Supertaça. A máquina de calcular do dragão e os outros que contem pelos dedos

Supertaça. A máquina de calcular do dragão e os outros que contem pelos dedos


Açambarcador de Supertaças por excelência, o FC Porto tem 21 em 39. Uma superioridade total que nem merece discussão. Quanto ao Benfica, está a uma vitória de igualar o Sporting. Mais um acicate para domingo.


Na altura foi uma surpresa, mas nem total nem absoluta. Havia gente (nestas coisas há sempre gente) que avisara de véspera que o FC Porto andava esgotado, sem poder com uma gata pelo rabo. Mas, lá está, também há sempre gente que duvida, crente nas suas cores, crente no moral das suas tropas, crente que pode lutar contra a descrença seja onde for e por mais que ela teime em aparecer. Bom, perante os factos, cabe dizer que estavam certos os primeiros, os tais que diziam que a equipa treinada por Quinito se tinha em pé bamboleante. Em Guimarães, no antigo Municipal, caiu ao fim de dois abanões.

O Vitória tinha um avançado chamado Décio António que combinava com outro brasileiro, Chiquinho Carlos, de forma prazerosa. Juntava-se-lhes um outro brasileiro, este de nome Roldão, e era um ver se te avias quando a tripla parecia estar de acordo com o deve e o haver de cada um. Nem mais. Primeira mão da Supertaça, dia 28 de setembro de 1988. O FC Porto foi por aí abaixo aos trambolhões, logo um FC Porto que ganhara recentemente a sua primeira Taça dos Campeões Europeus, e perdeu por 0-2, golos de Décio e N’Dinga.

Ficou-se na expetativa para a segunda mão. Não era resultado fácil, mas também não parecia tarefa impossível. Em outubro, os portistas pareciam mais equilibrados, mas de nada lhes serviu. Bem se esforçaram Sousa e Rui Águas, Domingos Paciência e Vermelhinho, chamado ao banco na fase do desespero. Começou zero a zero e acabou zero a zero. O Vitória de Guimarães celebrava a vitória na Supertaça, primeiro grande troféu da sua história, já que a vitória na Taça de Portugal só surgiria em 2013. O FC Porto fora campeão, ganhara a Taça, vira-se obrigado a disputar a Supertaça contra o finalista, como tantas vezes acontece. É mais normal que, numa situação do género, o duplo vencedor entre pela estrada da terceira vitória. Em 1988, não foi assim.

Histórico! Essa vitória do Vitória, por outro lado, entrou para a história, desculpem lá estas involuntárias aliterações. Nos 40 anos que a Supertaça (agora acrescida do Cândido de Oliveira) leva de existência, e que se cumprem precisamente este ano, fica pendurada como única. Todos os outros somam mais, sendo o FC Porto um bicho-papão de Supertaças. Tomou-lhes o gosto e o jeito, embora perdendo logo a primeira, em 1979, e em casa, nas Antas, frente ao Boavista. Daí para cá desatou a açambarcar e vai em 21. O que, num total de 39 – a 40.a é no domingo –, dá mais do que os outros quatro todos juntos, algo que remete para os domínios da cabazada, vamos e venhamos.

Como campeão ou como vencedor da Taça de Portugal (e até como finalista vencido), o dragão participou em 30 destas 39 disputas. É do quilé, não restam dúvidas. Perdendo nove, conta, por outro lado, com cinco triunfos consecutivos de uma vez, quatro de outra, três ainda de mais uma. E cinco bis! Rei das Supertaças perdidas é o Benfica, e até parece que repete o malogro das taças europeias: 12. Apenas sete ganhas, uma a menos do que o Sporting, podendo igualar o currículo dos leões se vencer precisamente o Sporting no Estádio do Algarve.

Já o Sporting não tem muitas presenças na Supertaça, apenas nove, mas não é de desperdiçar a oportunidade: oito conquistas contra uma derrota, em 1980, na segunda edição da prova, perante o Benfica, em duas mãos, tal como podem ler noutro lugar deste seu jornal.

Há um grupo de 11 clubes que disputaram a Supertaça sem a ganharem e nele se destaca o Braga, que por três vezes deixou cair os burrinhos na água. O Vitória de Setúbal teve duas chances; os outros todos, apenas uma.

Vitória de Guimarães e Boavista são opostos: para os axadrezados, três em quatro; para os vimaranenses, uma em quatro. E assim se fazem as contas deste troféu, continuamente meio desprezado, que surge ainda naquela altura da época em que a malta está mais habituada a amigáveis do que a confrontos a doer. Por causa disso, mudaram os espanhóis o sistema, transformando a Supertaça numa decisão a quatro lá para o inverno. Mas também é verdade que não têm Taça da Liga. O que desocupa espaço.