Governador de Porto Rico demite-se depois da pressão popular

Governador de Porto Rico demite-se depois da pressão popular


É a primeira vez que um governador se demite na história moderna do território norte-americano


O governador de Porto Rico, Ricardo Rosselló, anunciou a sua demissão na sequência de duas semanas de protestos que pediam a queda do seu Executivo. O que desencadeou a indignação de centenas de milhares de porto-riquenhos foi a divulgação das quase 900 páginas de mensagens em que o governador e o seu grupo mais próximo se divertiam com a morte de opositores políticos, tecendo comentários sexistas e homofóbicos. A divulgação ficou conhecida pelo nome “Ricky [abreviatura de Ricardo] Leaks”. “Ricky, renuncia”, exigiram os manifestantes, segundo o LA Times. 

“Venho anunciar que me demitirei do cargo de governador no dia 2 de agosto”, revelou Rosselló num vídeo publicado no Facebook, na quarta-feira. “Ouvi as vossas exigências. Errei e pedi desculpa. Mas sei que os meus lamentos não são suficientes”, acrescentou. 

A seguir à declaração de Rosselló ouviram-se os gritos de centenas de pessoas no exterior de La Fortaleza, residência oficial do governador de Porto Rico. “Estou em delírio. Conseguimos, conseguimos”, disse euforicamente uma das manifestantes. 

À semelhança do que aconteceu com as mensagens de Sérgio Moro reveladas pelo Intercept Brasil, o grupo conversava pelo aplicativo Telegram. A conversa mostrava possíveis ilegalidades, como o desvio de fundos públicos, conspirações e manipulações políticas e a divulgação de dados privados da oposição.

É a primeira vez que um governador se demite na história moderna do território norte-americano. A queda do Executivo não se deveu apenas à divulgação das conversas entre os 11 homens do círculo próximo de Rosselló. Há mais de uma década que os porto-riquenhos atravessam uma recessão económica, levando a um êxodo de mais de 500 mil pessoas para o continente, numa ilha com apenas três milhões de habitantes. 

Para piorar a situação, a ilha foi devastada pelo furacão Maria, em 2017, que causou entre três mil e quatro mil mortes. A alegada má gestão financeira do Governo – e a imposição de políticas de austeridade – levou a que, dois anos depois da tragédia, cerca de 30 mil casas ainda não tenham teto. A isso acrescentam-se as frequentes quedas de energia que a ilha ainda sofre por causa do furacão.

Quando as morgues se entupiram de cadáveres durante a tempestade, um dos membros do grupo de Telegram sugeriu que se desse um corpo para “alimentar os corvos” da ilha.