1. Os esquecidos Depois de, ao lado de Salvador Dalí, ter entrado no cinema porta do surrealismo, com Um Cão Andaluz (1929) – e de ter estado prestes a desistir de fazer filmes, mas reconsiderado, com L’Âge D’Or e o documentário Terra Sem Pão -, e de ter trabalhado como supervisor de filmes de propaganda nazi, Buñuel mudou-se para o México. Aí, e ao cabo de alguns filmes não muito bem sucedidos, completou em 1950 Os Esquecidos (Los Olvidados). Retrato mordaz, e sem esperança, de um grupo de jovens delinquentes na Cidade do México.
2. Susana Ainda na sua fase mexicana – uma das fases da filmografia do realizador espanhol menos vistas, mas a que a Medeia e a Leopardo Filmes dão grande destaque neste ciclo retrospetivo – Susana, Demonio y Carne (1951) foi adaptado de umconto de Manuel Reachi. A história é a de Susana, uma reclusa de uma prisão de mulheres, que consegue fugir e, numa metafórica noite de tempestade, chega a uma quinta, onde ficará a trabalharcomo empregada doméstica e causará a sua própria (tempestade), ao quase destruir a família dos patrões. Susana encerra, no Espaço Nimas, a 4 e 5 de agosto, a primeira parte do ciclo 25 X Buñuel.
3. A filha do engano Recuperando de Susana o ator Fernando Soler para o lugar de protagonista do seu filme seguinte, A Filha do Engano. Como Don Quintín, um caixeiro-viajante amargurado feito dono de um cabaré: O Inferno. Estreado na Cidade do México em 1951, só depois do 25 de Abril chegaria a Portugal. No verão de 1974, no Cinema Estúdio, assistia-se pela primeira vez à história do engano que leva um homem a abandonar a sua filha ao longo de anos, recuperando-a apenas quando chega à idade adulta.
4. Uma mulher sem amor Exibido em Portugal apenas numa ocasião (quando, em 1982, um ano antes da morte do realizador, a Cinemateca e a Gulbenkian lhe dedicaram uma grande retrospetiva), Una Mujer Sin Amor gira em torno da história (a partir de um conto de Pierre et Jean de Guy de Maupassant) da paixão entre uma mulher casada e um engenheiro que encontra o seu filho depois de ter fugido de casa e o devolve à família.
5. O bruto Estreado em França com o título L’enjôleuse (O Sedutor), O Bruto (1953) parte da revolta do grupo de moradores de um bairro pobre prestes a serem despejados das suas casas pelo proprietário, que contrata o homem do matadouro: el bruto. Uma história de homicídios, de perda, de vingança e de castigo que, na sua estreia, a escritora francesa Christiane Rochefort, analisou como um filme onde, “através de uma estrutura simples, as imagens de Buñuel expressam de forma diretam violenta e acessível a todos, a procura pela pureza no inferno do mundo atual”. No mesmo ano, Buñuel estrearia um outro filme: El, em que inicia a sua crítica visão da Igreja Católica sobre a moral sexual.
6. Nazarín Ao cabo de duas dezenas de filmes, em 1958, Luis Buñuel estreava em Cannes Nazarín, uma parábola (ateísta) sobre a impossibilidade da existência de um Cristo dos tempos modernos. A partir da história de Nazarín, um jovem padre de um bairro pobre da Cidade do México, que alberga na sua casa duas “pecadoras”: uma mulher que sobreviveu a uma tentativa de suicídio e uma prostituta assassina. Condenado pela Igreja Católica, vê-se obrigado a viver de esmolas, rejeitado por todos, excepto por aquelas duas mulheres. Tido como a sua primeira grande obra em muitos anos, Nazarín não chegou a ter estreia comercial em Portugal.
7. Viridiana Num regresso a Espanha, Buñuel produz uma das mais celebradas obras da sua filmografia: Viridiana. De 1962, é o mais tardio filme programado na primeira parte deste grande ciclo que continuará, ao longo dos próximos meses, a revisitar a sua obra. Ainda no universo religioso (Viridiana é uma noviça que consegue escapar a uma tentativa de violação), enraizado na sociedade espanhola de então. Bolorenta e repressiva. Começava a abrir-se o caminho para o que viria na viragem da década, com Tristana, a sua primeira nomeação para um Óscar. Que Buñuel não chegou a vencer, nem queria: “Nada me causaria mais aversão moral do que vencer um Óscar”.