Os exames nacionais da segunda fase de Português, Matemática Aplicada às Ciências Sociais (MACS) e Física e Química estão debaixo de todas as atenções por alegados problemas e incorreções nos exercícios. Desde professores a alunos, o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) tem sido alvo das queixas. Este instituto, porém, já admitiu o erro numa pergunta de Matemática, desvalorizando todas as outras críticas.
A poesia de Camões é uma constante nestes exames, porém, este ano houve surpresas. Os 17 mil alunos que tentaram melhorar a nota ou passar de ano tiveram a difícil tarefa de interpretar as estâncias 26 a 29 do Canto VI, parte da obra d’Os Lusíadas que não consta no programa curricular.
Quem alertou a situação foi uma professora, que escreveu um email para aquele instituto no qual demonstrava a sua “perplexidade e indignação”. A professora, que também é corretora de exames, acrescentou ainda que “é absolutamente inacreditável que os alunos tenham de ler e compreender quatro estâncias d’Os Lusíadas que não correspondem a nenhuma das indicadas nos programas de Português”. Finalizando, a mesma alertou ainda para o facto de que esta obra “não é de leitura obrigatória” e que os alunos ficam apenas com uma “visão fragmentada da mesma”.
Justificando-se, o IAVE foi muito claro: “O facto de se entender que os suportes textuais apenas podem ser selecionados de entre aqueles que, no programa, são indicados para trabalho em sala de aula colide com pressupostos que enformam os Programas e o perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória, na medida em que acaba por se valorizar a reprodução de conhecimentos, em detrimento da capacidade de mobilizar esses conhecimentos e capacidades na interpretação de outros suportes da mesma obra, de outras obras do mesmo autor ou do mesmo género textual”. E, de facto, está escrito que a prova “pode incluir suportes textuais diferentes dos indicados”, mas a verdade é que esta foi a primeira vez que tal aconteceu e surpreendeu tudo e todos.
Contudo, a prova de Português não foi a única envolta em polémica. O exame de MACS continha uma pergunta com uma “fragilidade na sua formulação”. Confrontado pelo i, o IAVE garantiu que a pergunta “não teve qualquer impacto na resolução nem terá na sua classificação”.
O IAVE deixa ainda a promessa de “que os alunos não serão prejudicados” e que “durante o acompanhamento do processo de classificação serão tidas em consideração as respostas que estiverem fundamentadas e cientificamente corretas, já que a resolução e o resultado deste item, presentes nos critérios específicos de classificação, não são os únicos admissíveis”.
No caso do exame de matemática, foi um professor natural da Póvoa do Lanhoso quem percebeu o erro e alertou para a situação quando os alunos realizavam o exame. O professor falou de um “erro grave” e afirmou que a pergunta 6.2.1 do exame “não tem resposta”. Quando falou com as entidades competentes, estas garantiram-lhe que a “questão tinha sido caucionada por peritos”.
A polémica não fica por aqui e envolve também a prova nacional da segunda fase de Física e Química (11.º ano). A Sociedade Portuguesa de Física (SPF) divulgou, na sua página de internet, um parecer onde se pode ler que “no que respeita ao grau de dificuldade da prova, considera-se uma das provas mais difíceis de que há memória, com alguns itens pouco adequados à maturidade de um grande número de alunos de 11.º ano”.
A SPF acrescenta ainda que “a prova de exame é mais extensa do que a da 1.ª fase”. O parecer refere inclusivamente algumas questões de “complexidade acima da média”. Confrontado ontem pelo i com estas críticas, o IAVE afirmou que “com os dados disponíveis neste momento não existe fundamento que possa justificar” a existência das queixas.