Uma geração que corre risco de ficar imbecilizada


Há toda uma geração cuja infância se vai escoando enquanto olha para um ecrã a ver alguém a fazer umas macacadas sem sentido


Qualquer pessoa com um bocadinho de bom senso percebe que o tempo não volta para trás e que é inútil lutar contra o progresso. Ainda assim, continuam a fazer-me muita confusão fenómenos modernos como este “abominável mundo novo” dos bloggers, youtubers, influencers e quejandos.

Como a concorrência no setor é cada vez mais aguerrida, os novos ídolos fazem as coisas mais estapafúrdias e por vezes até perigosas para conquistarem seguidores. Alguns canais, com as suas proezas, acrobacias ou palhaçadas, são o equivalente contemporâneo do velho circo.

E o que tem isso de tão grave?, perguntar-me-ão.

Começarei por responder com dois exemplos. Há uma semana, um desses youtubers morreu enquanto filmava um salto de uma torre de uma fábrica de cimento em Espanha. O paraquedas não abriu e a brincadeira acabou da pior maneira. Precisamente uma semana antes, no último dia de julho, um seu condiscípulo morrera também num salto, este de parapente.

Como é evidente, o problema não se resume a estas tragédias pessoais.

Por um lado, o exemplo que estes youtubers transmitem aos seus seguidores acaba por promover a imitação dos seus comportamentos.

Por outro lado, e isso é igualmente preocupante, há toda uma geração cuja infância se vai escoando enquanto olha para um ecrã a ver alguém a fazer umas macacadas sem sentido.

Na TV, no computador ou no telemóvel, as crianças vão assimilando os “ensinamentos”, a postura, a vacuidade e até a maneira de falar destes novos ídolos acéfalos.

Depois da infantilização dos adultos, que se agarram aos telemóveis como uma criança se agarra aos brinquedos, só nos faltava esta: uma geração inteira de crianças que corre um sério risco de imbecilização.

A televisão e o computador sempre tiveram o poder de educar ou deseducar o povo. É uma pena, mas hoje é de longe a segunda tendência que prevalece.