A330. “É uma falha grande na segurança dos tripulantes”

A330. “É uma falha grande na segurança dos tripulantes”


Fonte da TAP diz ao i que há falta de lugares para tripulantes nos A330, os aviões onde também se registam os enjoos misteriosos. Sindicato confima informação, mas a companhia aérea desmente.


Não é só a questão dos enjoos misteriosos que preocupa a tripulação que voa nos A330: fontes da companhia aérea que não quiseram ser identificadas disseram ao i que não existem lugares suficientes na parte de trás do avião para que os comissários e hospedeiras de bordo se possam sentar em caso de turbulência severa. Esta situação é confirmada pelo Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), mas desmentida pela TAP.

“Se, de repente, houver turbulência moderada a severa, não há lugares disponíveis para todos os tripulantes que se encontram na parte de trás do avião. O avião está distribuído por quatro portas: as portas 1 estão ao lado do cockpit, as 2 são aquelas por onde normalmente as pessoas entram, as 3 nunca são abertas, e é onde se coloca a manga em caso de urgência, e as 4 ficam ao pé da galley [a cozinha do avião, no fundo do avião]. Costumam trabalhar três pessoas na parte de trás da aeronave, mas só existem dois lugares para a tripulação. Se houver turbulência sem previsão, alguém tem de ir a correr para a porta 3. Com turbulência severa, isso pode ser muito perigoso e pode nem sequer dar tempo para chegar lá”, disse ao i fonte da TAP que não quis ser identificada.

“O espaço para esses lugares é agora ocupado por passageiros. Estes aviões levam mais passageiros do que os outros, mas deixam muito a desejar em termos de segurança para os tripulantes”, disse outra fonte ao i.

Esta situação é confirmada pelo SNPVAC: “Acontece que chegam a trabalhar quatro tripulantes na zona de trás do avião e se houver uma emergência, uma instabilidade, turbulência que não seja esperada e que seja de intensidade moderada a severa, é necessário as pessoas sentarem-se e apertarem imediatamente o cinto de segurança. Para que todos estejam em segurança, é necessário que alguns tripulantes atravessem várias filas a correr para chegarem a um sítio onde se possam sentar”, explica ao i Luciana Passo, presidente da SNPVAC.

O sindicato diz que esta é “uma falha grande na segurança dos tripulantes”. Mas estes não são os únicos aviões onde tal acontece: os A321 também têm o mesmo problema. “Nos A321, que foram modificados e nos quais foram retirados espaços até de vestiários para serem colocadas cadeiras de passageiros, também falta um [lugar]”, explica a mesma responsável.

No entanto, Luciana Passo considera que o caso dos A330 é mais grave. “Este é um avião novo, que veio da fábrica para ser estreado pela TAP. Era conveniente que tivessem tido em conta essa especificidade e que pensassem na segurança dos tripulantes durante os voos. Estamos a tentar ver o que a TAP vai fazer, sabendo nós, desde logo, que vai ser complicado, porque tudo o que implica mexer no interior ou exterior de um avião acarreta custos”, disse a presidente do sindicato.

O sindicato diz ter uma solução “muito simples” para resolver este problema: “Até estar estabelecido onde é que nós nos vamos sentar ou que lugares é que vão ser colocados, a TAP bloqueia dois lugares de passageiros na última fila para que a tripulação se possa sentar, assegurando, em caso de turbulência, uma cadeira e um cinto de segurança”, sugere Luciana Passo.

Confrontada pelo i com esta informação, a TAP mostra um cenário diferente, dizendo que “não é verdade que os Airbus A330neo não tenham lugares suficientes no fundo do avião para tripulantes. A aeronave está certificada com os lugares necessários e conta ainda com Crew Rest para descanso da tripulação”.

O i pediu esclarecimentos à Airbus, mas, até ao fecho desta edição, não obteve resposta.

Novos casos de enjoos No sábado passado, o SOL avançou que alguns pilotos estão a aterrar os A330 com máscaras colocadas. A imagem dos dois profissionais a usar máscaras foi partilhada em grupos nas redes sociais. Confrontada com esta informação, a TAP garantiu que “não houve qualquer risco de segurança para clientes, tripulantes ou avião. As máscaras foram corretamente usadas, a título meramente preventivo e em conformidade com os procedimentos operacionais estabelecidos face à incerteza da origem do odor”. De acordo com o semanário, esta não é a primeira vez que pilotos aterram com as máscaras colocadas.

O mesmo jornal escreve ainda que continuam a ser registados casos de pessoas que se semtem maldispostas e enjoadas depois de viajarem nesta aeronave. Ao i, Luciana Passo confirma que continuam a chegar queixas ao sindicato, mas com menor frequência. “O número de casos baixou, mas não desapareceu. Ainda na semana passada foi reportado mais um”, diz a presidente do SNPVAC.

Face à falta de respostas, o sindicato decidiu lançar mãos à obra: “Aos tripulantes nada é dito. Por isso, resolvemos fazer por nós – e temos autorização da TAP – os testes. Temos uma entidade certificada, que tem tudo para que seja possível realizar análises ao sangue e urina e depois uma oximetria [exame que serve para medir a saturação do oxigénio do sangue], para tentar perceber o que é que se passa. Alguns exames vão ser feitos em agosto e outros em setembro”, explicou Luciana Passo ao i.

Máquinas coladas com fita-cola Segundo o SOL, são precisamente os níveis de oxigénio que preocupam alguns tripulantes. “Estes aviões têm capacidade para levar mais pessoas. Mas os níveis de oxigénio aumentaram? A sensação que temos é que o oxigénio não é suficiente para todas as pessoas que estão dentro da aeronave», explicou fonte da companhia aérea.

A TAP instalou nos A330 medidores de oxigénio para ter a certeza que os níveis estão dentro do normal, mas existem algumas dúvidas no que diz respeito ao funcionamento destes aparelhos: “Por vezes parece que não estão a trabalhar”, contou uma fonte da TAP ao mesmo jornal. “Alguns estão colados com fita-cola. Não parece ser algo muito fidedigno”, disse outra fonte.

A TAP disse àquele semanário que “não há qualquer registo de gases tóxicos a bordo dos Airbus A330neo, como comprovam as dezenas de testes já realizados a bordo. Com efeito, os testes levados a cabo com o Aerotracer, equipamento que permite efetuar em tempo real e continuadamente a análise do ar na cabina do avião, indicam que a qualidade do ar nos A330neo está claramente dentro dos parâmetros e dos padrões de certificação das aeronaves”.

“Não é verdade que haja insuficiência de oxigénio a bordo dos aviões da TAP, para além da normal que resulta da altitude a que os voos são operados, facto que é transversal à indústria e independente do fabricante”, acrescenta.

American Airlines tem o mesmo problema Mas não é só na TAP que existem problemas com os aviões da Airbus – a companhia norte-americana American Airlines também tem registado casos parecidos com os que são reportados em Portugal.

No passado dia 28 de julho, os tripulantes e passageiros de um voo que fazia a ligação entre Londres e Filadélfia começaram a sentir um “forte cheiro a meias sujas”. O avião acabou mesmo por aterrar de emergência em Boston e dez pessoas tiveram de ser assistidas no hospital.

“A aeronave, um Airbus A330-300 com 154 passageiros e uma tripulação de 12 membros a bordo, aterrou em segurança às 11h48. Dez dos 12 tripulantes pediram para serem assistidos no hospital local. Tiveram todos alta mais tarde. Nenhum dos passageiros teve problemas semelhantes”, confirmou ao SOL fonte oficial da American Airlines.