Em agosto de 2017 chamei à transferência de Neymar do Barcelona para o Paris Saint-Germain “a mais obscena da história”. Julgo não ser uma expressão demasiado forte para uma operação que envolveu a quantia de 222 milhões de euros.
Cerca de dois anos depois, a cotação do jogador brasileiro de 27 anos está em queda livre. Nesta última época, participou apenas em 17 dos 38 jogos para o campeonato francês, passando a maior parte do tempo fustigado por lesões. E, ao que parece, não tem contribuído para o melhor ambiente no balneário: uma discussão com o seu colega Draxler só não resultou em pancadaria porque o treinador se meteu pelo meio. O jornal catalão Sport fala em “divórcio” e garante que o jogador e o clube estão de costas voltadas.
Mais ou menos por esta altura fala-se também da transferência de uma certa pérola do Seixal para um colosso do futebol europeu. Segundo a imprensa desportiva, há mesmo três emblemas interessados e dispostos a pagar 120 milhões de euros por João Félix. Alguns adeptos dos encarnados ufanam-se – “120 milhões!!!”. Estranhamente, muitos ficam mais entusiasmados com uma grande venda do que com a permanência no clube do seu jogador favorito, esquecendo-se talvez de que eles não irão receber nem um cêntimo de comissão…
Como é possível que se tenha chegado a este nível de desvario em que se pagam 120 milhões por um jogador que promete tanto mas ainda provou muito pouco?
Como é que ninguém percebe que estas somas obscenas prejudicam o desporto e só beneficiam os dirigentes, os agentes e os enxames de oportunistas que gravitam à sua volta?
Pior ainda: não é apenas o futebol que perde. Hoje, em vez de quererem ser polícias, bombeiros, músicos, artistas, médicos, arquitetos ou Presidentes da República, os miúdos querem ser Ronaldos ou Neymars, porque não precisaram de estudar para ganhar milhões, podem comprar tudo o que lhes der na gana e têm cortes de cabelo que não lembram ao diabo.