Numa época em que o politicamente correto parece ter-se tornado um agente das antigas polícias secretas dos países de Leste, não deixa de ser estranho que não se tenha dado grande alarido ao anúncio do ministro dos Negócios Estrangeiros de proibir os cidadãos iranianos de conseguirem vistos para entrarem em Portugal. “Sim, suspendemos [os vistos a cidadãos do Irão ] por questões de segurança”, disse Augusto Santos Silva.
É óbvio que não se toma uma decisão destas de ânimo leve, e o ministro só a anunciou depois de ter recebido informações dos serviços secretos portugueses e, eventualmente, israelitas, os verdadeiros campeões da espionagem cibernética. Mas, apesar dessas informações, põe-se os cidadãos todos que nasceram no Irão sob suspeita? Não haverá aqui algo de xenófobo? Recordo-me de uma amiga que conheci numa vernissage, já que a pessoa em questão era curadora, e que tinha dupla nacionalidade (iraniana e americana), e sofria horrores para entrar nos EUA sempre que montava exposições num dos sete países do mal declarados por Donald Trump.
Apesar de ter dupla nacionalidade, a pessoa em questão passava as passas do Algarve para regressar a casa, em Nova Iorque. Ela, como os cerca de 80 milhões de iranianos, estão agora proibidos de entrar em Portugal. Porquê? Por questões de segurança, diz o ministro. O que significa que, neste momento, o país está em perigo de sofrer um atentado. E, por essa razão, a decisão é justa, apesar de afetar milhões de inocentes. Também haverá constrangimentos para os negócios e a medida poderá afetar o turismo, pois não será de estranhar que alguns países, com os EUA à cabeça, aconselhem os seus cidadãos a evitar Portugal. Recorde-se que nos últimos dois anos, os serviços secretos, juntamente com a Polícia Judiciária, detetaram alguns supostos terroristas que queriam realizar atentados em Portugal. Ao que consta, essas figuras indesejáveis foram expulsas do país, sem serem detidas. É uma estratégia que não levanta ondas e não alerta os turistas… Veremos até quando se manterá a proibição de cidadãos iranianos entrarem em Portugal.