Sexo. Estará o futuro  da intimidade entregue  aos robôs?

Sexo. Estará o futuro da intimidade entregue aos robôs?


Terapeuta sexual diz que, daqui a 50 anos, relações sexuais com robôs farão parte do nosso dia-a-dia. Aliás, ter a primeira relação sexual com um objeto robotizado não será algo tão estranho quanto isso.


Imagina-se a ter relações sexuais com um robô? E se lhe disséssemos que daqui a 50 anos esta vai ser uma prática comum? Pode parecer um futuro distante, mas na verdade hoje em dia já é possível ter experiências sexuais tecnológicas sem a presença de uma figura humana. Talvez seja melhor começar a acreditar na ideia que daqui a alguns anos vai mesmo existir intimidade entre humanos e robôs.

Marianne Brandon é terapeuta sexual e esteve ontem na Web Summit para falar sobre o tema. “Já tive vários pacientes que me disseram que têm mais prazer com um vibrador ou com pornografia do que com os seus parceiros de longo prazo. Sexo com robôs pode ser uma mais-valia para casais com relações de longa duração. Funciona bem quando o casal o faz de uma forma conjunta. Pode trazer experiências que sozinhos não poderiam ter. Por exemplo, um ménage à trois sem haver ciúmes. Dá espaço para a criatividade, além da vantagem de não haver uma preocupação com doenças sexualmente transmissíveis”, começou por defender a especialista.

Mas desengane-se se acha que os aspetos positivos ficam por aqui. E se for uma pessoa para quem a própria relação sexual é difícil? Parece que os robôs também podem ser a solução. “Uma pessoa com dificuldades intelectuais pode usar o robô para satisfazer as suas necessidades, pois tem as mesmas que qualquer outro ser humano, mas nem sempre é possível satisfazê-las de uma forma socialmente positiva”, explicou Marianne Brandon, relembrando ainda que esta pode ser também uma solução para “pessoas com disfunções sexuais ou ansiosas”.

 

Serão só vantagens?

É preciso olhar para o outro lado da moeda e uma coisa é certa: um robô não é vulnerável, não se rende e não consegue querer da mesma forma que o ser humano quer e deseja. Por isso, o robô nunca poderá substituir a conexão humana e o amor que provém desse conjunto de emoções. E se a primeira experiência sexual for com um robô? Será que essa pessoa vai querer procurar posteriormente conexão humana? Este poderá ser um cenário comum, alerta Brandon.

Para que as questões negativas não se sobreponham às positivas, a terapeuta acredita que é preciso regulamentação por parte dos Governos, uma vez que as possibilidades de intimidade entre o homem e a máquina podem ir muito mais longe e precisam de ser discutidas.

Uma das questões mais controversas levantada por Marianne Brandon prende-se com a existência de robôs sexuais dirigidos exclusivamente a pedófilos. “Que efeito terá nestas pessoas um robô com um formato de criança? Diminui os ataques ou aumenta ainda mais a vontade destes predadores sexuais?”, questionou a especialista. Por enquanto, não há uma resposta definitiva para esta pergunta. Contudo, a terapeuta defende que é preciso pensar sobre a mesma para nos prepararmos para o futuro.

Quanto a certezas, a especialista acredita que serão os homens os mais atraídos por sexo com robôs, uma vez que “se importam menos com o ambiente, a pessoa e o envolvimento no momento sexual”.

 

Nem tudo é cor de rosa no mundo tecnológico

O tema da sexualidade já tinha sido chamado a um dos palcos da Web Summit na terça-feira. Será que a tecnologia nos pode ajudar a educar quando se fala de sexualidade? Ou até mesmo ser um meio para tornar a vida sexual dos cidadãos mais realizada e gratificante? O público perguntou e o ativista britânico Peter Tatchell deixou clara a resposta: Sim, pode.

No palco Future Societies da Web Summit para falar sobre o sexo e a sexualidade no século XXI, o fundador da Peter Tatchell Foundation – organização que promove e defende os direitos humanos – considerou que os empreendedores devem criar plataformas tecnológicas que nos ajudem a obter determinadas respostas e a lidar melhor com certas questões sexuais. “Como lidar com situações em que os parceiro não quer usar preservativo? Como ter prazer sexual?” são algumas das questões em cima da mesa, que podem ser respondidas com recurso a meios tecnológicos.

Mas nem tudo é cor de rosa: se, por um lado, a tecnologia é uma excelente aposta para melhorar a educação, por outro pode ser usada para difundir determinados conteúdos que nem sempre são educacionais no que diz respeito à sexualidade, como é o caso da pornografia e da violência associada ao sexo. “Sem dúvida que certos tipos de pornografia estão a ficar muito mainstream e miúdos que não têm educação sexual na escola, usam os vídeos para se educarem. A disseminação de imagens negativas e depreciativas do homem em relação à mulher não é positiva. Temos de educar os jovens sobre a pornografia – esta, muitas vezes, pode levar a expectativas pouco realistas da vida real. A depravação feminina não pode ser aceite. As mulheres nos vídeos fazem tudo, mas na vida real não são obrigadas a fazer, nem têm que fazer”, considerou o ativista, admitindo que estas são questões que “o sistema educativo” tem de pensar e abordar.

 

O progresso

E quando se fala de educação sexual e consciência, Peter Tatchell relembra que não nos podemos esquecer das relações LGBT e do futuro das mesmas. “Estamos a fazer progressos em grande parte dos países. Atualmente, os estudos feitos indicam que a homossexualidade é mais aceite aos olhos da comunidade – 20% dos jovens no Reino Unido já experimentaram este tipo de relação”, disse Tatchell. “Os dados estatísticos vieram mostrar aos políticos a realidade das coisas e dar confiança para se votar sobre estes assuntos”, disse.

No fundo, o ativista relembra que, sejam quais forem a relações, devem assentar em três princípios básicos: devem ser “partilhadas e consentidas; partilhadas e gratificantes e partilhadas e respeitadas”.