Quatro perguntas incómodas sobre os novos passes sociais


Dê por onde der, por mais que Centeno seja o novo mago das Finanças, não há milagres da multiplicação dos transportes.


Estão a partir de hoje disponíveis os novos passes Navegante Família que permitirão poupanças substanciais às famílias residentes na Grande Lisboa. Por um máximo de 80 euros, a família inteira pode utilizar toda a rede de transportes públicos – comboios, autocarros, metro ou elétrico – da Área Metropolitana de Lisboa. Por 60 euros, a família tem direito a uma versão “B”, com viagens ilimitadas no interior do seu município.

Não faltam argumentos a favor do novo regime de passes sociais mais baratos introduzido por este Governo: beneficia sobretudo os mais desfavorecidos, que não têm carro próprio; promove a mobilidade; funciona de maneira muito mais simples do que o sistema anterior; ajuda a retirar automóveis dos centros urbanos; diminui os engarrafamentos… enfim, só vantagens.

No entanto, num segundo momento a questão dos passes mais baratos também coloca algumas interrogações. 1. Se antes, com os preços dos títulos mais elevados, as empresas de transportes já tinham défices e dívidas assustadores, como vai ser agora? Como é compensada a perda de receita? 2. Com o aumento de utilizadores, a qualidade do serviço não vai degradar-se? 3. Será justo que, por exemplo, uma família que vive numa aldeia rural e pouco saia de lá ande a pagar, através dos seus impostos, as viagens de metro, de autocarro ou de comboio de uma família que vive em Campo de Ourique ou no Estoril?

Dê por onde der, por mais que Centeno seja o novo mago das Finanças, não há milagres da multiplicação dos transportes. E, como percebeu o romancista britânico David Lodge, “um almoço nunca é de graça”. Alguém tem de pagar a fatura. Se não são os utilizadores, que até passam a pagar muito menos, será forçosamente quem não anda de transportes. Não será muito o que cabe a cada um, porque a dividir por todos a quantia se dilui. Mas esse dinheiro talvez pudesse ser usado de uma forma mais produtiva. E por fim, a pergunta incómoda mas inescapável: será uma mera coincidência que o novo regime entre em vigor a poucos meses das eleições legislativas?

Quatro perguntas incómodas sobre os novos passes sociais


Dê por onde der, por mais que Centeno seja o novo mago das Finanças, não há milagres da multiplicação dos transportes.


Estão a partir de hoje disponíveis os novos passes Navegante Família que permitirão poupanças substanciais às famílias residentes na Grande Lisboa. Por um máximo de 80 euros, a família inteira pode utilizar toda a rede de transportes públicos – comboios, autocarros, metro ou elétrico – da Área Metropolitana de Lisboa. Por 60 euros, a família tem direito a uma versão “B”, com viagens ilimitadas no interior do seu município.

Não faltam argumentos a favor do novo regime de passes sociais mais baratos introduzido por este Governo: beneficia sobretudo os mais desfavorecidos, que não têm carro próprio; promove a mobilidade; funciona de maneira muito mais simples do que o sistema anterior; ajuda a retirar automóveis dos centros urbanos; diminui os engarrafamentos… enfim, só vantagens.

No entanto, num segundo momento a questão dos passes mais baratos também coloca algumas interrogações. 1. Se antes, com os preços dos títulos mais elevados, as empresas de transportes já tinham défices e dívidas assustadores, como vai ser agora? Como é compensada a perda de receita? 2. Com o aumento de utilizadores, a qualidade do serviço não vai degradar-se? 3. Será justo que, por exemplo, uma família que vive numa aldeia rural e pouco saia de lá ande a pagar, através dos seus impostos, as viagens de metro, de autocarro ou de comboio de uma família que vive em Campo de Ourique ou no Estoril?

Dê por onde der, por mais que Centeno seja o novo mago das Finanças, não há milagres da multiplicação dos transportes. E, como percebeu o romancista britânico David Lodge, “um almoço nunca é de graça”. Alguém tem de pagar a fatura. Se não são os utilizadores, que até passam a pagar muito menos, será forçosamente quem não anda de transportes. Não será muito o que cabe a cada um, porque a dividir por todos a quantia se dilui. Mas esse dinheiro talvez pudesse ser usado de uma forma mais produtiva. E por fim, a pergunta incómoda mas inescapável: será uma mera coincidência que o novo regime entre em vigor a poucos meses das eleições legislativas?