A primeira foi para os pardais!


Agosto, mês por natureza de descanso em que qualquer cidadão, depois de um ano de trabalho, gosta de gozar as férias em completa tranquilidade. É mais que merecido. Pelo país que temos mas, sobretudo, pelo que deveríamos ter e não existe. Só lamento que, contrastando com outras aves migratórias que nesta época do ano preferem…


Agosto, mês por natureza de descanso em que qualquer cidadão, depois de um ano de trabalho, gosta de gozar as férias em completa tranquilidade. É mais que merecido. Pelo país que temos mas, sobretudo, pelo que deveríamos ter e não existe. Só lamento que, contrastando com outras aves migratórias que nesta época do ano preferem fugir do calor peninsular trocando-o por uma maior frescura, em Portugal continuemos a ser fustigados por uma qualquer espécie de pardal que, com o seu espalhafatoso e inconstante esvoaçar, não obstante já tudo estar a arder, ainda mais inflama o fogo já existente com o combustível que lhe vai escorrendo das penas ao passar. Digo isto de uma forma mais elaborada quando, na verdade, o que quero dizer é que é absolutamente vergonhoso aquilo a que mais uma vez estamos a assistir. Greves vai havendo muitas. Greves contra o patronato, assentes na base do quase ancestral combate entre o empregado e o empregador, “it’s Monday in the office”. Mas uma greve que, mais do que atentar contra o patronato, atenta contra todo o povo português, é a primeira vez que vejo. Pode ser um laivo de inovação. Pode ser uma leve brisa de modernidade. Daquilo que alguns consideram modernidade. A mim enoja-me apenas. Não por considerar não haver na classe profissional que sustenta a greve em causa motivos para desgaste e insatisfação. Há. Como, de resto, há na vida profissional de qualquer e cada um de nós, independentemente da área em que trabalhemos. O que digo é que não é a parar o país que o cenário muda. Muito pelo contrário. Quando a ave voa baixinho, pouca é a altitude que atinge. Ou, se quiserem, quem nasce para lagartixa nunca chega a jacaré. É o nosso triste fado. Devo, no entanto, fazer uma ressalva. Sou dos que nestas páginas mais frequentemente critico esta espécie de Governo que durante quatro anos conduziu os destinos de Portugal. Esta semana, porque é de inteira justiça fazê-lo, devo uma palavra de admiração e elogio a António Costa. Até pareceu um verdadeiro estadista. E digo pareceu porque no mundo atual não os há. Mas impôs-se. Depois de uma primeira greve, em que não se preparou e demonstrou inaptidão política, mostrou agora que essa primeira, como se diz, foi para os pardais. Mostrou quem manda. Deixou muito claro que os serviços mínimos são para garantir sem o mínimo pudor. E se mais for necessário agilizar, fá-lo-á. Parece pela primeira vez estar a demonstrar que não vacilará a exigências pelo medo de perder votos. Também, verdade seja dita, não precisa que isso aconteça porque, mesmo não tendo o maior número deles, governa. Mas mostrou sapata política. Mostrou personalidade. Só espero que assim se mantenha fazendo politicamente, friso, politicamente, a sua posição, tiro de chumbo grosso nos voos do ardente pardalito. Atendendo ao que tiver de atender. Com justiça. Mas com a força de quem não pode ceder a que uns, por mais legítimos que sejam os seus argumentos, possam prejudicar todos os outros. Uma classe profissional não pode ter-nos a todos como reféns. António Costa parece saber reinventar-se nos cenários aparentemente mais desfavoráveis. É esse o seu grande trunfo. Aqui chegados, num misto de férias de verão, um bom momento de força e o facto de o português, no essencial, teimar em não discutir o futuro do país a mais de quatro anos, antevejo dois resultados para outubro. A maioria absoluta de Costa ou, no limite da mesma, a reedição da geringonça com o PAN. Não desejo o primeiro cenário, mas abomino, por perigoso, o segundo. Não vá um qualquer pardal virar avião.

