Partido procura Governo. Dão-se referências


Partidos vai havendo, Governo também; partidos no Governo, menos.


No próximo ano celebrar-se-ão em Portugal 45 anos de eleições livres. Os sucessivos actos eleitorais levaram até São Bento PS, PSD, CDS, PCP, Verdes, BE, PAN e também os hoje já não representados MDP-CDE, UDP, ADIM (Associação para a Defesa dos Interesses de Macau), PRD e PSN. O sistema eleitoral proporcional, combinado com a magreza populacional dos círculos eleitorais do interior do país, tem dado origem a um sistema partidário pouco atomizado. Ainda menor diversidade se tem sentido à mesa do Governo, onde só se sentaram PS, PSD e CDS (e, por via do artifício da coligação, o PPM, que nunca elegeu sozinho qualquer deputado). A invenção da geringonça não alargou o pódio das presenças no Governo.

Lendo as sondagens disponíveis, o quadro partidário a sair das eleições de 6 de Outubro reforçará a atomização, com o PAN a abandonar a monodeputação e a Aliança e o Chega (ou Basta ou o que for que sobre) a estrearem cadeira(s) em São Bento. Mesmo com o aumento da biodiversidade partidária com assento parlamentar, não é provável que aumente o número de partidos que integrarão Governos saídos de processos eleitorais posteriores ao 25 de Abril.

A tradição lusitana das coligações partidárias divide-se ao meio entre as antecipadamente assumidas, de matriz pré-eleitoral, e as de conveniência, comunicadas aos portugueses depois de consumado o acto eleitoral. A publicidade pré-eleitoral das coligações (AD, FRS, APU, CDU, PàF) só garantiu a chegada ao Governo da primeira. Já as coligações pós-eleitorais deram origem a cinco Governos: uma entre o PS e o CDS (sete meses de conúbio em 1978), o bloco central entre PS e PSD (1983-1985) e três entre o PSD e o CDS (2002-2004 Barroso-Portas, 2004-2005 Santana-Portas e 2011-2015 Passos-Portas). Para as eleições de 2019, só a CDU anuncia uma coligação; os restantes partidos arriscam o solo.

O PS enquanto partido mais votado poderá viver à sombra de uma geringonça bis, sem papel passado e assente num acordo parlamentar com o PAN. Ou poderá continuar a fazer acordos à esquerda e à direita para aprovar medidas em concreto, jogando com o medo de eleições antecipadas por parte dos restantes partidos e procurando capitalizar eleitoralmente uma qualquer futura nega parlamentar que leve o primeiro-ministro a demitir-se. Na busca do melhor resultado eleitoral possível, o PS não tem qualquer interesse em anunciar já uma entrada do BE num futuro Governo. António Costa já explicou que “não dá para casar”, Carlos César declarou que os bloquistas padecem de prodigalidade, daquela que dá origem a bancarrotas e resgates.

O PCP nunca mostrou apetência por integrar qualquer Governo saído de eleições, incluindo as de 2015. Não será a perspectiva de um mau resultado eleitoral em Outubro que afastará esta preferência por uma vida eremítica.

Já o Bloco está apostado numa ida para o Governo. Pretende mostrar aos eleitores os sucessos da geringonça, carimbando-os como seus, multiplicando as reivindicações dos diversos sindicatos da função pública. Ao fazê-lo, torna cada vez mais cara, quer do ponto de vista político quer do ponto de vista orçamental, uma qualquer entrada para um futuro Governo. E torna o PS mais atraente para o centro-direita, abandonado pela deriva de Rio.

O líder do PSD será o único adepto de um regresso do bloco central. Fá-lo num contexto em que, por via da coligação ou do acordo parlamentar, todos os partidos pretendem governar com o PS. As coligações são fruto da necessidade e pelo Largo do Rato não havia e não se adivinha que venha a haver.

 

Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990