A direita não pode esquecer a ecologia


A história da ecologia em Portugal, pelo menos ao nível partidário, sempre foi algo muito mais do centro-direita do que propriamente da esquerda. Paralelamente, sempre foi uma ecologia moderada, consciente, consistente, focada no mundo rural e na sua sustentabilidade, mas também nas nossas florestas.


Nem sempre a ecologia foi uma coisa de esquerda. Se recuarmos à fundação da nossa democracia, facilmente constatamos que foram os monárquicos, dirigidos por Gonçalo Ribeiro Telles, os primeiros a colocarem as causas ambientais em cima da mesa do debate político – um trabalho que, aliás, já vinha do final da década de 60 e teve eco na Comissão Eleitoral Monárquica, no apoio à candidatura de Humberto Delgado e, mais tarde, na Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, liderada por Mário Soares e que integrava precisamente este grupo de monárquicos.

Com o advento da democracia nasceu o Partido Popular Monárquico, fruto da união de várias sensibilidades monárquicas, e Gonçalo Ribeiro Telles, líder do partido, acabou por se tornar subsecretário de Estado do Ambiente nos I, II e III Governos Provisórios. Logo depois torna-se secretário de Estado no I Governo Constitucional, dirigido pelo Partido Socialista e por Mário Soares.

Poucos anos mais tarde, em 1979, Sá Carneiro percebe que existia uma consciência ambiental em falta na AD e, por isso, chama o PPM para essa batalha. O mesmo Ribeiro Telles acabaria por ser eleito deputado nas legislativas de 1979, 1980 e 1983. Neste mesmo período, o PPM acabaria por ter também mais seis deputados (em ocasiões distintas), entre eles o Luís Coimbra, o Henrique Barrilaro Ruas e o Augusto Ferreira do Amaral. Entre 1981 e 1983, já depois de Camarate, Ribeiro Telles acabaria por integrar o VIII Governo Constitucional, chefiado por Francisco Pinto Balsemão, enquanto ministro de Estado e da Qualidade de Vida, Governo este onde figurava também Ferreira do Amaral como secretário de Estado da Estruturação Agrária.

Com o fim da AD, o PPM foi perdendo a sua relevância. Em 1987, o partido passa a ser presidido por Augusto Ferreira do Amaral e volta a ter algum protagonismo aquando da primeira candidatura de Miguel Esteves Cardoso ao Parlamento Europeu, que deixou o então jornalista às portas de Bruxelas, com um resultado de 2,77%.

Neste interregno entre o fim da AD e 1987, mais concretamente em 1984, Ribeiro Telles, Luís Coimbra e outras personalidades vindas do PPM criam o Movimento Alfacinha para se candidatarem à Câmara Municipal de Lisboa, onde acabariam por eleger um vereador. Dois anos depois, em 1985, Ribeiro Telles acabaria por se tornar deputado independente nas listas do PS.

Com a desilusão dos resultados das duas candidaturas do MEC ao Parlamento Europeu, começa a discutir-se no movimento monárquico se fazia mesmo sentido haver um partido defensor da causa – ou se os monárquicos deveriam estar em todos os partidos e organizados em associações não partidárias.

Há então um grupo de monárquicos que abandonam o PPM, entre eles Ribeiro Telles, para criarem em 1993 o MPT – Movimento Partido da Terra, que logo nas legislativas de 1995 acaba por ter um resultado miserável. Só haveria de se voltar a ouvir falar do partido quando, já liderado por Pedro Quartin Graça, em 1999, consegue eleger dois deputados pelas listas do PSD de Santana Lopes, e mais tarde, em 2014, quando serve de barriga de aluguer a Marinho e Pinto e consegue o incrível feito de eleger dois deputados ao Parlamento Europeu, entre eles o então líder do partido, José Inácio Faria.

A história já vai longa, mas esta é a história da verdadeira ecologia portuguesa. Muito diferente do PEV, que mais não é que um PCP pintado de verde. Com o nascimento do PAN e com a subida ao poder de André Silva, as circunstâncias alteraram-se e os defensores dos animais perceberam que esse nicho não era suficiente para crescer eleitoralmente e, por isso, vestiram-se de verde, mudaram de nome e abraçaram a causa da ecologia. Daí até ao sucesso foi um ápice, e o mesmo está aos olhos de todos nós.

Em resumo, a história da ecologia em Portugal, pelo menos ao nível partidário, sempre foi algo muito mais do centro-direita do que propriamente da esquerda. Paralelamente, sempre foi uma ecologia moderada, consciente, consistente, focada no mundo rural e na sua sustentabilidade, mas também nas nossas florestas. Uma ecologia que sabe que o ambiente importa, mas que as pessoas, as empresas e a economia também. É essa ecologia que faz falta a Portugal e que, infelizmente, não está representada na nossa direita. Pode ser que o espaço não socialista acorde para esta realidade.