 

Escreve à sexta-feira

A primeira foi para os pardais!


Agosto, mês por natureza de descanso em que qualquer cidadão, depois de um ano de trabalho, gosta de gozar as férias em completa tranquilidade. É mais que merecido. Pelo país que temos mas, sobretudo, pelo que deveríamos ter e não existe. Só lamento que, contrastando com outras aves migratórias que nesta época do ano preferem…


Agosto, mês por natureza de descanso em que qualquer cidadão, depois de um ano de trabalho, gosta de gozar as férias em completa tranquilidade. É mais que merecido. Pelo país que temos mas, sobretudo, pelo que deveríamos ter e não existe. Só lamento que, contrastando com outras aves migratórias que nesta época do ano preferem fugir do calor peninsular trocando-o por uma maior frescura, em Portugal continuemos a ser fustigados por uma qualquer espécie de pardal que, com o seu espalhafatoso e inconstante esvoaçar, não obstante já tudo estar a arder, ainda mais inflama o fogo já existente com o combustível que lhe vai escorrendo das penas ao passar. Digo isto de uma forma mais elaborada quando, na verdade, o que quero dizer é que é absolutamente vergonhoso aquilo a que mais uma vez estamos a assistir. Greves vai havendo muitas. Greves contra o patronato, assentes na base do quase ancestral combate entre o empregado e o empregador, “it’s Monday in the office”. Mas uma greve que, mais do que atentar contra o patronato, atenta contra todo o povo português, é a primeira vez que vejo. Pode ser um laivo de inovação. Pode ser uma leve brisa de modernidade. Daquilo que alguns consideram modernidade. A mim enoja-me apenas. Não por considerar não haver na classe profissional que sustenta a greve em causa motivos para desgaste e insatisfação. Há. Como, de resto, há na vida profissional de qualquer e cada um de nós, independentemente da área em que trabalhemos. O que digo é que não é a parar o país que o cenário muda. Muito pelo contrário. Quando a ave voa baixinho, pouca é a altitude que atinge. Ou, se quiserem, quem nasce para lagartixa nunca chega a jacaré. É o nosso triste fado. Devo, no entanto, fazer uma ressalva. Sou dos que nestas páginas mais frequentemente critico esta espécie de Governo que durante quatro anos conduziu os destinos de Portugal. Esta semana, porque é de inteira justiça fazê-lo, devo uma palavra de admiração e elogio a António Costa. Até pareceu um verdadeiro estadista. E digo pareceu porque no mundo atual não os há. Mas impôs-se. Depois de uma primeira greve, em que não se preparou e demonstrou inaptidão política, mostrou agora que essa primeira, como se diz, foi para os pardais. Mostrou quem manda. Deixou muito claro que os serviços mínimos são para garantir sem o mínimo pudor. E se mais for necessário agilizar, fá-lo-á. Parece pela primeira vez estar a demonstrar que não vacilará a exigências pelo medo de perder votos. Também, verdade seja dita, não precisa que isso aconteça porque, mesmo não tendo o maior número deles, governa. Mas mostrou sapata política. Mostrou personalidade. Só espero que assim se mantenha fazendo politicamente, friso, politicamente, a sua posição, tiro de chumbo grosso nos voos do ardente pardalito. Atendendo ao que tiver de atender. Com justiça. Mas com a força de quem não pode ceder a que uns, por mais legítimos que sejam os seus argumentos, possam prejudicar todos os outros. Uma classe profissional não pode ter-nos a todos como reféns. António Costa parece saber reinventar-se nos cenários aparentemente mais desfavoráveis. É esse o seu grande trunfo. Aqui chegados, num misto de férias de verão, um bom momento de força e o facto de o português, no essencial, teimar em não discutir o futuro do país a mais de quatro anos, antevejo dois resultados para outubro. A maioria absoluta de Costa ou, no limite da mesma, a reedição da geringonça com o PAN. Não desejo o primeiro cenário, mas abomino, por perigoso, o segundo. Não vá um qualquer pardal virar avião.

 

Escreve à sexta-feira