Despertador para não socialistas


Há um padrão: nos primeiros quatro anos de mandato, os socialistas trabalham para eleições; nos segundos, perdem o controlo das situações.


Lendo a psique dos portugueses, António Costa constatou que os eleitores têm aversão a maiorias absolutas. Isto seria verdade se o secretário-geral do PS tivesse completado a frase da seguinte forma: “Os eleitores não gostam de maiorias, absolutas ou relativas, do Partido Socialista”. Há um padrão cíclico no comportamento eleitoral dos portugueses: mais tarde ou mais cedo, quem vota PS arrepende-se. É que todas as segundas legislaturas do PS acabam abruptamente, em crise política e social.

Porque a memória é pequena e a propaganda é grande, façamos um bocadinho de história. Para não entediar os leitores, arranquemos no início do nosso século.

Recuemos até 2002. Congelado na sua ação política, afetado pela impopularidade do seu Governo, António Guterres atira a toalha ao chão. Para trás deixa “o pântano” e um défice de 4,3%. Sabemos como os socialistas gostam de números grandes: com eles ao leme, Portugal torna-se o primeiro país da zona euro a violar o Pacto de Estabilidade e Crescimento. António Costa era ministro da Justiça desse Governo.

Os portugueses penaram para consertar as contas públicas. Arrependido de ter votado PS, é a um Governo PSD que o povo confia a tarefa de arrumar a casa depois da festança socialista.

Mais tarde, em 2005, chega José Sócrates. E com Sócrates vem tudo o que já sabemos: a dívida pública explodiu de 67% para 114% do PIB. O custo de financiamento dessa “dívida que não se paga porque se gere” chegou a tocar nuns estratosféricos 15%, hipotecando gerações de portugueses. E o défice, bom, o défice das contas públicas ficou nuns assombrosos 11,2% – fora o que estava escondido debaixo de vários tapetes. António Costa era ministro de Sócrates, número dois do PS e um dos seus maiores defensores na defunta Quadratura. Com Portugal de joelhos, a soberania hipotecada, uma democracia esfrangalhada, o desemprego galopante e uma chaga social sem precedentes, a troika é chamada pelos socialistas. Arrependidos de terem votado PS, é a um Governo liderado por Pedro Passos Coelho que os portugueses confiam a tarefa de salvação nacional.

Chegamos a 2015. Nas urnas, o povo volta a confiar no PSD. Mas numa golpada escondida do eleitorado, uma frente de esquerda assalta o Governo do país. Que resultado teria tido António Costa se tivesse confessado o desejo de se coligar com a extrema-esquerda? Aposto que não teria sequer chegado perto dos 32,31%.

E assim chegamos a 2019. Coberto pelo manto de ilusão e ignorância da maioria de esquerda, o país é um castelo de cartas que pode cair ao primeiro sopro.

Lamento que o primeiro-ministro se orgulhe tanto de resultados tão poucochinhos. E lamento, como bem sublinhou Rui Rio no debate, que estes tenham sido quatro anos perdidos.

A propaganda glorifica o crescimento acima da média europeia. Mas não nos diz que só há três países que crescem menos do que Portugal em toda a Europa. Com a frente de esquerda aos comandos, os portugueses foram empobrecendo de ano para ano. Têm a sensação de estar mais ricos (cá dentro) quando, na verdade, estão cada vez mais pobres em todo o lado.

Isso explica que mais de 330 mil pessoas tenham saído do país. São portugueses qualificados, uma geração da globalização. Gente que sabe e sente que este modelo político não lhes oferece propriamente um projeto de vida. Condena-os à mediocridade e à escravidão fiscal.

Com o PS e as esquerdas, os portugueses sentiram bem o que é um Governo absoluto. Sacrificaram-nos para salvar a ideologia.

Este é o Governo que cobra, mas não cumpre.

Para impostos máximos, serviços mínimos.

Em tudo o Estado intervém com o argumento da igualdade. A nada o Estado provê com qualidade.

Os megafones socialistas não se cansam de repetir “viragem da página da austeridade”.

Estamos, sem dúvida, muito melhor. Antes tínhamos a austeridade do PS negociada com a troika; agora, só temos a austeridade de António Costa corroborada pelo BE e PCP. E a carga fiscal é a mais pesada de todos os tempos.

A dívida pública tocou o valor mais alto de sempre: 250 mil milhões de euros. A terceira maior da zona euro. E ainda que tenha descido em percentagem do PIB, isso aconteceu graças à conjuntura económica internacional. Quando o ciclo mudar (e tudo aponta para que não falte muito para mudar), o seu peso volta a disparar – possivelmente, para valores históricos elevados.

Os portugueses não herdam o défice mais conhecido de todos, o orçamental. Mas sobre os seus ombros pesa outro, tão ou mais grave: o défice de desinvestimento brutal nos serviços públicos e no Estado social.

Com este Governo, não “há mais vida para além do Orçamento”. Seja no interior deixado ao abandono, seja nas listas de espera dos hospitais, o cidadão é célula de Excel.

Moral da história: António Costa esteve em todas as desgraças socialistas da história recente. Curiosamente, todas essas desgraças emergiram no segundo mandato. O que sugere um padrão: nos primeiros quatro anos, os socialistas trabalham para eleições; nos segundos, perdem o controlo das situações.

Com o limiar da carga fiscal esgotado e a dívida pública transformada num balão pronto a estoirar, Costa (ao contrário de Sócrates) não tem margem para empurrar um azar com a barriga. Já não há almofadas. Qualquer queda terá o chão como destino.

Votarei, naturalmente, no PSD. E é crucial que todo o eleitorado não socialista vote numa alternativa de centro-direita. Para que o país não fique condenado a uma supermaioria da esquerda. E para que, ao contrário de 2002 e 2011, dentro de alguns meses, os portugueses não se arrependam amargamente do seu voto no dia 6 de outubro. Olhemos para a Grécia, essa nova “janela de esperança para a Europa”, nas palavras de Costa. Assim que puderam, os gregos livraram-se do Syriza. Façamos o mesmo com os socialistas. Antes que seja tarde demais.

 

Escreve à quarta-feira