Depois de uma época em que a nuvem negra insistiu em não deixar o bocadinho de céu por cima do Bernabéu, o Real Madrid decidiu ir ao suposto livro de receitas infalíveis para trazer de novo a alegria e o conforto aos adeptos merengues.
Zidane, que tinha abandonado a capital espanhola num adeus surpresa, que havia deixado tudo e todos perplexos, foi, assim, repescado para conduzir os blancos de novo ao sucesso. Afinal, haveria nome melhor do que o do treinador que se tinha revelado capaz de cozinhar três vitórias consecutivas na Champions? A pergunta dispensa resposta e arrumar a casa foi, por isso, palavra de ordem para a direção presidida por Florentino Pérez, que ainda antes do final da época 2018/19 já voltava a colar cacos melhor do que qualquer supercola. Com a consciência clara que havia, contudo, pedaços impossíveis de recuperar – um deles com nome próprio e bem português.
De qualquer forma, as mexidas devolviam algum alento aos adeptos, que acreditavam que depois da tempestade viria por fim a bonança. E uma boa aventura, de novo em francês!
Veio, é certo, mas até ver com uma pequena gafe: Bonaventure.
Maldito seja Emmanuel Bonaventure Dennis, pensou-se ontem por Madrid.
Depois de uma entrada com o pé esquerdo que provocou uma entorse daquelas, com o ex-Real Madrid Di María a armar-se como o mais verdadeiro Príncipe do Parque, o PSG venceu por claros 3-0 e deixou, logo a abrir, o Real em sentido.
Passado, e da pior maneira, o tão desejado regresso de Zidane à prova dos milhões, a receção ao Club Brugge, na segunda jornada do grupo A, era considerada a oportunidade perfeita do Real para fazer esquecer as vertigens deixadas pela Torre Eiffel.
Mas, na tarde desta terça-feira e para grande surpresa, eis que o Bernabéu assiste a novo resultado pouco provável.
Não tinham passado sequer os primeiros dez minutos do encontro quando Dennis já lançava a primeira dose de pimenta para as bancadas de Madrid.
Um golo pouco ortodoxo, é certo, mas que colocava os belgas em vantagem e deixava os merengues desnorteados.
O mais incrível ainda estava, todavia, por acontecer, uma vez que o nigeriano havia mesmo de bisar após nova atrapalhação com a bola.
O intervalo ainda não tinha chegado (39 minutos).
Já na segunda metade, o Real ainda reduziu, por Sérgio Ramos, aos 55’, e lá conseguiu chegar ao empate, por Casemiro, aos 85’, numa altura em que o conjunto belga já estava reduzido a dez unidades.
O 2-2 final ofereceu o primeiro ponto aos merengues, que continuam a ter de fazer melhor para lutar pelo apuramento para a fase seguinte. Reconquistar o troféu, isso, ainda está longe.
O pesadelo de 2018/19 De notar que na última época, a aventura do Real Madrid na Liga dos Campeões teve um final precoce.
Nos oitavos-de-final, e depois de uma goleada (1-4) sofrida em casa, às mãos do Ajax, o então tricampeão europeu em título caiu com estrondo, numa confirmação da crise que já era, de resto, notória no seio do clube.
Ainda antes, na fase de grupos da última edição, os blancos, recorde-se, tinham sofrido a maior derrota caseira em jogos da UEFA, com o 3-0 aplicado, à data, pelos russos do CSKA Moscovo.
Ainda assim, o recorde negativo acabou por não ter consequências imediatas já que o tropeção não teve grandes implicações, com os merengues a apurarem-se para a fase seguinte na liderança do agrupamento – e foi aqui que a máscara já não foi disfarce suficiente.
De notar, porém, que se a vida europeia, embora longe de comprometida, se complica, os aguaceiros sentidos ontem no Bernabéu estão ainda longe de virar trovoada.
A prestação do Real na Liga espanhola ajuda a provar isso mesmo, com os merengues a ocuparem atualmente o primeiro lugar na tabela num momento em que estão cumpridas sete jornadas.
Zidane e companhia lideram de forma isolada, com 15 pontos, mais um do que o Granada e o Atlético de Madrid, que fecham o pódio, ambos com 14.
Este resultado acontece num momento em que já foi disputado o primeiro dérbi de Madrid de 2019/20. No Metropolitano, de João Félix, num encontro que esteve longe de cumprir com as altas expetativas, a partida terminou tal como começou: 0-0.
Pela frente, antes de defrontar os turcos do Galatasaray, na terceira jornada da fase de grupos da Champions, o Real terá agora dois testes, de novo a valer para o campeonato: com o Granada, dos portugueses Rui Silva e Domingos Duarte, e depois com o Mallorca, na jornada oito e nove da competição, respetivamente.