The Lion King.  Na selva, o leão não dorme esta noite

The Lion King. Na selva, o leão não dorme esta noite


Mais realista, com efeitos visuais e uma banda sonora revitalizada. Será que Simba aceitará esta revolução? Para perceber a nova versão d’O Rei Leão, o i esteve à conversa com José Raposo, o ator que dá voz ao javali Pumba há 25 anos.


Chega o final do dia e o rei da selva não descansará. Perdão: não o faz há 25 anos; contudo, tem tido alguns hiatos no seu protagonismo. Passamos a explicar: em 1988, Jeffrey Katzenberg (antigo presidente dos estúdios Walt Disney), Roy E. Disney (acionista da empresa homónima) e Peter Schneider (primeiro presidente da Walt Disney Feature Animation) tiveram a ideia de criar uma animação que contasse a história do leão Simba. Em termos gerais, este sucederia ao pai, Mufasa, como rei das Pride Lands. Num enredo inspirado em Hamlet, a peça de William Shakespeare, o tio de Simba assassinaria Mufasa e Simba seria manipulado para pensar que a culpa do sucedido era dele, desafiando o vilão Scar a acabar com a sua tirania. Aliando-se a dois excluídos da sociedade, o javali Pumba e o suricata Timon, encontraria abrigo sob o mote “Hakuna Matata” (o que em suaíli, língua oficial do Quénia, do Uganda e da Tanzânia, significa “não há preocupações”). Todavia, quando Nala, sua amiga de infância, aparecesse, teria de decidir entre as responsabilidades do trono ou um estilo de vida mais livre e despreocupado.

O enredo foi materializado a 15 de junho de 1994 e tornou-se um êxito estrondoso – o único filme que ultrapassou O Rei Leão na bilheteira foi Parque Jurássico. Na sequela, de 1998, podemos conhecer Kiara (filha de Simba e Nala), que vive uma paixão proibida com Kovu, filho de um aliado de Scar. Volvidos seis anos, seria lançada uma animação através da qual viajamos até aos acontecimentos ocorridos antes do primeiro filme: o slogan de O Rei Leão 3: Hakuna Matata é “Não sabes nem metade!”, alusivo à oportunidade que nos é oferecida de descobrir detalhes como o início da amizade entre os icónicos javali e suricata ou como se desenvolveu o momento de apresentação de Simba ao reino.

Can You Feel The Love Tonight Certamente que sim. Naquele que é descrito como um filme épico musical de drama pela maioria dos críticos da sétima arte (com uma banda sonora onde se destacava Can You Feel the Love Tonight, de Elton John), qualquer pessoa poderá reviver a emoção de Rei Leão, a partir desta noite, nos cinemas. Por meio do remake de uma das mais famosas longas-metragens da Disney, com a direção de Jon Favreau, regressamos a África, ainda que com um twist que conduz à divisão das audiências: se, por um lado, as performances vocais de artistas como Beyoncé ou Pharrell Williams são elogiadas, bem como a tecnologia cinematográfica virtual e os efeitos visuais utilizados, por outro, há quem acredite que a derivação quase total do filme original seja tudo menos positiva. Independentemente das críticas mistas, a Disney continuará a apostar na recriação de sucessos de bilheteira: a informação foi avançada pela própria companhia multinacional. Em setembro de 2016 esclareceu que trabalhará, de seguida, em filmes como Cinderela e A Bela e o Monstro.

“Não é melhor ou pior, é simplesmente diferente” Apesar da falta de tradição de dobragem em Portugal – ao contrário do que acontece na vizinha Espanha, por exemplo –, importa realçar que o caminho trilhado é francamente positivo. E o que tem a gravação de falas traduzidas sobre as de outra língua que ver com O Rei Leão? Tudo. Este constituiu o primeiro filme a ser dobrado em português de Portugal e revelou-se um sucesso: a escolha do elenco no casting (com atores como Carlos Freixo, Rogério Samora, Fernando Luís e José Raposo) foi fundamental para que, daí em diante, as dobragens em português do Brasil fossem abandonadas e o talento lusitano abraçado. No entanto, este procedimento é mais adotado em animações infantis e juvenis.

“A dobragem mais perfeita para além da original”, recorda José Raposo, ator, dobrador e produtor de 56 anos que interpreta Pumba desde o primeiro filme. A bem dizer, não há como negar que a Disney considerou a dobragem lusitana como a melhor. Em suaíli, pumbaa simboliza ser tolo, fraco, descuidado e negligente, e Raposo concorda com esta caraterização da sua personagem: “É um animal muito engraçado e o trabalho funcionou extremamente bem desde o início porque a Disney recebeu as nossas vozes off e escolheu as vozes mais parecidas com as originais”, diz-nos o profissional, que conta com 38 anos de carreira. O vencedor do Globo de Ouro para Melhor Ator de Teatro em 2009 realça a mudança de paradigma entre a primeira e a última produções: “Com a imagem real há diferenças, porque os desenhos animados são os bonecos desenhados e a interação das personagens dá-se de outro modo. É interessante, pois a dinâmica é distinta. Não é melhor ou pior, é simplesmente diferente”, admite. E será que a animação é um estímulo para os atores? “É um trabalho específico em relação à representação”, considera o artista. A adaptação e a direção de atores são cruciais: “Não é fácil traduzir frases e encaixá-las, noutra língua, num determinado espaço de tempo. Por vezes temos de fazer inflexões, cortar palavras, etc.”. Nem todos os atores têm essa capacidade de conjugar a capacidade técnica com a performance – questionado sobre este ponto, Raposo é assertivo: “Todos devemos fazer comédia, drama… diversificar os géneros e as personagens, porque esses são os verdadeiros desafios da nossa profissão”.