Finda a legislatura, Portugal entrou na reta final da governação do PS e dos seus aliados na geringonça, caminhando até às eleições de outubro.
Seguem-se tempos de férias para os que as têm e, depois, o combate eleitoral e a respetiva campanha onde, em muitos casos, valerá tudo para ganhar. Nos partidos, as lutas já começaram há muito. Do discurso demagógico à campanha difamatória do adversário, passando pela truncagem de números, vamos ver de tudo. Uns dramatizando ainda mais uma realidade sombria, outros disfarçando e embelezando os dados de um país real que está mesmo cheio de problemas. Uns renovando, outros confirmando quadros políticos que, em geral, não são conhecidos. Contam fundamentalmente os candidatos a primeiro-ministro (no caso só há dois, António Costa e Rui Rio) e os dirigentes mais destacados do Parlamento, do Governo e das direções políticas nacionais.
O balanço dos quatro anos passados será feito pelos portugueses no seu julgamento soberano através do voto, sendo sobretudo de esperar que não abdiquem de participar, pelo menos enquanto a sua abstenção ou os seus votos brancos ou nulos não tiverem outro significado do que entregar a terceiros a decisão.
As campanhas eleitorais trazem sempre com elas carradas de promessas eleitorais que, normalmente, são esquecidas logo que os Governos tomam posse e são confrontados com a realidade.
Com o Governo atual aconteceu isso mesmo, com a diferença de que dispôs de uma folga inusitada, resultante de uma conjuntura internacional única e de ter recebido uma casa em reconstrução, oportunidade que desaproveitou.
No meio de uma campanha de propaganda e intoxicação noticiosa, o Governo passou, em quatro anos, de um plano de recuperação de rendimento para uma estratégia clara de austeridade encapotada que foi imposta por um Mário Centeno que se transformou num confiscador de bens, a partir do momento em que se sentou na cadeira de sonho de presidente do Eurogrupo, onde lhe deram uma cartilha nova.
Lá fora, Centeno apresenta-se como um campeão do rigor e do corte. Cá dentro cita até Manuel Alegre porque fica bem e lhe dá um ar de esquerda. Mas corta como nunca se viu nas funções essenciais do Estado, falando entretanto em investimentos virtuais, como o da ferrovia, que apregoa como sendo o maior dos últimos cem anos. Fantástico!
Mas é a vida, como diria o inesquecível António Guterres, outro distinto socialista que, na altura, fugiu do pântano que criou, deixando o país de tanga, como bem o proclamou Durão Barroso. Sócrates foi depois um ilustre sucessor de Guterres no caminho do caos e da falência, que levou ainda mais longe. O seu caso foi, porém, mais grave, porque à incompetência juntou graves indícios de comportamentos criminosos. A questão que se coloca hoje aos portugueses é saber se entendem ou não que a repetição do cenário de catástrofe pode acontecer, sob a batuta de António Costa, se lhe for conferido novo mandato.
Do ponto de vista objetivo, é preciso notar que há muitas semelhanças entre o que se passa com Costa e Centeno e o que sucedeu com outros Governos socialistas. A maioria da despesa tem novamente a ver com a gestão corrente, e não com investimento efetivo. É por isso que, quando se ouve Mário Centeno, entramos numa espécie de delírio discursivo em que não bate a bota com a perdigota.
Uma análise realista permite verificar que a nossa economia não está a evoluir favoravelmente. Pelo contrário, avolumam-se problemas, inoperâncias, e falhamos na convergência.
Para quem tenha dúvidas recomenda-se uma leitura aos últimos dados fornecidos pela Pordata, a base de dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Explica-se ali que, em dez anos, a população portuguesa diminuiu, ficou mais velha, casa menos, tem menos filhos, e os que nascem são mais de pais não casados. Palavras para quê, face a um quadro desta natureza?
É, pois, fundamental que cada um tenha consciência de que há muito a fazer para Portugal se modificar por dentro de forma substancial. E não basta para isso falar de reformas estruturais que acabam sempre por ter a ver com cortes e mais cortes. Tem a ver, sim, com a criação de um desígnio que nos referencie de outra maneira no mundo, que nos traga mais investimento, mais gente e mais projetos dinâmicos.
O Governo da geringonça tinha uma oportunidade soberana para lançar um programa dessa natureza, mas não o conseguiu porque se consumiu em pequenos arranjos domésticos. Contava à partida com uma base sustentável que herdou do esforço do anterior Governo. Não soube aproveitar o momento. Na nossa história estamos cheios de problemas semelhantes. Alguns dos mais dramáticos deram origem a humilhações sucessivas. Quem se der ao trabalho de estudar o nosso hino e as circunstâncias em que ele foi feito perceberá que Portugal tem ciclicamente passado por situações muito complicadas e vexatórias. Hoje, apesar de estarmos na União Europeia e de haver mecanismos solidários, temos de ter consciência de que devemos fazer melhor para não voltarmos a ser os pobres do mundo rico e os ricos do mundo pobre.
Escreve à quarta-feira