar. 

É uma patetice pegada. Claro que a possibilidade de chumbo é um elemento de pressão na vida de um qualquer aluno. É e deve sempre sê-lo. No dia em que assim não acontecer, todos os alunos deixam de sentir o peso da responsabilidade que lhes ensina que para se chegar a algum lado na vida é preciso muito trabalho e empenho. Bem sei que estas palavras serão por muitos entendidas como uma qualquer pretensão ou gosto pessoal de ver os alunos deste país a passar mal. Vamos, por favor, deixar-nos de demagogias.

Os alunos de hoje são a sociedade de amanhã. Essa sociedade assentará a sua qualidade, se a tiver, na dimensão da exigência que hoje se lhes direcionar. Não é com ideologias facilitistas que formaremos uma sociedade capaz de enfrentar a dificuldade dos seus tempos e, posteriormente, de ensinar aos que depois de si venham a complexidade da vida. Não obstante, não termino este meu artigo sem referir que se esta palhaçada avançar, então, meus amigos, desta vez é que se acaba de vez com a dignidade e autoridade da função de professor.

No dia em que quisermos transformar os professores em meros transmissores de conteúdos ou matérias, retirando-lhes o poder de avaliação, então, nesse dia, mais vale em seu lugar termos gravadores ou papagaios. Por favor tenham vergonha e não queiram destruir o nosso sistema nacional de educação, o futuro dos portugueses e a função importantíssima que nele têm os professores.