Supertaça Europeia. Uma noite que vai ficar para a história

Supertaça Europeia. Uma noite que vai ficar para a história


A primeira final da competição disputada exclusivamente por equipas inglesas vai ser dirigida por uma mulher – um marco inédito nos 65 anos de existência da UEFA.


A temporada 2019/20 já arrancou oficialmente em muitos campeonatos da Europa, inclusive no inglês, mas ainda foi possível arranjar um cantinho no calendário para disputar a Supertaça Europeia, prova que nasceu em 1973 – ou, a nível “não oficial”, no ano anterior, numa edição patrocinada pelo jornal holandês De Telegraaf e que não é reconhecida pela UEFA.

Frente a frente estarão, pela primeira vez, precisamente dois emblemas que disputam a Premier League, embora por feitos que nada têm a ver com a competição interna: de um lado, o Liverpool, vencedor da Liga dos Campeões na temporada passada; do outro, o Chelsea, que conquistou a Liga Europa – curiosamente, em duas finais igualmente 100 por cento inglesas (Liverpool-Tottenham e Chelsea-Arsenal). O duelo em Istambul, porém, marcará também o que se pode vir a revelar como o início de uma nova era no futebol: a dirigir a partida estará uma… italiana.

Isso mesmo: a partida entre reds e blues terá uma árbitra. A francesa Stéphanie Frappart, de 35 anos, já havia sido a primeira árbitra a dirigir um encontro da Ligue 1, o principal escalão do futebol francês, no passado mês de abril (Amiens-Estrasburgo), depois de se ter estreado na segunda divisão em 2014, e torna-se assim a primeira mulher a ser nomeada pela UEFA para arbitrar uma final de uma competição internacional de futebol masculino. A equipa de arbitragem, de resto, será quase toda feminina: a também gaulesa Manuela Nicolosi e a irlandesa Michelle O’Neill serão as auxiliares, com o turco Cuneyt Çakir como quarto árbitro e único elemento masculino.

Juíza da final do último Mundial feminino, ganha pelos Estados Unidos (2-0 à Holanda), Stéphanie Frappart é árbitra desde os 13 anos e internacional desde 2011. Terá aqui mais uma prova de fogo – quiçá a maior da carreira, pelo mediatismo envolvido –, curiosamente num país que está longe de ter os direitos das mulheres como preocupação principal: a partida disputar-se-á em Istambul, Turquia. “Espero que as aptidões e a devoção mostrados por Stéphanie ao longo da carreira até chegar a este nível inspire milhões de outras raparigas e mulheres por toda a Europa e lhes mostre que não devem existir barreiras para se alcançarem os sonhos”, salientou Aleksander Ceferin, o presidente da UEFA, no comunicado emitido pelo organismo aquando da nomeação da árbitra francesa.

Por agora, este ainda é um cenário que pode criar alguma estranheza nos adeptos mais “tradicionais”. É preciso realçar, todavia, exemplos como o de Bibiana Steinhaus, que já dirigiu 15 partidas da Bundesliga e 12 da Taça da Alemanha, que apontam para uma mudança cada vez mais crescente de mentalidades: num futuro mais ou menos próximo, provavelmente começará a ser cada vez mais habitual encontrar mulheres a apitar jogos de futebol masculino.

Chelsea à deriva sem Hazard Voltando o foco novamente para as forças em confronto, encontramos duas equipas em estados bem diferentes. O Liverpool até já disputou outra Supertaça esta época, a inglesa, caindo nos penáltis o Manchester City depois do 1-1 no tempo regulamentar. Seguiu-se um tranquilo triunfo por 4-1 sobre o recém-promovido Norwich na abertura da Premier League, num jogo onde ainda assim não foram tudo rosas: Alisson, guarda-redes internacional brasileiro, lesionou-se logo na primeira parte e irá ficar várias semanas afastado dos relvados.

