Que a política é uma área de atividade em que muitas vezes a fronteira entre a verdade e o seu contrário é ténue, já todos o sabemos. Que a política nacional sofre, no seu geral, da elevação desta circunstância ao seu expoente máximo, muito menos nos surpreende. Agora, o que acabo de escrever é uma coisa; outra, bem distinta, é a política ou algumas forças políticas serem quase puramente anedóticas. Diria mesmo apenas e só ridículas. O PAN é, quanto a mim, a mais fidedigna ilustração do que acabo de dizer. Por vários motivos. Primeiro, porque é um partido que, no seu fundamental, não é ecologista coisa nenhuma como quer fazer passar.
É sim, fundamentalmente, um partido animalista. Logo, aqui abomino visceralmente o PAN. Por uma lógica simples, ainda que saiba de antemão que o que vou escrever vai já dar pano para mangas. É minha opinião e, se necessário, sustento-a juridicamente com os argumentos que considero legítimos para tal efeito, que os animais pura e simplesmente não têm direitos. E não têm direitos desde logo porque não têm deveres. Um animal não vota; um animal não paga impostos; um animal não tem uma relação com um outro animal nos moldes que se exigem a um ser humano ter para com o seu semelhante.
Se um animal maltratar uma cria, ninguém o pode punir por ofensas à integridade física como se pune um pai ou uma mãe que agride um filho. Se um leão comer uma gazela, ninguém o vai punir por homicídio e muito menos por profanação de cadáver. Um animal é um animal. Um ser humano é, não só pelo seu desenvolvimento mental como pelas condutas de dever e moral que a si e aos seus semelhantes se impõem, um ser em tudo superior aos animais. Deixem-se de tretas. Quem não vir isto está doente. Portanto, esta moda (que não passa apenas disso mesmo) dos direitos dos animais é apenas e só uma pantomina. Houve a moda dos Tamagotchi, depois houve a dos Pokémons, agora há a dos direitos dos animais. Só lamento, repetindo o que já noutros momentos tenho dito, que os partidos, não conseguindo solucionar os problemas dos seres humanos, ocupem o seu tempo a querer solucionar os dos bichos.
Mais, problemas esses dos bichos que só existem porque nestas cabeças são criados. É só triste. Uma triste vida. Ou melhor, uma triste noção do que é a vida. Como pode alguém assistir a um partido que quer alterar todos os provérbios populares em que entrem animais sem que a única vontade que tenha seja imediatamente a de se começar a rir? O PAN não é um partido que defende as suas ideias. O PAN é um partido extremista que quer impor aos outros as suas ideias. Os seus disparates, na verdade. Leiam o programa do PAN e vejam efetivamente o que está em causa. É tudo para proibir. De resto, o resultado destas europeias, que por todos tem sido apelidado de extraordinário, além de não o ser, só acontece porque as pessoas, infelizmente, não sabem exatamente o que são os partidos políticos.
Por outro lado, e aqui com experiência vivida pessoalmente, porque já tive oportunidade de ter um singelo debate com André Silva num programa em que foi para lá defender a entrada dos animais nos restaurantes, fiquei ainda mais desapontado com o seu perfil. Digo isto porque acreditava que, pesem embora as suas, por mim consideradas, tresloucadas posições, fosse um opositor de discussão articulado e até de difícil contraditório. Saí de lá convencido do oposto. Foi até confrangedor. Lembro-me de o próprio ter defendido qualquer coisa parecida com a criação de um sistema de cuidados veterinários pago pelo Estado para os animais de pessoas carenciadas mas, quando o confrontei se não seria melhor canalizar essas verbas para que as pessoas carenciadas pudessem, elas sim, ter cuidados médicos adequados quando não os pudessem suportar, a resposta que obtive de André Silva foi “ isso é demagogia”.
Penso que está tudo dito. Ora este André Silva é o mesmo que afirmou, brindando-nos a todos com uma declaração de luxo, que “há características mais humanas num chimpanzé ou num cão do que numa pessoa em coma”. Digam lá se isto não é uma verdadeira pérola do humor? Sim senhor, que maravilha. Eu, cá por mim, vejo as coisas de outra forma. Não sei se há características mais humanas num chimpanzé ou num cão do que numa pessoa em coma. Mas arrisco dizer que é capaz de haver chimpanzés em coma mais inteligentes que alguns seres humanos no seu estado normal. É a minha sensação. Se não se pode levar a mal a primeira visão, desculpem lá mas que também ninguém leve a mal a segunda.
Escreve à sexta-feira