Mas vamos lá a ver uma coisa: então agora são os galgos que também já não podem correr? Logo os galgos, que têm como característica principal da sua raça serem corredores natos? Lamento se com o que agora vou escrever ofendo alguém porque, de facto, não é genuinamente a minha intenção, mas ao ter lido a notícia de a Cruz Vermelha Portuguesa ter cancelado a sua ligação a uma corrida de galgos por pressão sei lá de quem, o que questiono é até quando vamos ter de andar a aturar estas patetices? E aqui, a patetice, lamento, não esteve apenas nos que classificaram a corrida de galgos como uma atividade bárbara.
Pateta foi também a Cruz Vermelha Portuguesa na pessoa do seu presidente, Francisco George, pessoa, aliás, que sem conhecer de lado nenhum, ainda assim sempre me pareceu ser equilibrada, de bom senso e blindada a pressões de qualquer natureza, tendo agora cedido às mesmas. Tanto quanto julgo saber, a Cruz Vermelha Portuguesa é uma instituição humanitária não governamental, do espetro do chamado interesse público e, sobretudo, com caráter voluntário. Tem, ao longo de décadas, sido um nome de renome no auxílio a problemas que deveria o Estado resolver e não consegue. Presta um nobre serviço à sociedade e ajuda em áreas em que o dinheiro, por muito que seja, nunca é demais.
Então, havendo uma qualquer iniciativa, no caso, uma corrida de cães que não é mais que uma prática desportiva nacional e internacional, cujo objetivo primordial seria angariar fundos para a própria Cruz Vermelha Portuguesa, esta cancela a parceria que tinha com o evento porque não sei quem veio dizer que uma corrida de galgos atenta contra os valores da instituição? Para mim, parece-me mais atentatório dos valores da instituição esta ter desaproveitado mais uma fonte de receita que certamente poderia melhorar a vida de muitas pessoas em dificuldades.
Onde vai parar Portugal com tanta parvoíce? Será que está mesmo tudo doido? Ou será que, não estando tudo doido, os que não estejam acabam por ceder aos que eventualmente possam estar? Digam-me lá uma coisa para eu saber o que fazer da minha vida: no próximo fim de semana estava a pensar organizar um concurso de pesca para fins caritativos. Até já tenho o porco no espeto apalavrado para o almoço dos participantes.
Chichinha da boa, como diria um ex-primeiro-ministro português. Posso avançar com o evento ou é melhor não o fazer porque, na vil e bárbara prática da pesca, o asticot, após ser crucificado em anzol, é posteriormente morto por afogamento? Tenham lá juízo, se faz favor. E quanto a alguns, façam alguma coisa pelo país e, sobretudo – friso, sobretudo –, pelas pessoas. Ou então, já que até ao momento, que saiba, ainda nada fizeram, pelo menos não impeçam quem o quer fazer de consegui-lo. Tenham vergonha na cara.