O direito a não ser discriminado pela minha opinião


Não preciso de ser negro para saber o que é racismo. Não preciso de ser gay para saber o que é homofobia. Não preciso de ser mulher para saber o que é machismo. Não preciso de ser pobre para saber o que é pobreza. Não preciso de ser do interior para saber que estes portugueses…


Lamento informar, mas posso rejeitar com veemência todas estas formas de discriminação, e querer contribuir para estes importantes debates, não fazendo parte de nenhum desses grupos, e mesmo que seja para discordar da forma como muitas das associações que lutam por estas causas lidam com estes problemas.

Quem achar que tenho de viver uma discriminação para poder debatê-la certamente que acredita também que a única pessoa que pode opinar sobre a vida pública tem de ser simultaneamente: uma mulher, negra, homossexual, pobre, de Bragança e jeová. Lamento, mas essa pessoa não existe. Porque, se existisse, o Bloco já tinha arranjado forma de a meter a deputada.

É perigosa a ideia de que determinados direitos devem ser instituídos sem qualquer tipo de discussão pública porque só as pessoas que irão usufruir desses direitos é que têm direito a ter uma opinião sobre esses factos. É perigosa a ideia de que os homens não têm uma palavra a dizer sobre as quotas para mulheres na política e nas empresas – porque se o fizerem, nem que seja para acrescentar algo de válido ao debate, são logo apelidados de machistas. É perigosa a ideia de que as pessoas não possam ser contra a palavra casamento quando falamos de uniões civis entre pessoas do mesmo sexo (eu, por acaso, sempre achei que se devia chamar casamento) sem serem apelidadas de trogloditas homofóbicos.

A razão está quase sempre do lado de quem consegue vencer as discussões não por gritar mais alto, mas antes por expor com clareza a justeza dos seus argumentos. A razão está quase sempre do lado de quem tenta trazer para as suas causas pessoas que se identificam com elas, mesmo tendo a sorte de nunca terem sofrido na pele esses problemas ou discriminações. A razão está quase sempre do lado do bom senso e quando o mesmo se perde, normalmente, perde-se também a própria razão.

 

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