 

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A direita não pode esquecer a ecologia


A história da ecologia em Portugal, pelo menos ao nível partidário, sempre foi algo muito mais do centro-direita do que propriamente da esquerda. Paralelamente, sempre foi uma ecologia moderada, consciente, consistente, focada no mundo rural e na sua sustentabilidade, mas também nas nossas florestas.


Nem sempre a ecologia foi uma coisa de esquerda. Se recuarmos à fundação da nossa democracia, facilmente constatamos que foram os monárquicos, dirigidos por Gonçalo Ribeiro Telles, os primeiros a colocarem as causas ambientais em cima da mesa do debate político – um trabalho que, aliás, já vinha do final da década de 60 e teve eco na Comissão Eleitoral Monárquica, no apoio à candidatura de Humberto Delgado e, mais tarde, na Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, liderada por Mário Soares e que integrava precisamente este grupo de monárquicos.

Com o advento da democracia nasceu o Partido Popular Monárquico, fruto da união de várias sensibilidades monárquicas, e Gonçalo Ribeiro Telles, líder do partido, acabou por se tornar subsecretário de Estado do Ambiente nos I, II e III Governos Provisórios. Logo depois torna-se secretário de Estado no I Governo Constitucional, dirigido pelo Partido Socialista e por Mário Soares.

Poucos anos mais tarde, em 1979, Sá Carneiro percebe que existia uma consciência ambiental em falta na AD e, por isso, chama o PPM para essa batalha. O mesmo Ribeiro Telles acabaria por ser eleito deputado nas legislativas de 1979, 1980 e 1983. Neste mesmo período, o PPM acabaria por ter também mais seis deputados (em ocasiões distintas), entre eles o Luís Coimbra, o Henrique Barrilaro Ruas e o Augusto Ferreira do Amaral. Entre 1981 e 1983, já depois de Camarate, Ribeiro Telles acabaria por integrar o VIII Governo Constitucional, chefiado por Francisco Pinto Balsemão, enquanto ministro de Estado e da Qualidade de Vida, Governo este onde figurava também Ferreira do Amaral como secretário de Estado da Estruturação Agrária.

Com o fim da AD, o PPM foi perdendo a sua relevância. Em 1987, o partido passa a ser presidido por Augusto Ferreira do Amaral e volta a ter algum protagonismo aquando da primeira candidatura de Miguel Esteves Cardoso ao Parlamento Europeu, que deixou o então jornalista às portas de Bruxelas, com um resultado de 2,77%.

Neste interregno entre o fim da AD e 1987, mais concretamente em 1984, Ribeiro Telles, Luís Coimbra e outras personalidades vindas do PPM criam o Movimento Alfacinha para se candidatarem à Câmara Municipal de Lisboa, onde acabariam por eleger um vereador. Dois anos depois, em 1985, Ribeiro Telles acabaria por se tornar deputado independente nas listas do PS.

Com a desilusão dos resultados das duas candidaturas do MEC ao Parlamento Europeu, começa a discutir-se no movimento monárquico se fazia mesmo sentido haver um partido defensor da causa – ou se os monárquicos deveriam estar em todos os partidos e organizados em associações não partidárias.

Há então um grupo de monárquicos que abandonam o PPM, entre eles Ribeiro Telles, para criarem em 1993 o MPT – Movimento Partido da Terra, que logo nas legislativas de 1995 acaba por ter um resultado miserável. Só haveria de se voltar a ouvir falar do partido quando, já liderado por Pedro Quartin Graça, em 1999, consegue eleger dois deputados pelas listas do PSD de Santana Lopes, e mais tarde, em 2014, quando serve de barriga de aluguer a Marinho e Pinto e consegue o incrível feito de eleger dois deputados ao Parlamento Europeu, entre eles o então líder do partido, José Inácio Faria.

A história já vai longa, mas esta é a história da verdadeira ecologia portuguesa. Muito diferente do PEV, que mais não é que um PCP pintado de verde. Com o nascimento do PAN e com a subida ao poder de André Silva, as circunstâncias alteraram-se e os defensores dos animais perceberam que esse nicho não era suficiente para crescer eleitoralmente e, por isso, vestiram-se de verde, mudaram de nome e abraçaram a causa da ecologia. Daí até ao sucesso foi um ápice, e o mesmo está aos olhos de todos nós.

Em resumo, a história da ecologia em Portugal, pelo menos ao nível partidário, sempre foi algo muito mais do centro-direita do que propriamente da esquerda. Paralelamente, sempre foi uma ecologia moderada, consciente, consistente, focada no mundo rural e na sua sustentabilidade, mas também nas nossas florestas. Uma ecologia que sabe que o ambiente importa, mas que as pessoas, as empresas e a economia também. É essa ecologia que faz falta a Portugal e que, infelizmente, não está representada na nossa direita. Pode ser que o espaço não socialista acorde para esta realidade.

 

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