O bebé prematuro que viajou 281km e uma ADSE para todos


Um aviso à navegação: escrevo esta crónica enquanto sinto raiva a escorrer-me pelas veias.  Todos já tivemos boas e más experiências no serviço nacional de saúde. Todos já tivemos a sorte de ser presenteados com profissionais incríveis e incansáveis. Mas também todos já tivemos o azar de esbarrar com profissionais com pouca ou nenhuma vocação,…


Um aviso à navegação: escrevo esta crónica enquanto sinto raiva a escorrer-me pelas veias. 

Todos já tivemos boas e más experiências no serviço nacional de saúde. Todos já tivemos a sorte de ser presenteados com profissionais incríveis e incansáveis. Mas também todos já tivemos o azar de esbarrar com profissionais com pouca ou nenhuma vocação, ou simplesmente a trabalharem com falta de condições materiais e humanas que lhes permitam bom trabalho.

Muitos de nós temos a sorte de ter seguros de saúde e dessa forma recorrer ao privado. Também aí já tivemos boas e más experiências. Mas, comparando com o público, a experiência é quase sempre melhor. Caso seja má, temos sempre a possibilidade de denunciar o caso, de apresentar reclamações e de exigir soluções. Algo que – poderá dizer-me o leitor – em tese também poderia acontecer no público. A verdade é que quase nunca vemos consequências práticas destas reclamações. A essência do Estado é burocrática e esconde-se atrás dessa mesma burocracia para camuflar e abafar a sua ineficiência. 

Ainda esta semana uma família perdeu um bebé prematuro por não existirem incubadoras no Algarve. O ridículo da situação é terem que transferir um bebé e a sua mãe de Faro para Sintra, ou seja 281 km de distância. Repito: 281 km! Se fizermos uma analogia são pouco menos quilómetros do que ter que transferir um bebé de Manchester para Londres, ou do Porto para Lisboa. São mais quilómetros do que transferir um bebé prematuro de Bruxelas para Amesterdão, ou de Frankfurt para o Luxemburgo, ou de Viena para Budapeste, ou ainda de Los Angeles para Tijuana. São quase o dobro dos quilómetros do que a distância entre Nova Iorque e Filadélfia, ou Dublin e Belfast.

Será que com a carga fiscal que somos obrigados a suportar temos mesmo que viver num país que trata assim mulheres grávidas? Viver num país que deixa morrer os nossos bebés? Será que o nosso Estado será mesmo competente na hora de tratar da nossa saúde? São estas as perguntas que devemos fazer a nós próprios e é em relação a estas questões que os partidos e os políticos têm a obrigação de dar uma resposta no seu programa eleitoral. 

Até ao momento, a única proposta interessante e disruptiva foi apresentada pela Iniciativa Liberal: uma ADSE para todos. Ou seja, citando o programa da IL, o que eles defendem é: “O alargamento de uma ADSE reformada, como um sistema de seguro social, em que a pessoa pode escolher onde quer ser tratada, seja na rede hospitalar do Estado ou em privados que adiram ao sistema”. Trocando por miúdos: já que somos obrigados a pagar os nossos impostos, ao menos tenham a decência de nos deixarem decidir onde vamos ser tratados. Simples, claro e obviamente eficaz.

Publicitário