“James Dean to star in new movie”, “James Dean to make a movie return”. E não são fake news, nem, mesmo admitindo-se o piscar de olho ao clickbait, títulos que se possam acusar de sensacionalistas os que começaram a pulular pela internet. Não é sequer uma confusão com James Deen (aquele que se escreve com “e”, o dos filmes porno que em 2013 protagonizou The Canyons, de Paul Schrader, com Lindsay Lohan – e que de qualquer forma não nasceu com esse nome). Não foi também engano motivado por uma reaparição de James Franco caracterizado para o biopic de 2001 de Mark Rydell.
Esqueça-se então aquele primeiro episódio de Crisis in Six Scenes, a recente série de Woody Allen para a Amazon em que, interpretando Sidney J. Munsinger, o realizador-ator dá voltas à vida (e à paciência do seu barbeiro) procurando uma vaga parecença com o ator de Rebel Without a Cause. Porque ele, James Dean, está de volta. É o que escreve a Hollywood Reporter, que confirmou que os realizadores Anton Ernst e Tati Golykh, autores de um par de curtas-metragens que ainda ninguém viu (estão em fase de pós-produção) adquiriram já junto da família do ator que morreu num acidente de automóvel em setembro de 1955, aos 24 anos, os direitos de uso da sua imagem para o filme Finding Jack.
Uma produção da qual pouco se sabe para lá do que trata – um drama passado na guerra do Vietname – e dessa reanimação digital de James Dean, ressuscitado para integrar o elenco desse que será o seu quarto filme. De resto, já anunciado na página de IMDB do ator, que tinha até aqui como última entrada O Gigante, de George Stevens. Um filme protagonizado por Elizabeth Taylor, Rock Hudson e James Dean há 64 anos.
Por revelar está ainda o resto do elenco para a adaptação do romance homónimo de Gareth Crocker que acompanha um soldado que, com a retirada das tropas norte-americanas de território vietnamita, é obrigado a deixar para trás um cão ao qual se afeiçoa durante o conflito (Jack). Mas bastou o anúncio de James Dean, que se fosse vivo completaria em fevereiro próximo 89 anos, para que os realizadores fossem torpedeados com críticas.
“Ainda não foi feito e já soa ao quinto filme a que se assistiria no regresso de um voo de longo curso”, escrevia ontem Stuart Heritage no Guardian. “Realisticamente, os realizadores ficariam mais bem servidos se desenterrassem o corpo de James Dean, o vestissem com um uniforme militar e o fizessem mover-se com fios”. Escreve ainda, alertando para o precedente que este filme, que não tem ainda data de estreia prevista, poderá abrir em matéria de destruição de legados: “Os realizadores planeiam ressuscitar digitalmente Dean para o tornar na estrela de um novo filme – isso vai abrir o caminho para uma procissão de famosos mortos digna de um pesadelo”.
O caminho já a tecnologia tem vindo a abrir – para algo deste género, faltaria coragem moral provavelmente. No seu recentemente estreado thriller Projeto Gemini, Ang Lee foi já capaz de colocar Will Smith a contracenar consigo próprio – a versão de si próprio de há 25 anos, recuperada de Bad Boys (1995), de Michael Bay. Numa entrevista publicada a propósito desse filme pelo i, o realizador taiwanês apresentava-se convicto de que, com a evolução tecnológica dos últimos anos, o cinema nunca mais será o mesmo.
Tal como nesse caso, os realizadores de Finding Jack tencionam recorrer a arquivos fílmicos de James Dean (bem como a fotografias) para recriar uma versão “de corpo inteiro” do ator com recurso à chamada tecnologia CGI (computer-generated imagery). Mas disto – ressurreições de ícones desaparecidos por pura opção estética – ou de marketing – talvez Ang Lee não estivesse à espera. À Hollywood Reporter, Anton Ernst explicou a opção de casting assim: “Andámos para cima e para baixo à procura da personagem perfeita para o papel… que tem arcos de personalidade extremamente complexos, e ao fim de meses de pesquisa decidimo-nos pelo James Dean”. Isto antecipando logo parte das críticas de que viria a ser alvo: “Sentimo-nos muito honrados por a família nos ter apoiado e tomaremos todas as precauções para garantir que o seu legado como uma das mais épicas estrelas de cinema até à data é mantido intacto. A família olha para este como o seu quarto filme, o filme que ele nunca conseguiu fazer. Não queremos desapontar os seus fãs”.
Em resposta, o ator Chris Evans, um dos muitos que se têm insurgido contra a notícia da ressurreição computorizada de James Dean, ironizou, no Twitter: “Tenho a certeza que vai adorar”. E acrescentou depois: “Isto é horrível. Talvez consigamos arranjar um computador que pinte um novo Picasso. Ou escrever um par de novas canções de John Lennon. A completa falta de noção aqui é vergonhosa”.