Hábitos alimentares. Não, não estamos  a comer menos carne

Hábitos alimentares. Não, não estamos a comer menos carne


Um estudo da Euromonitor International mostra que, apesar dos alertas para a saúde e para o ambiente, o consumo de carne não está a diminuir. Há uma vontade crescente de comer melhor, mas de cozinhar menos.


O drama das alterações climáticas e acontecimentos trágicos como os incêndios na Amazónia fizeram com que a discussão em torno do consumo de carne ganhasse uma nova força. Por cá, a polémica em torno da decisão da Universidade de Coimbra de banir a carne de vaca da cantina levou a que os hábitos alimentares dos portugueses fossem analisados em todos os meios de comunicação. Mas a verdade é que o consumo de carne não está a diminuir.

Um estudo realizado pela Euromonitor International, empresa britânica de estudos de mercado, mostra que o consumo de carne fresca e processada a nível global, bem como de laticínios, continua a crescer. “Apesar das notícias sobre alternativas sustentáveis e do crescente interesse pela cozinha vegan, existem poucas provas que sustentem a ideia de que o volume de carne e de produtos de origem animal está a diminuir”, refere o documento a que o i teve acesso.

A investigação mostra que, até 2023, existem duas realidades no que diz respeito ao consumo de carne: nos países desenvolvidos, onde já existem níveis muito altos de consumo, a procura por este alimento deverá abrandar – em parte devido à saturação, mas também por causa dos problemas de saúde que irão surgir e das preocupações com questões ambientais; já nos países desenvolvidos, o crescimento da capacidade económica das classes médias fará com que a carne e os produtos de origem animal comecem cada vez mais a substituir outros alimentos.

E se o consumo de carne não dá sinais de abrandar, o vegetarianismo também não está a crescer exponencialmente. De acordo com o estudo divulgado esta semana, existem 628 milhões de vegetarianos no mundo todo – a maior parte reside na Índia. “Globalmente, a população vegetariana não cresceu mais de 1% ao ano desde 2010. Aliás, tem diminuído face ao total de população”, que tem aumentado sucessivamente, refere a investigação.

O que tem ganho adeptos é o flexitarianismo, diz o estudo. Trata-se de um termo que funde os conceitos “vegetarianismo” e “flexível”. Ou seja, não implica eliminar de forma radical o consumo de carne e de peixe, mas optar por comer estes alimentos com moderação.

Quanto mais novos, menos vontade têm de cozinhar A investigação da Euromonitor International tentou perceber quais os principais hábitos alimentares das diferentes gerações. Um dos aspetos que mais salta à vida é a falta de gosto em preparar refeições. Dos Baby Boomers à Geração Z, o número de pessoas que preferem fazer outra coisa em vez de cozinhar tem aumentado consideravelmente. Isso acompanhado pelo crescente número de pessoas que prefere encomendar comida.

Perante estes dados, muitas marcas decidiram adaptar a sua forma de estar no mercado. “Queremos oferecer às pessoas experiências alimentares maravilhosas, fornecendo-lhes o produto certo, com o formato certo, no momento certo. Para melhorar a forma de escolher e o fator conveniência, expandimos a nossa presença a todos os locais onde as pessoas possam as pessoas podem consumir os nossos produtos, respondendo às suas exigências no que diz respeito a encomendas online ou a compras impulsivas no supermercado local ou em grandes superfícies”, descreveu a Danone, por exemplo, no seu relatório anual de 2018.

Saúde continua a ser tendência Com uma população cada vez mais envelhecida e, ao mesmo tempo, mais informada, as questões relacionadas com a saúde continuam a ser tópicos prioritários no que diz respeito às escolhas alimentares. Por outro lado, a síndrome de Peter Pan e a vontade de manter uma aparência jovem e saudável faz com que as marcas desenvolvam produtos específicos para quem coloca o corpo e a mente à frente de tudo.

Segundo a investigação, em 2030, 991 milhões de pessoas em todo o mundo terão mais de 65 anos. Por outro lado, na mesma altura, 1,72 mil milhões de pessoas terão entre 0 e 12 anos. Por isso, “os produtores respondem a diferentes tendências demográficas e alimentares de mercados específicos”, refere o estudo. “Os consumidores têm como objetivo reduzir os ‘nutrientes maus’, como o açúcar, o sal e os hidratos de carbono, ao mesmo tempo que tentam aumentar o número de ‘nutrientes bons’ nas suas dietas, como a fibra e a proteína”, acrescenta.

Mas isso não significa que se abdique daquele gelado delicioso ou daquele chocolate viciante. O documento mostra que os consumidores continuam a “responder à oferta de produtos indulgentes”, mas optam por escolher “o que tem menos calorias, menos açúcar e mais proteínas”.

Outra tendência que continua a ganhar cada vez mais adeptos são os superalimentos. De acordo com a investigação, frutas como os mirtilos ou os chamados grãos ‘antigos’, como a quinoa, estão mais presentes nos lares das pessoas.

“Os consumidores procuram cada vez mais produtos autênticos e naturais, sem cores, sabores e adoçantes artificiais. Há cada vez mais pessoas que querem saber o que compõe os alimentos que comem, dando especial importância às informações nutricionais” contidas nos rótulos, explica o documento.