Faz 15 dias escrevi sobre a brisa que começava a fazer-se sentir, caracterizada pela nova faceta de combatividade de Rui Rio, faceta essa que até a mim surpreendeu. Claro que numa sociedade, em muitas franjas medíocre, que prefere criar um perfil falso para comentar na base do insulto e não da argumentação o que qualquer cronista escreve em espaços online, sem surpresa assisti ao ataque de raiva que a esquerda me dirigiu, brindando-me com epítetos variados. Assisti, de camarote e divertido, porque me diverte imenso ver o quão básico se pode ser para negar o óbvio.
Bastou esperar alguns dias e, modéstia à parte, julgo que o debate entre Costa e Rio veio demonstrar que o que escrevi não era, afinal, uma utopia. A direita está finalmente a esmagar a esquerda, esmagamento esse que Rio replicou facilmente em Costa e que só pode ser negado por burrice ou por se ser socialista. A segunda opção, compreende-se; a primeira, não. Desculpem esta minha politicamente incorreta adjetivação, mas estou saturado de ver tanta gente a negar o inegável. Bem sei que até a opção pela burrice é um direito que assiste a quem por ela queira optar, respeitando-a eu nessa ótica. Ainda assim, não compreendo que se possa optar pela cegueira em vez de assumir o que os olhos veem.
Quanto ao debate, ficou patente que quando a direita não questiona, não se insurge, ou não problematiza, a esquerda brilha. Quando o contrário acontece, é ver os seus castelos de areia a ruir, desta feita por ação de claras águas de Rio. António Costa, que começou por parecer-se com Mário Soares na sua pose triunfalista e de “bonacheirão-mor” do regime, olvidou que Soares tinha estofo para fazê-lo, mas ele não. Portanto, primeiro erro: subestimou o adversário, não conseguindo depois agarrar o toiro pelos cornos.
Passo a passo, tema a tema, tirando o do aeroporto, em que saiu por cima de Rui Rio, parecia, com todo o respeito às mesmas, uma qualquer equipa de futebol distrital a jogar com o Real Madrid. Não faturou uma! Disse que o SNS estava melhor mas, confrontado com o aumento dos tempos de espera e da dívida a credores ou com a falta de medicamentos, respondeu que a única responsabilidade que assumia era a da melhoria do SNS. Devia ser alguma charada. Disse que o país é dos que mais crescem na zona euro; confrontado com só Alemanha e Itália estarem pior que nós, fugiu do tema que nem diabo da cruz. Disse ter criado 350 mil empregos; contraposto com uma emigração de 330 mil pessoas, só soube dizer que não conhecia os dados e que tinha outros.
Questionado sobre fatores menos positivos da economia nacional, disse que a culpa era do abrandamento da conjuntura externa. Ora, para quem sempre vendeu que Portugal melhorou nestes quatro anos por ação do Governo e não por impulso da melhoria das condições internacionais, deu o dito por não dito, em óbvio desnorte. Aventou que os impostos baixaram, mas só falou dos 1000 milhões a menos em impostos diretos. Da subida de 1,2 milhões nos indiretos, nada. Ora, as contas são fáceis de fazer! Por tudo isto e muito mais, ficou claro que Costa só sabe fazer política na sombra do ilusionismo de certas golpadas palacianas como a geringonça. Quando toca a ter de resolver os problemas reais é politicamente mais estéril que o deserto do Sara. Rio não vencerá as eleições, mas talvez o refogado da maioria absoluta à la Costa esteja a começar a queimar.
Escreve à sexta-feira