A baliza dos reds ficará assim entregue a Adrián, guarda-redes espanhol de 32 anos que chegou neste defeso à cidade dos Beatles depois de seis épocas a representar os londrinos do West Ham. A ideia era substituir o belga Mignolet como segunda opção na hierarquia, mas agora terá de ser mesmo o guardião natural de Sevilha a assumir a baliza. Ainda na última semana, de resto, o Liverpool oficializou a contratação de Andy Lonergan, guarda-redes inglês de 35 anos que se encontrava sem clube, depois de terminada a ligação ao secundário Middlesbrough, e que já tinha participado na pré-temporada dos reds – foi mesmo suplente não utilizado no empate (2-2) frente ao Sporting. Hoje, ficará no banco na Supertaça Europeia, um patamar a que dificilmente já poderia aspirar num passado bem recente…

Nos 23 eleitos por Jurgen Klopp para o encontro de Istambul, realce ainda para a chamada de Harvey Elliot, extremo que atingiu o reconhecimento mundial ao estrear-se na Premier League com apenas 16 anos e 30 dias pelo Fulham – poucos meses antes, ainda com 15, já tinha atuado num encontro referente à Taça da Liga.

De fora ficou, além de Alisson, também o central croata Lovren, igualmente por motivos físicos. Todos os outros atletas que compõem o plantel dos reds estão à disposição de Klopp, com natural destaque para o trio atacante composto por Salah, Sadio Mané e Roberto Firmino, mas também os defesas Van Dijk, Robertson e Alexander-Arnold, os médios Fabinho, Henderson, Milner ou Wijnaldum e os atacantes Shaqiri ou Origi, um autêntico talismã na fase decisiva da última temporada.

Do outro lado, um Chelsea renovado, a começar logo pelo comando técnico: Maurizio Sarri regressou à sua Itália natal, agora pelas portas da todo-poderosa Juventus, e os blues resolveram entregar a equipa a Frank Lampard, inquestionavelmente um dos maiores jogadores da sua história. Sem reforços de monta, o conjunto londrino ainda passa pelas dores de crescimento normais para quem perdeu a maior estrela nas últimas seis temporadas: Eden Hazard, transferido por cerca de 100 milhões de euros para o Real Madrid. Para já, a entrada em cena na nova temporada não foi a mais animadora: o Chelsea foi goleado em Old Trafford pelo Manchester United (4-0).

Passado a favor dos Reds Nestas coisas, já se sabe, a história não joga. Mas, na realidade, joga sempre um bocadinho, e a verdade é que o Liverpool é a equipa inglesa com maior sucesso na competição: três vitórias em cinco finais disputadas. Melhor: foi mesmo a última equipa oriunda da Premier League a vencer o troféu, já no “longínquo” ano de 2005, batendo os russos do CSKA de Moscovo (3-1 após prolongamento), poucos meses depois “daquela” final de Champions ganha nos penáltis frente ao AC Milan… em Istambul.

Daí para cá, foram quatro finais disputadas e quatro derrotas para equipas inglesas: duas para o Manchester United… e duas para o Chelsea, que no palmarés ostenta um único triunfo, em 1998, ainda detendo o estatuto de vencedor da Taça das Taças – foi só a partir de 1999, com a extinção dessa competição, a Supertaça Europeia passou a opor o vencedor da Liga dos Campeões ao da Taça UEFA/Liga Europa.

Nos últimos anos, de resto, a prova tem sido dominada por equipas espanholas: venceram nove das últimas dez edições, igualmente repartidas por Barcelona, Atlético de Madrid (o atual detentor, depois do triunfo por 4-2 sobre o Real Madrid, após prolongamento, na época passada) e Real Madrid (três cada). Só o Bayern de Munique, em 2013, se intrometeu nesta contabilidade. Certo é que este ano terá lugar a oitava vitória de uma equipa inglesa: reds ou blues, saber-se-á a partir das 20 horas de hoje.

Registo ainda para o único triunfo de uma equipa portuguesa: aconteceu em 1987 e foi conseguido pelo FC Porto, numa altura em que a prova ainda se disputava a duas mãos. Os dragões, ostentando o título europeu conquistado meses antes, venceram o Ajax em casa e fora por 1-0.