Lá vamos nós para mais um fim-de-semana de sexta a segunda com essa coisa aborrecida de termos, esta noite, pelas 20h30, um Boavista-Tondela e daqui a três dias o Desportivo das Aves-Sporting, um quarto de hora mais cedo, caindo como de costume sobre a hora do jantar e afastando naturalmente muita gente dos estádios para os quais marcharia alegremente noutras condições. Mas, aceitemos obedientemente: o futebol é um jogo televisivo nos dias que correm. Faz mais falta o dinheiro que pinga das operadoras do que o que minga em bilhetes. Por isso, adiante.
Parece que é vontade de embirrar, mas acreditem que não é. Pelo caminho, reparem. Estamos a 27 de Setembro. Imediatamente após o final da visita dos leões às Aves, fecham-se as portas da competição. Diria mesmo, portas e janelas, com ferrolhos e tudo. O Nacional vai de férias. Bela vilegiatura! Tirando um assim meio dependurado Aves-Tondela, agendado para o feriado de 5 de Outubro, antecipado da jornada nº 9, a ronda oito só volta no dia 25. Ora, diacho! Praticamente um mês. É que a gente até se esquece do que andou a discutir nas mesas dos cafés com a selecção nacional e a Taça de Portugal enfiadas pelo meio. Convenhamos: um exagero incompreensível que não abona nada a favor destes génios da calendarização que produzem anormalidades assim.
Ao receber, amanhã à noite, o Belenenses, o Famalicão tentará cavalgar o primeiro posto durante pelo menos mais um mês antes de se deslocar às Antas para confrontar o FC Porto. Motivo para pontos de exclamação. Sem dúvida. Ainda por cima após a convincente vitória em Alvalade, à custa de um leão à nora, contrariando aqueles que previam que estava à vista a primeira derrota dos minhotos comandantes e a sua natural queda para lugares secundários. Não foi assim, ver-se-á até onde pode chegar a resistência desta surpreendente equipa treinada por um antigo adjunto de Marco Silva no Everton, de nome completo João Pedro Ramos Borges Sousa, a dar os primeiros passos como técnico principal, e que passos, vamos e venhamos.
Perseguidores. Atrás do Famalicão, ansiando pela queda do líder, seguem Benfica e FC Porto num ombro a ombro corriqueiro que tem, desta vez, o acicate para os benfiquistas de se terem visto batidos na Luz, à terceira jornada, sem apelo nem agravo, pelo seu opositor do costume. Na semana passada foi o dragão a saborear, durante longos minutos, a possibilidade de se destacar do seu incómodo parceiro, ao vê-lo esbracejar desesperadamente em Moreira de Cónegos até ao finzinho da partida. Aliás, exactamente o que acontecera oito dias antes com a águia à espera da escorregadela conveniente dos azuis e brancos em Portimão. Foi assim que vivemos a época anterior a esta, foi assim que vivemos a época anterior à anterior, será com certeza assim que viveremos a que corre, apesar das exageradíssimas notícias sobre a decadência do conjunto de Sérgio Conceição. Seria não perceber de que massa é feito o rapaz que nasceu em Coimbra no dia 15 de Novembro de 1974. Não torce nem quebra. E os jogadores vão atrás dele, confiando no seu instinto lutador. Instinto que será posto à prova em Vila do Conde, no domingo, pelas oito horas da noite.
O Benfica, esse, fica por casa. Entra em liça já amanhã, às 19h, com o Vitória de Setúbal. Já foi um dos maiores jogos a que este país podia assistir e recordo-me de muitos num tempo em que o Vitória tinha o seu Eusébio, chamado Jacinto João, figura única de uma cidade e de um clube únicos. O Vitória sofreu a crise de uma zona geográfica abalada pelo desemprego e pelo desinvestimento industrial. Não é fácil sobreviver em condições análogas. Tem-lo feito com o orgulho de um velho fidalgo arruinado, mas não deixaria de ser uma surpresa absoluta vê-lo sair da Luz com o peito enfunado de uma soberba vitoriosa. De volta ao campeonato, que é, já se percebeu, a matéria que verdadeiramente ocupa a cabeça de Bruno Laje, os encarnados deverão voltar ao figurino mais seguro sem invenções e experiências que deram com os burrinhos na água para a Liga dos Campeões e para a Taça da Liga.
O treinador do Benfica tem o foco enfiado nas jornadas nacionais e parece estar-se nas tintas para tudo o que gravite à sua volta. Os ovos voltarão, tal como na época passada, a ser colocados num só cesto, com os riscos inerentes e sob o juízo dos adeptos que não parecem, para já, muito contentes com tal falta de ambição. Nada que uma vitória não apague, claro!