Chegada à lua. Um pequeno passo para o homem…

Chegada à lua. Um pequeno passo para o homem…


Sabia que a bandeira que Neil Armstrong espetou (com dificuldade) no solo lunar terá sido comprada à pressa à hora de almoço? Que os astronautas, apesar de terem recolhido quilos e quilos de rochas, não puderam ficar com nenhuma para recordação da sua viagem extraordinária? No 50.º aniversário da chegada do homem à Lua, contamos-lhe…


1. Tanque de combustível na reserva 

Quando perguntaram a Neil Armstrong, antes da partida, o que ele levaria para a Lua caso houvesse mais espaço na nave, o astronauta não hesitou: “Mais combustível!”. E estava cheio de razão. A alunagem da Eagle foi uma manobra complexa por causa da superfície irregular da Lua. Pela escotilha, enquanto procuravam um lugar para pousar, Armstrong e Buzz Aldrin só viam pedregulhos. Entretanto, uma luz acendeu-se e receberam um aviso de Houston: “Só têm mais sessenta segundos de combustível”. Quando finalmente alunaram no Mare Tranquilitatis, após momentos de tensão, puderam respirar de alívio: só lhes restavam trinta segundos de combustível – apenas mais meio minuto e a missão teria de ser abortada.

2. As bandeiras compradas à hora de almoço

Maria Isilda Ribeiro, natural de Sosa, Vagos, trabalhava numa fábrica de bandeiras, a Annin & Company em Nova Jérsia ,quando em 1968 começaram a surgir encomendas especiais, de bandeiras em fibra de vidro, para experiências. Em 1969, quando o Homem foi à Lua, apareceram repórteres do New York Times naquela que era a fábrica mais antiga de bandeiras do mundo e tornou-se protagonista da história: tinha sido ela a tratar dos remates, bainhas e da costura para haste da bandeira que supostamente Armstrong cravou na Lua. Logo em 1969, de férias em Portugal, foi chamada à RTP, contou há dez anos ao i, de regresso à terra natal. “Acho que cá houve mais alarido do que lá. As pessoas estavam habituadas a ouvir falar da Lua. Daquela vez conseguiram, mas não houve um grande espanto.” Se foram mesmo as bandeiras da Annin a ir para a Lua, ninguém sabe. E nem para o 50.º aniversário a NASA encontrou resposta. Ao i, a agência espacial norte-americana dá a sua versão da história: “Houve algumas empresas a reclamar terem sido elas a fabricar as bandeiras que foram colocadas na Lua. O que sabemos é que a chefia de Houston mandou trabalhadores à hora de almoço comprar bandeiras normais dos EUA a várias lojas. Este conjunto de bandeiras foi usado nas missões Apollo. E fizeram isto porque estavam com pressa: a decisão de por uma bandeira dos EUA na Lua foi tomada apenas três meses antes do lançamento do Apollo 11”. Diz a mesma fonte que já houve várias pessoas a tentar desvendar o mistério nos arquivos da missão, sem sucesso. Até lá, a bandeira continua a ser um bocadinho nossa.

3. A primeira eucaristia extraterrestre

Maçon e membro de uma igreja presbiteriana, Buzz Aldrin era um homem dado à espiritualidade, por isso teve a ideia de celebrar o sacramento da Eucaristia na Lua como forma de expandir o cristianismo. Os responsáveis da NASA deram luz verde, mas pediram-lhe que o fizesse com discrição. Assim que o módulo Eagle pousou na Lua, Aldrin pediu silêncio, retirou um cálice que lhe tinha sido cedido pela sua igreja e comungou. Derramou também algumas gotas de vinho, símbolo do sangue de Cristo, no solo lunar. Depois, citou uma passagem do Evangelho segundo S. João, que terminava assim: “O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”.

