Empresário da mais fina craveira, empresarial e socialmente visionário, mecenas convicto, defensor acérrimo da instituição da família como sendo a principal célula de qualquer sociedade que se preze, patriota como, infelizmente para todos nós, hoje não há muitos, assim era um dos homens mais ricos do país. Riqueza que não representava para si vaidade e, por isso, não a sentia como um motivo de sobranceria ou distanciamento face aos que não a tinham.
As várias entrevistas que pessoalmente me encantavam vê-lo dar a qualquer televisão ou jornal transmitiam o saber de um homem agradecido à vida pelo sucesso que atingira, mas que não guardava só para si ou para os seus. Passava-o ao país como, de resto, todos podemos observar pelo papel que a fundação por si criada tem hoje na nossa sociedade. Mas, como empresário, não me alongo muito mais. Não o sendo, haverá os que o sejam e muito melhor conseguirão fazer-lhe justiça que eu. Faço-o noutra dimensão.
Pessoalmente, admirava-lhe sobretudo dois traços de personalidade. O primeiro, como atrás referi, o seu lado familiar, de verdadeiro patriarca de uma família formatada para honrar o seu nome e património. Era bonito ver um homem de 80 e muitos anos dizer, nas entrevistas que dava, que nunca vendeu o seu património, em primeiro lugar, para honrar o nome do seu avô, que sempre permitiu à família ter uma vida desafogada. Era ainda mais bonito ouvi-lo dizer que toda a família, depois da sua partida, estava já formatada pelos mesmos princípios. Recordo uma frase sua dizendo a um jornalista que os seus filhos e netos sabiam já bem que o património não é para vender, mas para aumentar, e que o dinheiro não é para comprar Porsches, mas para investir. Já não se fazem homens assim.
O segundo traço de personalidade que mais lhe admirava era o não fazer fretes intelectuais a ninguém. Aos outros empresários, a banqueiros, a políticos, ao Estado, a absolutamente ninguém. Claro que, em grande medida, só o podia fazer por não depender de nenhum destes espaços de influência, mas, ainda assim, tudo isto era demonstrativo da sua coragem, da sua impetuosidade, da sua independência, da sua imparcialidade e, sobretudo, da sua imensa inteligência.
Desengane-se quem neste país pense e diga que os empresários, os grandes patrões, são o problema do país. Não são. O grande problema deste país é não ter mais Alexandres Soares dos Santos. Ou mais Belmiros de Azevedo e Américos Amorim. Haveria mais emprego, haveria mais trabalho, mais formação, mais valor, haveria muito mais do que a todos nos faz falta e não temos.
A vida não me proporcionou conhecer Alexandre Soares dos Santos pessoalmente. Tenho pena. Certo estou que aprenderia mais com ele em cinco minutos do que em 50 anos com muitos dos que o criticaram uma vida inteira.