O homem a caminho da Lua.  “Two, one, zero, all engine running…”

O homem a caminho da Lua. “Two, one, zero, all engine running…”


Eram 9h32 em Cabo Canaveral, 14h32 em Lisboa, quando descolou o foguetão Saturn V com a nave que faria história: Apollo 11. A bordo, três astronautas, confiantes em que pisariam a Lua quatro dias depois.


A gafe faz parte dos registos: Jack King, o chefe de relações públicas responsável pela contagem decrescente da Apollo 11, no momento da descolagem engana-se e diz “Two, one, zero, all engine running” em vez de “engines”, quando o foguetão se chamava Saturn v também pelos cinco motores F1 no primeiro andar – hoje é ainda considerado o mais potente das missões espaciais da NASA. Era quarta-feira, 16 de julho, 9h32 em Cabo Canaveral, 14h32 em Lisboa, quando descolou a missão que faria história: quatro dias depois, como previsto, o homem pisou pela primeira vez a Lua.

Pelas 11h47, os módulos em que viajavam os astronautas separar-se-iam dos propulsores, iniciando a viagem até à órbita lunar, onde a Apollo 11 chegou a 19 de julho. Michael Collins fica no módulo de comando, Columbia, e Buzz Aldrin e Neil Armstrong seguem no módulo lunar Eagle, que pousaria em solo firme às 16h17 (hora na Florida) de 20 de julho.

No kit distribuído à imprensa, um dos documentos disponíveis no site do Lunar Surface Journal onde é possível consultar imagens e transcrições das comunicações das missões Apollo, a aventura é explicada em detalhe. “Se a missão for bem sucedida, o homem vai cumprir o sonho antigo de andar noutro corpo celeste. O primeiro astronauta na superfície da Lua será Armstrong, 38 anos, de Wapakoneta, Ohio, e o seu primeiro ato será revelar uma placa cuja mensagem simboliza a natureza da viagem. Fixada na perna do veículo de alunagem, está assinada pelo Presidente Nixon, Armstrong e os seus companheiros da Apollo 11, Michael Collins e Edwin E. Aldrin. Tem um mapa da Terra e esta inscrição: “Aqui, homens do planeta Terra pisaram pela primeira vez a Lua, julho 1969 d.C. Viemos em paz por toda a humanidade”.

Na edição de 16 de julho de 1969, o Diário de Lisboa descreve os últimos preparativos da “maior aventura de todos os tempos”. Cerca “de mil técnicos trabalharam toda a noite à volta da rampa de lançamento 39-A procedendo a vistorias de última hora no foguetão e na nave espacial, enquanto os três astronautas dormiram durante oito horas, antes de acordarem às 8 e 15 GMT para serem submetidos a um último exame médico”, relata, dando conta de curiosidades como o facto de o Saturno v produzir ruído equivalente a 8 milhões de discos dos Beatles. “A seguir, no programa vinha um almoço de bife com ovos. Depois, quatro horas antes da altura do lançamento, os três astronautas deviam começar com a demorada e árdua tarefa de vestirem os seus fatos espaciais”.

Um milhão de pessoas assistiram no Centro Espacial John F. Kennedy e estima-se que mais de 650 milhões tenham acompanhado as transmissões televisivas. A bordo da Apollo 11 seguiu um disco com mensagens de 73 países, incluindo uma declaração de Américo Tomás. “Os portugueses, descobridores da Terra desconhecida em séculos passados, sabem admirar quem, nos nossos dias, explora o espaço exterior, pondo a Humanidade em contacto com outros mundos”.