“Onde é que eu já ouvi isto?”, pensarão certamente alguns leitores, porventura mais antigos ou com melhor memória ou conhecimento histórico.
Quero esclarecer que não se trata de nenhuma comparação com o nosso passado pré-25 de Abril, e muito menos de sugerir qualquer semelhança entre António Costa e Marcelo Caetano.
Vivemos em democracia, os portugueses escolhem livremente os seus representantes e, destes, nasce o Governo.
Trata-se, apenas, de uma dúvida.
Depois de quatro anos de geringonça, os portugueses decidiram reforçar o partido que a criou e conduziu, e retirar alguma força aos seus parceiros.
No que respeita à oposição, quiseram também retirar-lhe expressão, o que conduziu, por um lado, a um partido, o CDS, reduzido a uma expressão mínima, estar à procura de novo líder, o que não está a ser fácil, e, por outro, o PSD estar a braços, mais uma vez, com uma corrida à liderança, na sequência da “derrota honrosa” reclamada pelo seu líder, Rui Rio.
Deste lado, da direita, pode António Costa estar descansado nos próximos tempos.
Mais complicado, certamente, será o jogo negocial com os ex-parceiros de geringonça, a que se acrescentam agora o reforçado PAN e o neófito Livre.
Como responde então o primeiro-ministro indigitado a estes desafios? Apresentando um Governo basicamente igual ao anterior. Reforçado, é verdade, mais em quantidade do que em qualidade.
Nas pastas mais polémicas, tudo na mesma.
Quanto a familiares, deixaram de existir no Executivo. Sai, por exemplo, o todo-poderoso Vieira da Silva e perfila-se a filha, Mariana, como candidata a essa categoria, agora já como ministra de Estado.
Temos também mais ministérios, o que possibilita a distribuição de mais cargos.
Nada de especialmente novo, portanto, pelos lados de São Bento.
Resta saber como vai António Costa gerir os ex-aliados, agora livres de compromissos.
Mas, há que reconhecê-lo, António Costa é hábil, bem preparado, e segue fielmente a cartilha de Maquiavel: “A política é a arte de conquistar, manter e exercer o poder”.
Tudo o resto, infelizmente, não passa do mais puro idealismo.
Jornalista