A internet das coisas e o seu impacto em cidades inteligentes

A internet das coisas e o seu impacto em cidades inteligentes


Uma cidade inteligente é um ecossistema caracterizado por um uso massivo de tecnologias, tendo como objetivo melhorar a qualidade de vida, a segurança, o ambiente e a acessibilidade.


Num artigo anterior publicado neste jornal (A Internet das Coisas, edição de 15 de julho 2019), foi feita uma introdução ao conceito de Internet das Coisas (Internet of Things – IoT). No presente artigo ilustraremos algumas das aplicações mais relevantes de IoT numa cidade inteligente.

IoT tem uma gama vasta de aplicações, que vão da agricultura e automação industrial até às cidades inteligentes. Focaremos o artigo nas cidades inteligentes, dando deste modo ao leitor exemplos concretos do impacto da tecnologia IoT nas cidades. Uma cidade inteligente é um ecossistema caracterizado por um uso massivo de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), tendo como objetivo melhorar a qualidade de vida, a segurança, o ambiente e a acessibilidade na cidade, assim como a poupança de custos e a eficiência dos serviços e ativos no terreno. Neste contexto, a IoT, que é caracterizada pela instalação de um grande número de sensores para recolher informação, transmissão dessa informação para uma plataforma informática e respetiva tomada de decisões, assume um papel primordial na implementação de uma cidade inteligente. As aplicações baseadas em IoT numa cidade inteligente incidem principalmente sobre serviços de saúde, casas inteligentes, mobilidade, distribuição de energia elétrica e distribuição de água, embora não seja de excluir outros tipos de aplicações.

Nos serviços de saúde, a utilização de sensores ligados em rede e diretamente colocados no corpo da pessoa permitem a monitorização remota de pacientes por equipas médicas. Estes sensores podem realizar várias medidas, nomeadamente do ritmo cardíaco, dos níveis de transpiração, dos níveis de oxigénio e de açúcar no sangue, por exemplo. Usando IoT, torna-se então possível medir dados biométricos, armazená-los ao longo do tempo e analisar os resultados, permitindo uma assistência médica remota, mas permanente.

IoT está também na origem de uma nova vaga de aplicações em casas inteligentes. Estas casas são residências que utilizam dispositivos eletrónicos ligados à Internet para permitir a monitorização remota e a gestão de vários sistemas residenciais, tais como iluminação, ar condicionado, eletrodomésticos e aparelhos multimédia. Existe já uma grande variedade de produtos, desde termóstatos até máquinas de lavar e frigoríficos, preparados para serem ligados à rede e controlados remotamente. Este tipo de controlo é conveniente e seguro para os donos da habitação e permite-lhes gerir o estado da residência, muitas vezes através de uma simples aplicação no telemóvel.

A potencialidade de IoT para suportar aplicações que impactam positivamente a mobilidade do tráfego na cidade é de assinalar. Estas aplicações começam a ser instaladas e incluem, entre outras, controlo de semáforos, controlo de parqueamento e gestão automática de tráfego. Adicionalmente, os sensores que existem em muitos veículos elétricos estão conectados a plataformas remotas, enviando dados dos componentes do veículo em tempo real. A plataforma, através da análise dos dados, pode prever a falha de componentes, otimizar os custos de manutenção e aumentar a fiabilidade do veículo.

Numa cidade, a distribuição eficiente de energia elétrica e de água são aspetos fundamentais. Também aqui, a IoT vai intervir a nível aplicacional. As redes de energia elétrica têm estado a utilizar TIC para a monitorização e controlo da rede de distribuição. Foi neste contexto, que começaram a ser instalados os chamados contadores inteligentes (smart meters) em casa dos consumidores. Eles permitem, por exemplo, aos consumidores conhecer o consumo em tempo real e negociar a melhor altura para consumir energia de um modo mais barato. Também a instalação de sistemas eletrónicos com sensores ao longo da rede facilita a deteção e localização de avarias, a monitoração da qualidade de energia e a redução de perdas. No que respeita à distribuição de água potável, medições mais precisas na rede de distribuição facilitarão a deteção de perdas na rede, a determinação da qualidade da água e dos padrões da sua utilização pelos consumidores.

Poderíamos ainda estender esta gama de aplicações numa cidade inteligente com outras ligadas à recolha de lixo, à reciclagem num ambiente de economia circular e à segurança através do tratamento de imagens de câmaras de vídeo, para citar outros exemplos. Todas as aplicações mencionadas permitem desde já ajuizar do enorme impacto que a tecnologia IoT irá ter no futuro das cidades.

 

Professor Catedrático, Instituto Superior Técnico