Começa hoje mais uma edição do festival EDP Vilar de Mouros, o último “grande” festival de verão do país, que até domingo leva à freguesia minhota, no concelho de Caminha, um público consolidado.
Chamam-lhe o Woodstock português, epíteto conquistado com a idade e com a transversalidade de cartazes, feitos de afinidades suficientes para perpassar por gerações. “Apostamos muito no encontro das pessoas com as suas raízes, com aquelas bandas que as marcaram não só a elas, mas também aos seus pais, e que agora estão a marcar os seus filhos. Este é o espírito de Vilar de Mouros”, confirmou à Renascença Diogo Marques, um dos responsáveis pela organização.
Este ano são esperados mais de 40 mil festivaleiros, um cenário bem diferente daquele longínquo ano de 1965, ano em que o festival nasceu pelas mãos de um médico apaixonado por Vilar de Mouros e movido pela liberdade. Numa época pré-25 de Abril, nas primeiras edições, em palco, a música de intervenção fundia-se com os ranchos folclóricos e com a atuação da Banda da Guarda Nacional Republicana, convidados para despistar a PIDE do que ali se pretendia realmente fazer: contracultura. Em 71 veio a edição marcada pelas atuações de Elton John e Manfred Mann, que viria a sedimentar o festival e tornar-se uma referência.
Ao longo dos anos, Vilar de Mouros – que sofreu um interregno entre 2006 e 2014 – tem sarado as feridas e acompanhado as tendências e as necessidades dos públicos, e a edição deste ano é precisamente um cumular destes pontos. A organização de um festival que acontece em fusão com a natureza e o rio Coura aposta cada vez mais em medidas ecológicas, às quais junta as ofertas de novos palcos, passadeiras e entradas exclusivas para pessoas com mobilidade reduzida e uma maior área de restauração, que vai permitir que, mesmo a jantar, os visitantes tenham “uma visão direta para os concertos”, referiu a organização, que espera nesta edição a maior audiência de sempre.
Em tempos de alerta ambiental, falar de mais medidas ecológicas é um chavão comum a todos os eventos. Mas a organização do Vilar de Mouros definiu objetivos bem concretos. A relva cortada no terreno do recinto vai depois ser colocada em combustores e, daqui a meio ano, os compostos orgânicos daí resultantes serão devolvidos, já como adubo natural, ao mesmo solo.
Também a água necessária aos banhos dos visitantes vai ser reutilizada nas sanitas e há uma nova zona de tratamento e separação de lixos.
Em termos de mobilidade, a organização disponibiliza transfers gratuitos entre as praias. Para quem preferir reduzir ainda mais a pegada ecológica há bicicletas, também gratuitas, prontas para serem utilizadas e que podem bem ser o meio de transporte preferencial para um pulinho a Caminha, logo ali ao lado.
O recinto é igualmente maior, para proporcionar um maior conforto aos visitantes, e acampar começa este ano a ter também regalias inéditas neste que é o mais antigo festival da Península Ibérica: a organização vai disponibilizar a entrega de pequenos-almoços ao domicílio, isto é, às tendas, que vão estar disponíveis mediante reserva.
Para lá das comodidades que facilitam a vida aos campistas, o grande chamariz é, claro está, o cartaz. Nos palco EDP, o principal, e Meo, o secundário – que não terão concertos sobrepostos –, vão passar até sábado nomes como The Cult, Gang of Four, Therapy?, Prophets of Rage, The Offspring, Sisters of Mercy, Manic Street Preachers, Skunk Anansie e Gogol Bordello. Mas quem quiser continuar a festa poderá fazê-lo: até sábado, a zona After Rock vai ter DJ’s de serviço, prontos para que música se prolongue até às quatro da manhã.