Primeiro levaram os toureiros mas eu não me importei com isso


A esquerda sempre tentou negar-nos a liberdade económica, mas é justo reconhecer que desde o 25 de Novembro de 1975 que não nos tentava perseguir pelas nossas opiniões, usos e costumes. No entanto, a velha esquerda, que tinha tanto de combativa como de popular, reinventou-se e decidiu reinventar também o conceito de homem novo que…


Eu nem ligava a touradas. Em seguida levaram alguns caçadores, mas não me importei com isso. Eu também não era caçador. Depois prenderam quem criava gado, mas eu não me importei com isso. Porque eu não crio gado. Depois agarraram uns empresários, porque exploram o povo através da iniciativa privada, mas eu também não me importei porque trabalho por conta de outrem. Logo a seguir chegou a vez de alguns professores de colégios católicos, porque os país não têm direito a escolher em que escola, paga com os seus impostos, metem os filhos, mas eu não me importei porque tinha dinheiro para meter os filhos no privado. Agora levaram-me a mim e, quando percebi, já era tarde.

Esta é uma adaptação livre de um poema falsamente atribuído a Bertolt Brecht, que ao que consta data de 1936 e é originalmente da autoria do poeta brasileiro Eduardo Alves da Costa. Mas isso pouco interessa para o caso. O que realmente importa é que durante muitos anos tem sido usado pela esquerda como símbolo de combate ao autoritarismo. E a esquerda, na poesia, na arte e na propaganda, como bem se sabe, sempre foi muito melhor que a direita.

A esquerda sempre tentou negar-nos a liberdade económica, mas é justo reconhecer que desde o 25 de Novembro de 1975 que não nos tentava perseguir pelas nossas opiniões, usos e costumes. No entanto, a velha esquerda, que tinha tanto de combativa como de popular, reinventou-se e decidiu reinventar também o conceito de homem novo que há tantos e tantos anos nos tenta impor. A esquerda popular morreu e nasceu a esquerda urbano-chique, de iPhone na mão e fato Rosa & Teixeira no corpo. Dadas as suas origens abastadas, esta é uma esquerda mimada: radicalmente infantil nos argumentos e perigosamente autoritária nas tentativas de perseguir e proibir tudo aquilo de que discorda.

O novo homem novo, passe o pleonasmo, é um João Galamba. Nasceu em Lisboa e por isso despreza todos os hábitos e costumes de quem é do interior. Não gosta de corridas de touros, de caça, de pesca e de matanças do porco. Fala do camponês, mas o mais perto que esteve do campo foi no L’and Vineyards; diz defender o operário, mas não faz a mínima ideia do que é uma fábrica. Enche a boca para falar das dificuldades dos outros com a mesma rapidez com que também a enche para jantar no 100 Maneiras, mas sempre foi um privilegiado: filho de gente dos jornais e com ligações políticas (o pai foi diretor comercial do Expresso e braço-
-direito de Pinto Balsemão nos negócios e também na política); pequeno-burguês de berço; ex-aluno de escolas de direita como a Nova SBE e a London School of Business; residente nas Avenidas Novas; antes de ser o anticapitalista de serviço do novo regime era assalariado do Banco Santander de Negócios e, posteriormente, de uma consultora. Inventado por Sócrates e pela sua namorada da altura, naquilo a que no PS se referia à época como a “quota da Câncio”, aparece na cena política nacional à boleia dos blogues e de um novo discurso incendiário. Agora aburguesou-se e regressou às origens na pele de político de Estado.
O radicalismo, presumo, continua a correr-lhe nas veias. Acontece que, com poder, tornou-se ainda mais perigoso.

Esta esquerda cresce à boleia do bom clima económico internacional e de uma direita praticamente moribunda. Enquanto isso, começa a impor-nos, a seu bel-prazer, a sua forma de vida. Uma forma de vida com que, acredito, muitos dos seus eleitores nem sequer concordam, mas que dá de barato em troca de um Estado supostamente mais generoso. Acontece que esta esquerda, injetada com bombas de adrenalina do Bloco, PCP e PAN, começa a tornar-se cada vez mais perigosa. Talvez seja altura dos não marxistas se reorganizarem e passarem a estar atentos. Do que estamos à espera? Que nos levem a nós?

