O líder do PSD vetou os dois nomes indicados pelas estruturas locais do partido para o círculo eleitoral de Braga – Hugo Soares e João Granja – e convidou Coelho Lima e Firmino Marques para os dois lugares elegíveis nas próximas eleições legislativas, de acordo com informações recolhidas pelo i.
Firmino Marques é vice-presidente da Câmara de Braga e amigo de Rui Rio, mas o i apurou que ainda está indeciso em relação ao convite do líder do partido e pediu tempo para dar uma resposta definitiva, uma vez que terá de prescindir do lugar de número dois de Ricardo Rio na câmara.
Recorde-se que, de acordo com os critérios definidos pela comissão política nacional dos sociais-democratas, deve-se evitar escolhas de personalidades “de cargos políticos executivos de eleição em acumulação”. Ou seja, isto implica que Firmino Marques terá de renunciar ao mandato na autarquia bracarense.
Curiosamente, Ricardo Rio foi o proponente dos nomes de Hugo Soares e João Granja na concelhia e na assembleia distrital de Braga, que os aprovaram por unanimidade, respetivamente, como número 1 e número 2 para as listas de candidatos nas legislativas de outubro.
Confrontado pelo i com o convite de Rui Rio a Firmino Marques para ser número dois da lista encabeçada por Coelho Lima – confirmando-se assim o veto dos nomes indicados pelas estruturas locais -, Hugo Soares limitou-se a responder: “Eu não alimento especulações. Estou muito empenhado em ganhar as eleições ao Partido Socialista”.
Braga em polvorosa Mas a notícia do convite a Firmino Marques pelo líder do partido foi recebida em Braga com incredulidade ou até desconhecimento. Foi o caso do próprio Ricardo Rio, presidente da Câmara de Braga: “Não tenho informação sobre essa matéria”, limitou-se a dizer ao i o autarca sobre a escolha do seu número dois e o veto de Hugo Soares e João Granja. Mas o i sabe que a notícia do veto aos nomes aprovados por unanimidade e o convite ao vice-presidente da câmara bracarense caíram que nem uma bomba nas hostes laranjas locais.
Por um lado, há quem recorde a promessa de Rio de que não transformaria o partido num clube de amigos, afastando agora os considerados”críticos”, como o ex-líder parlamentar e apoiante declarado de Luís Montenegro, para colocar no seu lugar um autarca do seu círculo de relações mais próximo.
“Estou completamente surpreendido com essa notícia. Não quero acreditar que esse convite seja real”, disse ao i João Granja, lembrando que “está aprazada para a próxima semana uma reunião do secretário-geral do partido com as estruturas locais do PSD de Braga”. “Com certeza que não foi tomada nenhuma decisão”, acrescentou Granja, recordando que o nome de Hugo Soares e o seu próprio mereceram a aprovação unânime dos 18 membros da concelhia e a ratificação pela assembleia distrital.
A distrital tem prevista uma reunião no próximo dia 24 com a direção nacional do PSD.
O caso de Hugo Soares tem um histórico. Foi líder parlamentar do PSD, após a saída de Luís Montenegro, apoiou Santana Lopes na contenda contra Rui Rio e, por fim, ajudou Montenegro na estratégia para desafiar Rui Rio a ir a eleições diretas no partido em janeiro deste ano.
Rio saiu relegitimado no processo, com uma moção de confiança em conselho nacional, mas o deputado Hugo Soares deixou algumas críticas à estratégia seguida, mesmo depois desse conselho nacional, em reuniões da bancada do partido (à porta fechada). A mais recente terá sido sobre a crise dos professores, em que Hugo Soares se queixou da reação de Rio ao remeter a finalização do processo para os deputados – um passa-culpas de que o deputado não gostou, isto apesar de ter ficado isolado a assumir o mal-estar. Outros parlamentares ficaram desagrados mas optaram por não o fazer em plena reunião da bancada, no passado dia 9 de maio. A ordem era para não para ampliar mais o problema, que causou mossa no PSD em plena pré-campanha eleitoral das europeias.
Talvez por isso, a avaliação do seu nome à luz da regra de “lealdade” à comissão política nacional do partido ganhe maior dimensão entre os nomes avaliados nas listas, seja por indicação das distritais, seja pela quota nacional que Rio vai usar nalguns círculos eleitorais. Neste caso, Lisboa, Leiria, Santarém e Braga são alguns dos exemplos. A regra, apurou o i, é seguir o exemplo das eleições em 2015. Assim, em Leiria e Santarém haverá também mais um nome a juntar à lista de cada distrital escolhido pela sede, isto é, por Rui Rio. O presidente do partido, recorde-se, indica todos os cabeças-de-lista pelos 18 círculos, mas não os da Madeira e Açores.
