“Avante Famalicão, avante!”, gritará alguma da forte alma minhota, que não pode deixar de se sentir orgulhosa com este regresso dos famalicenses à i Divisão, teimando galhardamente em serem primeiros da classificação, ainda que apenas à saída da jornada cinco. Sempre torci um bocado o nariz a esta recente moda de trazer para o comando de equipas com determinadas obrigações competitivas treinadores sem experiência e de currículos medíocres – havendo tantos bons treinadores de créditos firmados atirados para as catacumbas do olvido só por terem ultrapassado o prazo de validade dos 50 anos, ou coisa que o valha –, e o Paços de Ferreira, goleado no Municipal de Famalicão (ainda assim, marcou dois golos no final para atenuar os 0-4 com que se preparava para regressar a casa), foi um dos exemplos recentes dessa precipitação.
João Pedro Sousa tem, com todo o respeito, pouco mais a seu favor do que ter sido adjunto de Marco Silva. Tem sido outra moda, convenhamos: contratar ex-adjuntos de treinadores que andam ou andaram na mó de cima. Claro que não caio na inaceitável pesporrência de sugerir sequer que foi esse o motivo que o conduziu ao comando do Famalicão, comando esse que, para já, só pode ser alvo de elogios encarecidos. Quem o escolheu conhece-lhe, naturalmente, qualidades de liderança e de método que eu desconheço e irei tentar desvendar à medida que passo a seguir o seu percurso. É cedo, no entanto. Filó, ou Filipe Rocha, foi sacudido do Paços de Ferreira à primeira contrariedade, e já não é propriamente um menino, do alto dos seus 47 anos e de uma carreira desenvolvida nos escalões inferiores. Falhou na i Divisão. Seria igualmente injusto afirmá-lo de forma perentória. Não teve tempo. E por aí fora – teria pano para mangas se me atrevesse a desbobinar aqui uma espécie de Teoria e Prática dos Treinadores da Nova Vaga.
Pobre Na Luz, Bruno Laje é, definitivamente, um deles. A forma como alterou o espírito moribundo da equipa quase fantasma que herdou de Rui Vitória trouxe-o definitivamente para a história do futebol português. A partir do momento em que se tornou campeão nacional, a exigência caiu-lhe sobre os ombros com o peso das montanhas do Pamir. Após a muito pobre exibição do Benfica, em casa, frente ao Gil Vicente (2-0), Laje afirmou, convicto: “É fundamental perceber que estes jogos são os que fazem as equipas campeãs”. É uma opinião. E deixa implícito o reconhecimento de que foi um Benfica muito próximo dos piores dias desde que assumiu o cargo de treinador principal.
Se Bruno Laje não anda confuso, parece. A teimosia num sistema que aprova dois pontas-de-lança completamente improfícuos e que nem sequer estão, durante a maior parte dos 90 minutos, perto do golo poderá trazer-lhe, brevemente, mais amargos de boca como os que engoliu face ao FC Porto. Pede-se-lhe que encontre uma saída e ele responde, plácido: “O mais importante é olharmos para o trabalho da equipa e dos dois avançados em todos os momentos. Um foi o nosso melhor marcador, o outro está em fase de adaptação e vai correspondendo a cada oportunidade”. Concluiu com a satisfação de que ambos marcam muitos golos nos treinos.
Voltamos à questão dos treinadores com pouca experiência, sobretudo no caso de um gigante como o Benfica. Laje vai ter de descobrir forma de se reinventar. Já todos percebemos que querer jogar como o fez na época passada, com protagonistas de características diferentes, é tão óbvio que todos os adversários já têm antídoto para isso. A juventude costuma estar aliada ao risco e à criatividade. É disso que Laje necessita. Para não ficar velho ainda tão novo.
Por seu lado, rejuvenescido parece o FC Porto. Os equívocos táticos do Benfica permitiram-lhe uma vitória fácil na Luz e essa vitória foi como que um regresso à vida após os desastres de Barcelos e das Antas, face ao Krasnodar. De alguma forma, a bomba de oxigénio que os encarnados entregaram de mão beijada a Sérgio Conceição permitiu ao treinador portista trazer à superfície a sua maior virtude: o combate permanente. Com tal atitude, o jogo de Portimão estava resolvido ao intervalo (0-2). Ninguém conseguiria adivinhar o que viria a suceder. Com os três pontos seguros, não se entendeu a quebra física e moral que atingiu o dragão como um soco violente de pugilista vigoroso. Entre os 74 e os 77 minutos, o Portimonense empatou. Marcano resolveu no último segundo! Pedra dura que não quebrou.