Os bloquistas não gostaram de ouvir as críticas do presidente do PS e muito menos “a violência com que foram feitas”. José Gusmão, dirigente do Bloco de Esquerda e eurodeputado, considera que Carlos César “pretende estilhaçar esta solução política e destruir quaisquer hipóteses de alcançar entendimentos futuros”.
As jornadas parlamentares do PS, na segunda e terça-feira, em Viseu, ficaram marcadas pelas críticas do líder parlamentar aos parceiros de coligação. Carlos César, na resposta ao BE sobre a discussão à volta das taxas moderadoras, afirmou que se o PS fosse “sempre atrás do BE” o país voltaria “ao tempo da bancarrota”. No segundo dia das jornadas, o líder parlamentar pediu uma votação expressiva para que o PS possa libertar-se dos “bloqueios”, “constantes dificuldades” e “inércias”. E voltou a referir que os socialistas não permitiram “aventuras orçamentais que levariam ao colapso e à desconfiança internacional”.
Ao i, José Gusmão lamenta que o presidente do PS tenha resolvido “recauchutar o argumentário da direita para o atirar contra a solução política que construímos ao longo destes anos”.
Apesar da “violência” das críticas, Gusmão garante que os bloquistas continuam a “valorizar o caminho que foi feito” e estão disponíveis para levar “esse caminho” mais longe. “Continuamos empenhados em encontrar soluções que defendam os direitos do trabalho, que fortaleçam os serviços públicos e o Estado Social”, diz.
COSTA ignora geringonça António Costa encerrou as jornadas parlamentares, mas, desta vez, preferiu ignorar o futuro da geringonça. Podia ter aproveitado para aliviar o clima de tensão criado por Carlos César, mas não o fez.
O discurso do secretário-geral, ao contrário do que aconteceu no passado, limitou-se a constatar que “valeu a pena” e que o Governo conseguiu “corrigir grandes défices acumulados nos quatro anos da legislatura anterior, como, por exemplo, no Serviço Nacional de Saúde”.
Não é preciso recuar muito para ouvir António Costa a defender a continuidade da gerigonça. Nas jornadas parlamentares, em julho de 2018, no distrito de Beja, António Costa garantiu que “está bem acompanhado” e “não deseja mudar de companhia”. Nessa altura, o primeiro-ministro garantia que a geringonça está “no coração dos portugueses”.
Uma boa parte da intervenção, que durou cerca de meia hora, foi destinada a destacar as medidas de um Governo “focado no futuro de Portugal e dos portugueses”. António Costa pediu, porém, “humildade” aos socialistas para os próximos combates eleitorais e reconheceu que há muitos problemas no país por resolver. “Não temos a inconsciência de achar que vivemos num mar de rosas”, declarou o primeiro-ministro, na qualidade de secretário-geral socialista.
OTIMISMO IRRITANTE O PSD foi poupado no discurso de António Costa. A única referência aos sociais-democratas foi feita quando lembrou que Pedro Passos Coelho andava com “um Ipad na mão sempre a dizer que vinha aí o Diabo e um novo regaste financeiro”. Assim, o tiro da crítica não foi para o atual líder social-democrata, Rui Rio, mas para o seu antecessor.
Marcelo Rebelo de Sousa também não escapou a uma indireta. “Alguns achavam até que era tanto otimismo que era até um otimismo irritante”, disse Costa, garantindo que o PS tem “orgulho” no trabalho desenvolvido no Governo e “muita vontade de lhe dar continuidade”. O primeiro-ministro referia-se a uma afirmação do Presidente da República feita há mais de três anos. Marcelo disse, nessa altura, que António Costa sofria de um “otimismo crónico e às vezes ligeiramente irritante”.
O maior elogio foi para Ferro Rodrigues numa altura em que têm sido publicadas notícias de que Carlos César tem a ambição de ocupar o cargo de presidente da Assembleia da República na próxima legislatura. António Costa elogiou o atual presidente do parlamento pela forma “exemplar como tem exercido as funções”.
“Se é verdade ue tivemos a ajuda do PEV, do BE e do PCP para cimentar a recuperação social, tivemos por outro lado a difícil e bem–sucedida missão de recuperar a confiança, de recuperar a economia, de equilibrar as finanças públicas, não permitindo aventuras orçamentais que nos levariam ao colapso e à desconfiança internacional” Carlos César presidente e líder parlamentar do ps, no segundo dia das jornadas parlamentares “Se fôssemos sempre atrás do estilo de aventura, de que tudo é fácil, que tudo é barato e tudo pode ser feito – que o Bloco de Esquerda em especial, mas também alguns dos nossos parceiros alimentam frequentemente – tínhamos um país com uma mão à frente e outra atrás de novo e voltávamos ao tempo da bancarrota” Carlos César presidente e líder parlamentar do ps, no arranque das jornadas parlamentares“Se é verdade ue tivemos a ajuda do PEV, do BE e do PCP para cimentar a recuperação social, tivemos por outro lado a difícil e bem–sucedida missão de recuperar a confiança, de recuperar a economia, de equilibrar as finanças públicas, não permitindo aventuras orçamentais que nos levariam ao colapso e à desconfiança internacional”