“Isto é só fumaça. Calma, que o povo é sereno!” Foi assim que em 1975, durante episódios quentes do PREC, Pinheiro de Azevedo reagiu aos tumultos que no nosso país por aqueles dias decorriam. Ainda que a contextualização histórica deste apelo tenha contingências em tudo distintas do que esta semana se vivenciou no nosso país, foi dele que me lembrei quando pensei escrever sobre o tema. Vamos a ele: esta semana, nas localidades de Borba e Elvas viveram-se cenas de injúrias e ofensas à integridade física que, independentemente das vítimas que estivessem em causa, já seriam graves.
Mais grave ainda se tornam quando os agredidos são, imagine-se, bombeiros. E bombeiros que estavam no exercício das funções que lhes são confiadas e que da sociedade devem merecer um agradecimento total e contínuo. É vergonhoso e inadmissível que seja lá quem for tenha o despautério de agredir quem faz a sua vida a zelar pela nossa. Sobretudo num país como o nosso, em que os meios e os efetivos disponíveis são manifestamente poucos para as necessidades existentes.
É vergonhoso, diria mesmo que é indigno! E digo-o com completa honestidade intelectual. Qual não é o meu espanto quando, em resposta a esta lamentável (e recorrente) situação, ouço o ministro que tutela a pasta desvalorizar o sucedido, garantindo que Portugal é um referencial de segurança. De facto, ainda não somos dos países com maiores índices de criminalidade. Também era só o que faltava. Os ministros, é natural que não sintam a sua existência porque desde logo têm, e bem, um vasto leque de segurança que os cidadãos, mal, não têm.
Ainda assim, o que não vale a pena é dizer que isto é só fumaça, silenciando todos os casos similares que se têm verificado um pouco por todo o país nos últimos anos. Eventualmente, talvez seja o momento de deixar de pensar que o povo é sempre garantidamente sereno; caso contrário, podemos ser surpreendidos com respostas e atitudes que, por saturação e apatia dos governantes, não sejam as que queremos e defendemos. Urge legislar para garantir a prevenção destes episódios, puni-los severamente quando aconteçam e garantir que jamais se repitam. Isto, se quisermos salvar o Estado de direito democrático, ambição que a mim me parece básica.