Comecemos pela prevenção. Nestas mesmas páginas tive a oportunidade de criticar aquela que me pareceu uma lei absolutamente ineficaz: a lei da limpeza dos terrenos e não sei que mais. Não que não considere a limpeza do território essencial, mas porque foi, quanto a mim, começar a casa pelo telhado. Até porque sou da opinião de que muitos dos grandes incêndios nacionais não são obra do acaso nem de condições atmosféricas adversas. Todos sabemos que o Estado é sempre mais ágil a exigir proatividade ao cidadão do que a si mesmo.
Assim aconteceu de novo e foi mais um momento completamente infeliz do legislador. Não esqueçamos que em causa pode estar, a exemplo, alguém que ganhando 300 euros de reforma tenha de pagar dez mil euros de multa por não ter idade ou dinheiro para limpar cem metros quadrados de terreno. Lamentável. Noutro prisma, temos o eterno problema da fraca punição para quem é julgado por fogo posto. Não sou de generalizações. Nessa medida, pese embora tenha atrás referido que, em minha convicção, muitos dos grandes incêndios nacionais têm mão criminosa, igualmente sei que os haverá que não são. Mas, a serem, tem o sistema jurídico penal de ser muito mais severo. Não me fazem sentido e julgo não fazerem sentido a ninguém notícias como as que, por vezes, a todos nos são apresentadas dando conta de que incendiários, muitas vezes até repetentes, chegam a tribunal e saem em liberdade. É inadmissível. Diria mesmo que é vergonhoso.
Aqui chegado, e porque, infelizmente, sei que pouco do que antes escrevi representa uma novidade, porque todos os anos acontece o mesmo, escrevemos os mesmos apelos e igualmente a mesma é a indiferença da tutela na sua solução, qual laivo de novidade, este ano apareceu-nos um ministro que se lança sobre quem legitimamente se sente abandonado pela postura do seu ministério. Digam lá se pelo menos nisto não estamos a inovar? Todos sabemos o estado em que o Estado está, todos sabemos que os meios de combate aos incêndios são poucos, todos vemos que os efetivos não chegam, todos somos obrigados a ver que as chamadas grandes reformas do território não passam do papel. Então e temos um ministro que em vez de se preocupar em criar condições para que estes problemas não se voltem a repetir, ao repetirem-se perde tempo a criticar publicamente um autarca?
Para mais, um autarca que, ano após ano, vem alertando para esta realidade, e não tendo o retorno devido, acaba com a maior das legitimidades por ter de se manifestar contra o escasso apoio que na prática sente? Em minha opinião, mais que ser uma injustiça, tal comportamento é igualmente uma falta de classe enorme e até uma atitude indigna para um ministro. Além do terreno ardido, só o facto de existirem mais pessoas a ficar sem nada e algumas delas a terem novamente a sua vida em perigo deveria ser o bastante para que o sr. ministro devesse medir as palavras.
É por isso que acabo este meu artigo da mesma forma que o comecei. Sr. ministro, menos conversa e mais ação. Se não for para isso, demita-se que já não há paciência para este tipo de atitudes. Ou então pegue numa mangueira e vá para a frente do combate aos incêndios. Nestas circunstâncias, de gravata, sentado numa sala com o belo ar condicionado a funcionar, é sempre mais fácil falar. Atue, homem! Ou então desampare-nos a loja!