A administração dos CTT vai sofrer uma nova baixa. O i sabe que Dionizia Ferreira vai abandonar o cargo de administradora dos Correios, não cumprindo assim o mandato até ao fim, que termina a 31 de dezembro. Esta é a segunda saída em menos de quatro meses. Contactada pelo i, fonte oficial da empresa diz apenas que “não foi apresentada nenhuma renúncia a nenhum cargo de administração nem houve deliberação alguma sobre a saída de qualquer administrador”.
Ao que o i apurou, esta decisão estará relacionada com o esvaziamento de funções que tem sido alvo nos últimos meses. Uma questão que ganhou maiores contornos depois de Francisco Lacerda ter abandonado a liderança dos CTT, já que Dionizia Ferreira era uma das suas pessoas de confiança.
A sua entrada na administração ocorreu em agosto de 2012 pelas mãos do antigo CEO da empresa, depois de uma passagem pelo setor financeiro. No entanto, a sua estreia nos CTT aconteceu em 2003 na liderança de Rui Horta e Costa, onde desempenhou funções de diretora comercial e de marketing, tendo sido responsável pelo marketing operacional e estratégico da rede de retalho, PME e grandes contas até 2007.
Recorde-se que, Francisco de Lacerda decidiu renunciar ao cargo em maio deste ano, “por entender ser do interesse da sociedade proceder a uma transição da liderança da equipa executiva dos CTT nesta fase, em que se encontram consolidados os três pilares críticos da estratégia aprovada para o mandato 2017/19”. O lugar foi ocupado por João Bento, até aí administrador não executivo da empresa – uma escolha do maior acionista dos Correios, Manuel Champalimaud, presidente da Gestmin.
Virar página
O i sabe que estas mudanças na administração representam uma tentativa de virar de página no rumo feito por Francisco de Lacerda à frente dos CTT, nomeadamente na relação entre a empresa e a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) que viveu verdadeiros braços de ferro. Com João Bento na liderança dos Correios foi dada a garantia de que a empresa não iria fechar mais balcões e que até iria reabrir alguns espaços, ao longo de 2019 e 2020. “A minha primeira prioridade é a aproximação dos CTT aos nossos clientes e os nossos clientes são o povo português”, chegou a afirmar o atual CEO numa das suas primeiras intervenções, acrescentando que “está decidido que não vai haver mais encerramentos de lojas”.
Em causa estava a informação avançada pelo regulador no início do ano de que os CTT iriam deixar mais 15 concelhos em Portugal sem estações de correios, com base em informação recebida em novembro de 2018. Em janeiro, havia 33 concelhos sem estações, como Pedrógão Grande, Gavião, Mondim de Basto ou Fornos de Algodres.
Ainda esta semana, a Anacom aprovou a decisão final sobre a densidade da rede postal e de ofertas mínimas de serviços proposta pelos CTT – Correios de Portugal. Esta luz verde foi dada depois de a empresa liderada por João Bento ter reformulado a proposta, visto que se encontra obrigada a assegurar a prestação da totalidade dos serviços concessionados, seja uma estação de correios ou um posto de correios com características equivalentes à das estações de correios. Um critério que, de acordo com o regulador, não tinha sido considerado na proposta inicial.
Para a entidade liderada por João Cadete de Matos não há dúvidas: “Em cada concelho, os CTT encontram-se obrigados a assegurar a prestação da totalidade dos serviços concessionados (e que funcionam em 99% dos concelhos do país todos os dias úteis durante um período mínimo diário de 6 horas e, nos restantes 1% dos concelhos, todos os dias úteis durante um período mínimo diário de 3 horas) e deverão ter as características que se consideram ser adequadas para assegurar a prestação dos serviços concessionados em condições equivalentes às das estações de correios que, em outros concelhos, cumprem as mesmas funções”. E dá uma justificação: “Estão em causa, nomeadamente, a garantia da inviolabilidade e o sigilo dos envios postais, a confidencialidade das informações transmitidas ou armazenadas e a proteção de dados pessoais e da vida privada”.
Também em cima da mesa está a negociação com o Governo em relação ao prazo de concessão que está em vigor até 2020. Recorde-se que os partidos de esquerda entregaram projetos de resolução no Parlamento para que fosse levada a cabo uma reversão da privatização e nacionalização da empresa que assegura a distribuição de correio pelo país – um cenário que foi afastado pelo PS, que quer esperar até 2020 para avaliar a possibilidade de nacionalização da empresa. No entanto, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, chegou a afirmar no Parlamento que não afastava a hipótese de reversão da privatização da empresa feita em 2014. “O Governo não exclui, neste momento, nenhum cenário”, referiu.
A questão foi criticada pelo maior acionista dos Correios. Manuel Champalimaud, presidente da Gestmin, chegou a admitir que o “barulho” sobre nacionalização tem “intuitos eleitoralistas” e alertou para custos para os contribuintes. “Uma decisão desse tipo só poderia ser tomada num contexto revolucionário, impensável na Europa de que somos parte”, disse, acrescentando que “ainda nesse cenário impensável, os contribuintes seriam chamados a pagar, não só pela reversão como pela operação que lhes cairia nas mãos”.
Recuperação de resultados
Outra aposta da administração de João Bento assenta na recuperação de resultados da empresa. Os CTT registaram um aumento de lucros nos primeiros seis meses do ano ao atingir os nove milhões de euros, uma subida de 21% em comparação com o período homólogo. A empresa justificou, em parte, esta subida com a integração da 321 Crédito e com o menor impacto dos itens específicos, nomeadamente gastos com indemnizações por rescisão de contratos de trabalho por mútuo acordo. Também os rendimentos operacionais ficaram em linha com o primeiro semestre de 2018, ascendendo a 355 milhões de euros, em que a atividade do correio e outros foi compensada pelo desempenho do Banco CTT e dos Serviços Financeiros. “Excluindo o efeito inorgânico da 321 Crédito (adquirida em maio de 2019), os rendimentos ascenderam a 349,9 milhões de euros”, referiu, na altura.
Um resultado que, segundo João Bento, marca o regresso ao crescimento do resultado líquido dos CTT, “reforçando a estabilidade dos rendimentos operacionais e verificando-se já o resultado positivo da aquisição da 321 Crédito”. “Os CTT vão continuar a implementar o plano de transformação operacional, para superar os objetivos de poupança já anunciados, mantendo a proximidade às populações, reforçando a qualidade do serviço e continuando a apostar na eficiência e inovação”, disse.
No final de junho, a empresa contava com 12561 trabalhadores (efetivos do quadro e contratados a termo), menos 38 quando comparados com igual período do ano anterior. Esta redução é justificada “pelo decréscimo verificado nas áreas de correio e outros (-193) e dos serviços financeiros (menos 3) que foi parcialmente compensada pelo reforço nas áreas de negócio de expresso e encomendas (+18) e do Banco CTT (+140), dos quais 115 resultam da integração da 321 Crédito”.