Sei que hoje muitos estranharão o facto de numa semana em que tanto se passou em Portugal, vir eu escrever sobre o que se tem passado do lado de lá da fronteira, na nossa vizinha Espanha. Curiosamente, também não me vou debruçar numa análise sociológica ou política do que representou a mudança dos restos mortais de Franco de onde estavam para onde agora foram. Não estou com isto a dizer que não tenho uma opinião própria. Tenho-a. Obviamente. Também não estou a fugir dela ou a omiti-la por alguma razão, até porque quem ao longo destes últimos anos me tem acompanhado neste espaço de opinião, certamente já sabe qual o meu perfil e consegue antever a minha posição face ao sucedido. Por último, também não estou a procurar uma desculpa esfarrapada para sem tocar directamente num tema, ainda assim falar dele na mesma.
Os patetas do costume cuja profissão é criar perfis falsos para criticar todos quantos escrevem artigos, aí estarão de novo. Mas por detrás de um qualquer perfil falso todo o cobarde é um valente. Daí, nada de novo.
Mas vamos ao que interessa. Venho hoje falar de História. É verdade. Aquela disciplina que normalmente muita gente odeia na escola por achar uma seca e que para outros, uma minoria da qual eu sempre fiz parte, é todo um mundo por descobrir. Uma paixão. Diria mesmo que um vício. Isto para dizer que a História não é para apagar. Não pode ser alterada e, sobretudo, não pode ser alvo de upgrade para lá do seu tempo como se fez em Espanha. No bom e no mau, a História enriquece-nos a todos. Gostaremos uns de umas coisas e, outros, de coisas distintas. Uns identificamo-nos com uma pessoa ou política e, outros, não a poderão nem ver pintada. Mas quer de um lado, quer do outro, a paixão, o ódio, a crença ou o seu oposto, a aprovação ou o seu contrário, não devem, nem numa hipótese nem noutra, ser silenciadas, alteradas e muito menos descontextualizadas.
A História sofre hoje, um pouco por todo o mundo, deste mal, daí este ser um artigo que tanto se adequa a Espanha, como se poderia adequar a Portugal ou a qualquer território por detrás do Sol-posto. Falo da avaliação que se faz da História passada, aos olhos, doutrina ou proselitismo dos tempos actuais. É um disparate pegado. Intelectual e científico. Desculpem mesmo o termo mas é simplesmente uma pura e completa anormalidade. Daqui a cinquenta anos, não concebo nem admito que alguém me possa julgar a mim, aos meus contemporâneos e sociedade, aos olhos da sua. Podem formar opinião. Devem. Mas não podem fazer saltos cronológicos. E é por isso que não percebo que hoje com os nossos olhos julguemos o olhar de quem via há cinquenta anos. Não estou a defender nada nem ninguém, sem que com isto esteja a afirmar que não o pudesse fazer. Estou a reafirmar que a História é o que é. E ponto final parágrafo. É para ser assumida e respeitada na sua totalidade. Não é para ser moldada. Como advertiu um dia Sócrates (o filósofo), "Cuidado com a esterilidade da vida agitada". Dou comigo a pensar que na gritante rapidez e esterilidade dos nossos dias, faz-se muito mais do que aquilo que quereríamos que fosse feito e ainda assim muitíssimo menos do que mereceríamos verdadeiramente que se fizesse.