Ora, já começaram a surgir alguns problemas. No caso de Leiria, a escolha de Rio para cabeça-de-lista recaiu em Margarida Balseiro Lopes. A distrital aplaudiu a escolha, a também líder da JSD teve direito a um voto de louvor, aprovado por unanimidade, mas nem todos os nomes são consensuais. A concelhia do Bombarral indicou Feliciano Barreiras Duarte, que foi o primeiro secretário-geral de Rui Rio, mas, dentro da distrital, o seu nome não acolhe consenso. E isso mesmo foi noticiado pela Lusa a 27 de junho. Problema? Segundo fontes do PSD, ouvidas pelo i, o nome de Barreiras Duarte pode vir a ser indicado pela direção de Rio na quota da comissão política nacional – o que o colocaria sempre num lugar elegível, porque as direções partidárias têm sempre prioridade, seja no PSD, no PS ou noutras forças políticas.Não há decisões fechadas e o processo pode arrastar-se até ao dia 30 de julho, data do conselho nacional do PSD, que se realiza em Guimarães.
Setúbal reúne hoje com a direção do PSD As reuniões com as distritais do PSD, para preparar as listas de candidatos às legislativas de 6 de outubro terminam hoje com o encontro entre a direção nacional e a distrital de Setúbal. Ora, de acordo com informações recolhidas pelo i, a ordenação da lista que está em cima da mesa pode provocar mais motivos de tensão interna.
O cabeça-de-lista é o vereador da câmara de Setúbal Nuno Carvalho. O líder distrital Bruno Vitorino afirmou, após o anúncio, que não tinha sido formalmente informado por Rio da sua escolha. Mas não deve levantar qualquer resistência. O problema pode estar na sequência da lista. O líder parlamentar, Fernando Negrão, deverá ir em segundo lugar, tal como o Sol já avançou, e em terceiro deve surgir o nome da ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque. Em quarto lugar, e em situação de risco, deverá surgir Bruno Vitorino, presidente da distrital de Setúbal.
Resta saber se a ex-ministra estará disponível para aceitar o lugar, tendo sido a cabeça-de-lista em 2015. Há quem garanta ao i que não. O i tentou contactar a antiga ministra, mas sem êxito.
Hoje, não é expectável que a ordenação de Setúbal seja feita, até porque os encontros com as distritais não têm sido conclusivos. Aliás, alguns dirigentes saíram das reuniões sem certezas de nada. Por isso, haverá nova ronda na próxima semana com algumas distritais, a saber: Leiria, Lisboa, Braga e Aveiro, e aí, sim, surgirão as decisões e a mais que previsível tensão interna que algumas fontes do PSD anteveem há semanas.
Em Lisboa, por exemplo, a estrutura ficou sem saber se a equipa de Rio incluirá ou não o nome de Miguel Pinto Luz, o primeiro indicado pela distrital, liderada por Pedro Pinto. No PSD há quem lembre ao i que Rio já escolheu uma autarca de Cascais, mais precisamente Filipa Roseta, para cabeça-de-lista. Por isso, terá de ser feito um esforço de equilíbrio pela representação dos concelhos no distrito. Contudo, Rio ainda não disse o número de pessoas que pretende indicar pelo maior círculo eleitoral. Em 2015, Passos Coelho escolheu seis. E existem vários nomes a incluir, desde dois vice-presidentes, David Justino e Isabel Meireles, caso queiram ser candidatos, a figuras que se colocaram ao lado de Rio no conselho nacional que derrotou Luís Montenegro. É o caso de Carlos Reis.
No Porto, também ainda está em aberto o lugar do próprio presidente do partido, Rui Rio.
A lista final de cabeças-de-lista está quase fechada e só falta definir o cabeça-de-lista por Évora. A dúvida mantém-se entre a líder da distrital, Sónia Silva Ramos, e o deputado António Costa Silva. Açores e Madeira indicam os seus cabeças-de-lista porque as estruturas regionais têm autonomia face à sede do PSD. Confirmado está também que não haverá jantar de despedida dos deputados com o líder do PSD, um evento que decorre no final de cada sessão legislativa.
*Com Ana Petronilho