Tal só não acontece porque, se por um lado, na ótica da observação pessoal, o que vem da Rua da Palma é na maioria das vezes uma autêntica comédia, por outro, na ótica da governação nacional, é nada mais nada menos que um drama.
O BE, partido ainda novo em idade comparando com aqueles com que quer ombrear, tem os mesmos tiques de autoritarismo manhoso daqueles filhos que, tendo a barriguinha cheia sem nunca nada terem feito na vida para isso, pretendem ensinar aos pais o que não sabem para si próprios. Vejamos: o BE que apelida tudo e todos de extrema-direita, numa demonstração de patética pseudomoral iluminada, é o mesmo BE que tem uma postura cem vezes mais extremista do que todos quantos critica. É mentira? Pois eu não me esqueço de uma rima feita a Sto. António solicitando a morte de um governante estrangeiro. Diz-se defensor do povo e de quem o protege nos seus direitos, liberdades e garantias mas, a exemplo, vota favoravelmente o pesar a Fidel Castro.
Se o falecido é Belmiro de Azevedo, um dos maiores empregadores do país, aí opta por uma abstenção que só se entende por cobarde. Diz-se defensor dos trabalhadores, mas cultiva diariamente o conflito arcaico e já empoeirado entre estes e quem lhes paga o ordenado, prejudicando-os a todos e ao país. Diaboliza os empresários, os seus lucros ou mais-valias, mas esquece-se que sem estes não há reinvestimento. Considera herege o negócio do imobiliário, mas pouco ouvi falar a sua líder no episódio Robles. Viabiliza os Orçamentos do Estado da cessante legislatura, mas ataca fortemente o PS, querendo lavar as mãos como Pilatos de políticas que, sendo erradas, têm a sua cumplicidade. Apregoa há quatro anos a sua influência nas supostas contas certas, mas deixa agora no ar a ideia de que o défice pode não ser bem aquele que se anuncia. Isto apenas para dar alguns exemplos.
No fundo, do BE, tudo se pode esperar. Tudo e, no segundo seguinte, todo o seu contrário. Mais recentemente, nas suas últimas aparições televisivas, brindou-nos Catarina Martins com verdadeiras pérolas raras. Começo pela sua proposta de grandes nacionalizações. Sim, senhor, cara Catarina, extraordinário sentido de Estado! Então temos crianças com cancro a serem tratadas em contentores e vamos gastar não sei quantos milhões de euros a privatizar a REN e a Galp? É preciso ser politicamente muito poucochinho para colocar os seus ridículos dogmas à frente da solvabilidade do país e da decência. E ainda que houvesse dinheiro, olhe que o tempo das nacionalizações cegas e das ocupações das coisas dos outros por mera inveja ou capricho já lá vai há, pelo menos, quatro décadas.
Achava eu que delírios maiores eram impossíveis e eis que surge aquela que, para mim, foi a cereja no topo do bolo. Então Portugal sofre de um problema de evaporação de água em grande medida porque tem barragens a mais? Extraordinário! Que genialidade científico-intelectual! A maior parte dos portugueses deve ter ficado extasiada com a sua capacidade de diagnosticar a condição hídrica do nosso país. Obrigado! Ainda assim, voltando ao mundo real, julgo que já chega de boçalidade. Se é para estas patetices, politicamente, friso, politicamente, a questão que também a mim me ocorre é: por qué no te evaporas?
Escreve à sexta-feira