4. O passeio-mistério de Neil Armstrong

O filme O Primeiro Homem, de Damien Chazelle, mostra Neil Armstrong a caminhar sozinho até uma cratera (LIttle West Crater) e a aí depositar uma pulseira que tinha pertencido à filha Karen, falecida quando tinha dois anos. Na verdade trata-se de uma mera suposição, pois o astronauta nunca revelou o que continha o seu kit de objetos pessoais. Mas é verdade que Armstrong fez essa caminhada que não estava prevista no plano e que o seu ritmo cardíaco aumentou significativamente durante o trajeto, o que levou o realizador a imaginar que poderá ter-se emocionado.

5. O astronauta lacónico e a frase que ficou para a História

Contido e parco nas palavras (Michael Collins queixou-se de que, na relação pessoal, nunca conseguiu penetrar além da superfície do parceiro), Neil Armstrong ficou com a tarefa de anunciar ao mundo a chegada do homem à Lua. Para isso, imaginou uma frase que estivesse à altura do momento. Acabou por escolher: “Um pequeno passo para um homem, um salto gigante para a humanidade”. Mas os jornais suprimiram o artigo ‘um’ (com ‘um homem’ o astronauta referia-se modestamente a si próprio), ficando para a História: “Um pequeno passo para o homem, um salto gigante para a humanidade”. Consta que Armstrong terá ficado irritadíssimo por ter sido mal citado, mas pelas gravações é impossível perceber se ele realmente disse o minúsculo artigo que faz toda a diferença.

6. Fraldas e preservativos

Urinar com gravidade zero era uma tarefa complexa que exigia colocar o pénis num dispositivo com a forma de preservativo e acionar um sistema de vácuo que sugava a urina. Depois, o chichi era atirado para o espaço. Mas defecar era ainda mais difícil. Os astronautas tinham de se certificar de que tudo, mas mesmo tudo, ficava dentro do saco. Ao contrário da urina, as fezes eram guardadas para serem analisadas no regresso à Terra.

7. Refeições a bordo

Uma parte importante da comida a bordo eram sanduíches transformadas em pasta e metidas dentro de bisnagas. Quanto ao prato principal podia ter rosbife, batatas, vegetais, bacon ou fiambre desidratados e congelados. Segundo Craig Nelson, autor de Rocket Man (que conta a história da viagem da Apollo 11 à Lua), Aldrin gostava do cocktail de camarão, Collins da sopa da galinha e Armstrong do esparguete à bolonhesa. 

8. O homem mais sozinho desde Adão?

Michael Collins foi o homem que ficou a orbitar a Lua no módulo de comando enquanto os seus colegas passeavam sobre o satélite. Por causa disso, chamaram-lhe ‘o homem mais sozinho desde Adão’. Mas o próprio pensava de maneira diferente. “Tinha todo aquele pequeno domínio só para mim. Era o imperador, o capitão, e sentia-me bastante cómodo. Até tinha café quente”, disse recentemente Collins ao New York Times.

9. Ninguém faz seguro de vida a um astronauta

Dado o risco inerente à missão, nenhuma seguradora aceitou segurar os astronautas. Por isso os homens engendraram um esquema para salvaguardar financeiramente as famílias caso ocorresse um acidente fatal. Antes da partida, assinaram centenas de postais que, esperavam eles, se tornariam muito valiosos na eventualidade da sua morte, constituindo assim um pé-de-meia para as suas famílias. 

10. Meia tonelada de pedras, cento e tal quilos de lixo

Aldrin e Armstrong recolheram cerca de 2 quilos de pedras e poeira para serem analisadas em laboratório. Mas não estavam autorizados a trazer recordações para si ou para a família. Além disso, os espécimes recolhidos não podiam ser tocados pelas botas dos astronautas nem pelas rodas do veículo lunar. As várias missões à Lua recolheram, no total, cerca de meia tonelada de rochas e minerais do satélite. Em contrapartida, os astronautas deixaram grandes quantidades de lixo e de outros objetos na superfície da Lua, num total de 180 quilos. Armstrong e Aldrin abandonaram lá as suas botas, assim como desperdício, embalagens e outro material para regressarem mais leves.

*com Marta F. Reis