 

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Primeiro levaram os toureiros mas eu não me importei com isso


A esquerda sempre tentou negar-nos a liberdade económica, mas é justo reconhecer que desde o 25 de Novembro de 1975 que não nos tentava perseguir pelas nossas opiniões, usos e costumes. No entanto, a velha esquerda, que tinha tanto de combativa como de popular, reinventou-se e decidiu reinventar também o conceito de homem novo que…


Eu nem ligava a touradas. Em seguida levaram alguns caçadores, mas não me importei com isso. Eu também não era caçador. Depois prenderam quem criava gado, mas eu não me importei com isso. Porque eu não crio gado. Depois agarraram uns empresários, porque exploram o povo através da iniciativa privada, mas eu também não me importei porque trabalho por conta de outrem. Logo a seguir chegou a vez de alguns professores de colégios católicos, porque os país não têm direito a escolher em que escola, paga com os seus impostos, metem os filhos, mas eu não me importei porque tinha dinheiro para meter os filhos no privado. Agora levaram-me a mim e, quando percebi, já era tarde.

Esta é uma adaptação livre de um poema falsamente atribuído a Bertolt Brecht, que ao que consta data de 1936 e é originalmente da autoria do poeta brasileiro Eduardo Alves da Costa. Mas isso pouco interessa para o caso. O que realmente importa é que durante muitos anos tem sido usado pela esquerda como símbolo de combate ao autoritarismo. E a esquerda, na poesia, na arte e na propaganda, como bem se sabe, sempre foi muito melhor que a direita.

A esquerda sempre tentou negar-nos a liberdade económica, mas é justo reconhecer que desde o 25 de Novembro de 1975 que não nos tentava perseguir pelas nossas opiniões, usos e costumes. No entanto, a velha esquerda, que tinha tanto de combativa como de popular, reinventou-se e decidiu reinventar também o conceito de homem novo que há tantos e tantos anos nos tenta impor. A esquerda popular morreu e nasceu a esquerda urbano-chique, de iPhone na mão e fato Rosa & Teixeira no corpo. Dadas as suas origens abastadas, esta é uma esquerda mimada: radicalmente infantil nos argumentos e perigosamente autoritária nas tentativas de perseguir e proibir tudo aquilo de que discorda.

O novo homem novo, passe o pleonasmo, é um João Galamba. Nasceu em Lisboa e por isso despreza todos os hábitos e costumes de quem é do interior. Não gosta de corridas de touros, de caça, de pesca e de matanças do porco. Fala do camponês, mas o mais perto que esteve do campo foi no L’and Vineyards; diz defender o operário, mas não faz a mínima ideia do que é uma fábrica. Enche a boca para falar das dificuldades dos outros com a mesma rapidez com que também a enche para jantar no 100 Maneiras, mas sempre foi um privilegiado: filho de gente dos jornais e com ligações políticas (o pai foi diretor comercial do Expresso e braço-
-direito de Pinto Balsemão nos negócios e também na política); pequeno-burguês de berço; ex-aluno de escolas de direita como a Nova SBE e a London School of Business; residente nas Avenidas Novas; antes de ser o anticapitalista de serviço do novo regime era assalariado do Banco Santander de Negócios e, posteriormente, de uma consultora. Inventado por Sócrates e pela sua namorada da altura, naquilo a que no PS se referia à época como a “quota da Câncio”, aparece na cena política nacional à boleia dos blogues e de um novo discurso incendiário. Agora aburguesou-se e regressou às origens na pele de político de Estado.
O radicalismo, presumo, continua a correr-lhe nas veias. Acontece que, com poder, tornou-se ainda mais perigoso.

Esta esquerda cresce à boleia do bom clima económico internacional e de uma direita praticamente moribunda. Enquanto isso, começa a impor-nos, a seu bel-prazer, a sua forma de vida. Uma forma de vida com que, acredito, muitos dos seus eleitores nem sequer concordam, mas que dá de barato em troca de um Estado supostamente mais generoso. Acontece que esta esquerda, injetada com bombas de adrenalina do Bloco, PCP e PAN, começa a tornar-se cada vez mais perigosa. Talvez seja altura dos não marxistas se reorganizarem e passarem a estar atentos. Do que estamos à espera? Que nos levem a nós?

 

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